4

1136 Words
Carmen ficou os três primeiros tempos com a cabeça baixa e os fones no ouvido, do outro lado da sala Marina a observava, diferente dos outros dias, aliás, diferente dos dois últimos anos, Carmen se sentou no canto da sala, completamente isolada, não estava prestando atenção na aula, nem quando a sala se tornou um caos na aula de inglês onde todos zuavam o professor Tobias. Ou quando a professora de História estava dando instruções sobre uma prova na sexta-feira. Marina não tinha ideia do motivo pelo qual Carmen estava tão quieta. Na verdade não tinha ideia do porquê estava se importando com Carmen, a garota nunca tinha lhe atraído nenhum tipo de atenção, nunca se preocupou em saber seu nome - sabia por já ter ouvido na hora da chamada - mas Carmen nunca foi o tipo de garota que Marina levava para um dos boxes no banheiro, ou que ficava atrás da escola. Porém desde ontem quando a garota caiu no corredor interrompendo seu momento a sóis cm Ray, justo quando as coisas estavam esquentando, e quando se trombaram na rua, Mari não conseguiu tirar aquele olhar de sua mente. Voltou para casa e pensou naquela garota pequena e frágil a noite inteira. Pensou em seu olhar quase vazio, de um n***o profundo que ao encará-la, era como se Marina estivesse caindo em um buraco n***o, no qual ela não conseguisse mexer seu corpo, não conseguisse pensar direito, mas sabia que algo de diferente nela tinha lhe causado aquele aperto no estômago, como se ela tivesse comido pedras no jantar e não estavisse aguentando o peso. E ali estava ela encarando Carmen do outro lado da sala, seus cachos estavam caídos por todo seu rosto e seu corpo estava muito coberto para um dia quente como esse. " Concorda com o que a gente acabou de falar Mari? "- Gabe perguntou e me voltei para meus amigos que estavam me encarando com uma expressão de "Q" em suas faces. " Concordo claro," murmurei encarando meus dedos "com o quê exatamente eu concordo?!" "Eu sabia que não estava prestando atenção " Lari a ruivinha que possuia uma quantidade grande de sardas afirmou levando a mão ao queixo em sinal de desconfiança. "Eu só viajei aqui galera" menti ainda encarando meus dedos "e então do que estavam falando?" Sua desculpa não tinha sido boa o suficiente mas Gabe continuou a conversa como se nada tivesse acontecido, ele tinha esse poder de livra-la de algumas explicações públicas, mas ela não escaparia dele quando estivessem a sóis. O sinal tocou os tirando de sua conversa, a próxima aula era educação-fisica o que animava Mari já que ela usava o futebol para tirar todo aquele stress que estava sentindo e acumulando a vários dias. Marina observou Carmen ir em direção ao professor, que lhe encarou com um olhar de desconfiança mas assentiu após Carmen fazer uma careta de dor - então era isso...ela estava doente? "Posso saber por que a gostosona aí não parou de encarar a Bittencourt a aula inteira? " Mari ouviu a voz de Gabe em seu ouvido quando seguiam para o ginásio, estavam longe dos outros agora e ele não ia sossegar enquanto ela não falasse. "Hm...eu não tenho uma explicação lógica nem racional para isso" respondeu e ele sabia que Mari estava falando a verdade. Seus olhos azuis brilharam de excitação e um sorriso malicioso se formou em seus lábios "NÃO. De jeito nenhum, não é nada disso que ta pensando " ela protestou amarrando o cabelo em um r**o de cavalo "Como sabe o que estou pensando?" ele jogou um braço em volta de seu pescoço e deixou seu peso cair em Marina que era forte o suficiente para aguentá-lo "Monamuor confessa que você quer quebrar o recorde do Pedro pelo tanto de garotas que ele pegou, e a 'nerd' pode entrar na lista também" deu de ombros "Não é isso Gabe...eu...bom, deixa pra lá, só não comente isso com os outros" "Nosso segredinho monamuor " Eles se trocaram e formaram dois times no qual Marina era capitã de um e Ray do outro, o problema de 'ficar' com essas garotas é exatamente o que esta prestes acontecer, as amigas trocando indiretas e Ray hora e outra esbarrando em Mari. Em outra ocasião Marina até acharia engraçado e se aproveitaria um pouco, mas hoje ela não estava com um pingo de paciência para essas 'criancices' . Quando ela estava prestes a fazer um gol Ray passou por trás e colocou um de seus pés entre a perna de Mari fazendo a outra perder o foco da bola. "Ops...desculpa amor" Ray murmurou rindo "Que p***a garota você ta cega é " Mari gritou fazendo Ray e todos do time a olharem com medo. Ela quase nunca explodia, mas quando acontecia ninguém queria estar por perto. "D-desculpe" a garota disse quase num sussurro tremendo os lábios ao falar. Marina chutou a bola com força e saiu do ginásio com a cabeça quente. Atravessou a porta de saída e entrou direto no terceiro andar, mas sua entrada abrupta fez ela trombar em um corpo pequeno que ia ter um tombo feio. Ela só teve tempo de envolver seus braços em sua cintura e impedir a queda de Carmen. A garota lhe encarou com evidente surpresa no olhar, e foi a primeira vez que Mari viu um brilho naquelas profundezas escuras. As duas ficaram ali paradas pelo que pareceram minutos até Carmen fazer uma careta de dor e tentar se livrar dos braços da outra. "Desculpa" Mari pediu sem entender exatamente pelo que estava se desculpando Carmen massageou o braço, ela tinha tirando a blusa de frio provavelmente estava torrando antes. Foi quando Marina viu marcas roxas que iam de seus braços até a altura dos ombros, Carmen a pegou observando seus ombros e se apressou para vestir a blusa sentindo seu rosto esquentar. "Eu que peço desculpas, parece que só sei trombar em você" a garota suspirou após ajeitar a roupa em seu corpo Mari não sabia o que dizer, tanto sobre a trombada como sobre as marcas que viu em Carmen. "Seus ombros..." "Eu bati na porta de casa" Carmen a cortou falando tudo muito rápido o que fez Mari desconfiar que fosse verdade. "Você não quis jogar hoje?" perguntou e Carmen ergueu uma sobrancelha em sinal de supresa "Você reparou..." sussurrou tão baixo que Marina quase não ouviu "Eu estava indisposta, na verdade ia direto para a...biblioteca, daqui alguns minutos é intervalo e eu sempre fico lá" Carmen falou tentando desviar seus olhos dos dela. "Posso ir com você?"Mari não teve ideia do porquê fez isso, mas algo dentro de si a fez desejar mais tempo com aquela garota tão estranha. Carmen corou mas assentiu seguindo para as escadas e Mari foi logo atrás.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD