O contraste dos Mundos.

750 Words
Isabela. Eu já sabia que essa mudança não seria fácil. Mas nunca pensei que também fosse ser tão difícil. Ainda estou buscando uma forma de lidar com o que está acontecendo, e tudo o que eu não precisava era de um caminhão emperrado no meio do caminhando, impedindo os moradores de circularem. Estar aqui, já era assustador demais por si só. Mas parece que avida não anda querendo facilitar as coisas para o meu lado. Prova disso é esse momento. Se eu já estava em choque antes de chegar, agora, me sinto quase paralisada. A voz, grave e pesada entra em mim como um alerta. O olhar dele era pesado. Pide sentir o arrepio crescer dentro do meu corpo. Por alguns instantes, o meu mundo para nele. Eu ainda não sei descrever o que eu via ali, mas sabia que não podia ser algo bom. Quando cheguei na favela, minha impressão foi o choque de cores, sons e cheiros. Era como um caos vibrante e assustadoramente real. Eu m*l cheguei e ja vi que a vida aqui andava de forma diferente. Tinha peso, mesmo em meio aos sorrisos. Crianças correndo, pessoas olhando para todos os lados e outras apenas seguindo o seu próprio percurso sem se preocupar com os caras parados da entrada da favela fiscalizando quem entra e quem sai. Depois que a herança da minha família se dissipou em dívidas e investimentos furados, o jeito foi aceitar a ajuda de uma tia distante que ofereceu um quartinho no fundo de sua casa no morro. Para mim que cresci em um apartamentos com portaria e fins de semana em clubes, era como ser transplantada para outro planeta. Não tinha nada de conhecido nesse lugar! Eu havia mesmo sido transportada para outro mundo. A vergonha da situação era esmagadora, mas a necessidade de sobreviver falava mais alto. Quando o caminhão finalmente parou, travado na rua estreita, senti o peso do mundo desabar sobre os ombros. Aos 20 anos, sempre protegida, de repente me vi responsável por tudo, sem ter ideia de como começar. Quando sua voz chegou até mim, um arrepio surgiu. O homem à minha frente era imponente. Alto, forte, com um olhar que parecia ver através de mim. Suas roupas escuras e a postura fechada denunciavam algo perigoso, mas havia também uma intensidade nos seus olhos ainda não decifrada. Algo nele me aterrorizava na mesma medida em que me instigava. — Sim, estamos com um problema aqui – finalmente consigo recuperar a voz. — O caminhão não consegue virar. Com um olhar rápido percebo ele avaliar a situação. Ele não precisa de muito tempo. — Volta lá para dentro – sua voz grave bate mais uma vez em meus ouvidos. Dessa vez ele fala com o manobrista que logo volta a ocupar seu lugar atrás do volante. O homem que me trouxe até aqui não fez qualquer tipo de questionamento ao cara que acabou de chegar. Com uma série de comandos secos e precisos, ele começou a orientar a manobra, usando a força para empurrar o caixote que estava impedindo a passagem. Eu poderia ater ficado surpresa com sua força, se eu já não tivesse assustada o bastante. Fiquei observando a forma na qual ele se movia. A autoridade que emanava dele era quase fascinante. Ele não pedia, ele mandava, e as pessoas ao redor pareciam obedecer sem questionar. Em poucos minutos, o caminhão, que antes parecia estar ali para sempre, estava finalmente posicionado. Sem dizer uma palavra, ele apenas acenou com a cabeça para o motorista e se virou para ir embora. — Ei! - digo chamando sua atenção. Mesmo parando, ele não se virou completamente. Apenas lançou um olhar por cima do ombro. Quase me arrependi de o ter chamado. Ele não parecia nada feliz, mas não podia deixar que ele sem fosse sem agradecê-lo. — Obrigada. Muito obrigada mesmo. Enquanto me encarava, aqueles olhos que até segundo atrás carregava apenas frieza, adquiriu um brilho diferente, quase que de surpresa. — Cuidado por aqui - ele disse, a voz mais suave do que eu esperava. E então, sem mais uma palavra, ele seguiu seu caminho, sumindo entre as vielas, me deixando ali, em meio às caixas e à minha nova realidade, e com a imagem daquele cara misterioso gravada na mente. Não sabia quem ele era, nem o que ele representava, mas no caos em que me encontro, ele tinha sido minha primeira ajuda, e a visão dele havia despertado uma curiosidade que eu esperava sentir.
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