Acordos

914 Words
Depois que Estéfano saiu, Helena organizou a cozinha e voltou a se sentar na sala. Era verdade que quase não dormira nos últimos dois dias, mas não tinha coragem de se deitar no quarto dele. Desejava com todas as forças que ele passasse mais uma noite longe de casa. Não queria que a tocasse, mas via o desejo contido nos olhos dele. Sabia que não tinha para onde fugir, nem a quem pedir socorro. Estava perdida em seus pensamentos quando ouviu os passos de Estéfano. Ele estava de volta. Percebeu quando ele passou direto para o quarto e, alguns minutos depois, reapareceu com os cabelos molhados, indicando que havia saído do banho. Já passavam das 23h. Helena estava de pé, encostada na parede, os grandes olhos verdes brilhando por causa das lágrimas. Os dois ficaram ali, parados. A atmosfera entre eles parecia superaquecida. Estéfano, tomado pelo desejo que guardara durante meses, enquanto Helena exalava medo por todos os poros. Ele sabia o que sua presença despertava na mulher que agora era sua esposa. Era um homem acostumado a inspirar medo, seus inimigos o temiam e nem mesmo as mulheres o cobiçavam. Quem nunca recebeu carinho, também não sabe oferecer. As poucas que passaram por sua cama nunca voltaram. Foi ele quem quebrou o silêncio. — Está tarde. Vamos para a cama. A mesma rouquidão estava lá. Não esperou resposta. Simplesmente se virou e subiu as escadas, certo de que seria obedecido. Helena realmente pensou em se sentar na sala e permanecer ali, mas as lembranças de Otávio a fizeram lembrar o que acontecia quando não obedecia. As sur.ras eram piore.s e o que ele a obrigava a fazer na cama, também. Então, Helena seguiu Estéfano. Entrou no quarto com os olhos cheios d’água, o corpo tomado por calafrios. Daria tudo para nunca mais ser tocada por um homem. Sentou-se na beira da cama e esperou. Estéfano ajoelhou-se à sua frente. Mesmo assim, continuava imponente, uma muralha diante de Helena. Agarrou sua cintura e colou o nariz no pescoço dela, depois deslizou até os cabelos. Helena começou a chorar e a tremer violentamente. Quando percebeu, Estéfano parou imediatamente. — Tenho mil defeitos, mas não forço mulheres. Helena, que tremia, passou a chorar copiosamente. Então, num acesso de fúria, começou a esmurrá-lo. — Não foi para isso que forjou esse casamento? Para me obrigar a dormir com você?! — Não, não foi. Te desejei desde o primeiro minuto que te vi, mas nunca obriguei uma mulher a me aceitar. Nem mesmo as pros.titutas com quem me deitei. Quando uma delas dizia não, era não. Apesar disso, Helena continuou a socá-lo e, não satisfeita, lhe deu uma bof.etada no rosto. Toda a tensão que guardara nos últimos três anos se libertou ali. Imediatamente, o clima ficou tenso. Ela percebeu a besteira que fizera e se encolheu contra a cabeceira da cama. Mesmo em seu acesso de raiva, sabia que homens como ele não recebiam uma bofetada e deixavam para lá. — Mas que dro.ga! Ficou louca? Estéfano avançou um passo. — Por muito menos já m.atei homens com o dobro do seu tamanho. Sem usar uma arma sequer. Nunca mais faça isso. Tá me ouvindo? Helena apenas balançou a cabeça em aceitação. Ele estava tenso, furioso. Deu um passo na direção dela, mas, de repente, parou bruscamente. Pegou o criado-mudo e o arremessou contra o espelho. O barulho foi ensurdecedor. Em seguida, pegou a televisão e a jogou contra a parede. Diante disso, Helena se levantou e correu para a porta, mas Estéfano a alcançou e a virou bruscamente contra ele. — Você me ataca... e depois corre? A respiração dele estava pesada. — Cadê sua coragem agora? Ele grunhiu, segurando-a firme. — Ou eu quebrava os móveis, ou quebrava você. A voz dele saiu baixa, carregada de fúria. — Tá me ouvindo? Responda! — Sim. — Por quê? — Não sei! — Helena gritou, as lágrimas escorrendo. — Acho que queria que você me mat.asse! O desespero transbordava da sua voz. — Seria melhor do que viver o pesadelo que vivi com Otávio novamente. Ela respirou ofegante. — Não suporto a ideia de ser viole.ntada, espan.cada e sodomizad.a mais uma vez. Estéfano ficou estático. Por um instante, apenas a olhou. Então, num gesto que ele mesmo não compreendeu, a abraçou. Helena ficou paralisada. Estéfano nunca abraçara uma mulher antes. E, ali, se arrependeu de ter matado Otávio rapidamente. Ele merecia ter morrido aos poucos pelo que fez a Helena. Respirou fundo e esperou ela se acalmar. — Nesta casa, nunca sofrerá nada desse tipo. — Dou minha palavra. Helena não disse nada. — Mas quero lealdade em troca. E a promessa de que nunca mais vai se atrever a me esbo.fetear. Ele a encarou. — Temos um acordo? — Temos. — Tem mais uma coisa. Ela o olhou, apreensiva, esperando o pior. Teria que se entregar a ele? — Te quero toda noite dormindo ao meu lado. Helena se preparou para negar, mas a expressão dele não permitiu. — Só dormir, Helena. Ainda não estou pedindo nada mais do que isso. Ela respirou fundo. — Ok. Temos um acordo. Só dormir. Ele assentiu. — Só dormir, pequena. E começamos isso hoje. Quando se deitaram, Helena manteve a guarda alta, mas logo o cansaço extremo a venceu. Dormiu ao lado do homem que agora era seu marido, com quem havia feito um acordo, que esperava ser cumprido pelo bem do seu corpo e de sua sanidade mental.
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