|SETH DONSON|
- AGORA -
É muito fácil dizer que uma pessoa morreu, quando você sabe que ela nunca mais vai voltar.
Mas, e quando ela aparece na sua frente no momento em que você menos esperava? Você explode ela? Porque isso é tudo o que eu quero fazer com Breeze Wills.
Porém, como não compactuo com atos de terrorismo, eu a mando embora novamente?
Choro?
Abraço?
Pergunto onde ela esteve?
Pergunto se ela sentiu saudade?
Se foi difícil ficar muito tempo longe?
Conto tudo o que precisei aprender depois que ela se foi?
Aliás, será que ela achou que eu guardaria o lugar dela na minha vida? Porque eu guardei e se ela me pedir para voltar, eu não pensaria duas vezes para aceitá-la de volta.
Só que isso não vai acontecer, porque ela não deveria estar aqui.
Breeze fez uma escolha há treze anos e agora eu já fiz a minha.
— Seth, você precisa se acalmar, tem certeza que era ela? — Melinda acaricia minhas costas para me tranquilizar e fazer com que, assim, eu volte para a cama, mas é um gesto em vão.
— Claro que tenho certeza que era ela. Só quero saber que raios ela estava fazendo com a Dess e, por que essa garota estava fora de casa nessa hora. Eu quero ela de castigo por uma semana, mãe. Nada menos que isso — disparo como uma flecha, fazendo minha mãe balançar a cabeça em consentimento. — Breeze não pode ter voltado, não pode mesmo. O que ela quer aqui? Eu vou atrás dela — Me levanto de súbito, vestindo uma camiseta novamente.
Minha mãe me barra na soleira da porta.
— Seth, você precisa respirar. São três da madrugada. Você precisa dormir. Amanhã é um dia importante no colégio e você precisa estar bem. Se Breeze estiver querendo se reaproximar...
— Ela não vai — concluo. — Ela não tem o direito de simplesmente voltar e achar que não vou fazer nada. Breeze deveria estar morta.
— Por Deus, olha o que está falando, querido. Não vai conseguir nada assim. Se ela apareceu é porque... — As palavras faltam nos lábios dela, mostrando claramente que estou certo.
Breeze não deveria estar aqui e não existe justificativa para isso.
— Ela não pode voltar, mãe. Não tem esse direito, ela sabe que não tem — brado saindo para a sacada do quarto, com medo de que, por mais que o quarto de Dess fique do outro lado do corredor, ela consiga ouvir o nosso diálogo.
Esse é o poder que Breeze tem. Me tirar do sério com sua simples presença. Temi que um dia ela fosse voltar, ao mesmo tempo que, tive medo que estivesse realmente morta.
Jamais torci pela segunda opção, mas não vou permitir que Breeze se reaproxime de mim, de Dess, da p***a da cidade que tem ela em cada esquina, por mais que já tenha se passado treze anos.
Não temos mais dezoito anos e não é possível que ela acha que pode simplesmente voltar da mesma forma que se foi.
Achei que nem me lembrava mais dos olhos, dos lábios, do formato delicado do rosto, da franja cobrindo a testa, do maldito cheiro cítrico do perfume dela. É surreal parecer que eu a perdi ontem, porque tudo ainda está perfeitamente fresco na minha memória.
Falhei miseravelmente. Fiquei anos tentando esquecê-la e realmente fui bom em fingir que consegui, mas é sempre assim, Breeze aparece como um redemoinho e despedaça tudo o que eu achei ter construído.
Foi muito fácil comprar a mentira que ela mesma criou, quando deu as costas e nem se preocupou com um adeus decente.
Dizer que Breeze morreu é fácil, quando tudo o que eu sinto por ela é ódio.
Meu relacionamento com a minha filha já está indo de m*l a pior, o que menos preciso agora, é ter que lidar com um fantasma do meu passado.
Breeze não pode aparecer na minha vida sem uma explicação. Da última vez, anos atrás, quando ela apareceu na minha porta e eu a deixei entrar, minha vida nunca mais foi a mesma, até hoje.