Capitulo 2: NYU, aqui vamos nós.

1034 Words
Jéssica Cortez (JESSY) Olho pela milésima vez para a tela do meu notebook, como se as palavras pudessem desaparecer se eu piscasse. Mas elas continuam ali, firmes, brilhando como ouro diante dos meus olhos: APROVADA. A bolsa que eu tanto sonhei. A universidade que parecia inalcançável. — Minha nossa… MINHA NOSSA! — grito, rindo e pulando como uma maluca no meio do quarto. A porta se escancara e minha mãe entra correndo, desesperada. — Filha?! — diz ofegante, os olhos arregalados. — Oi, mãe... — respondo, tentando conter um sorriso culpado. — Que gritaria é essa? Você me assustou! — MÃE! EU CONSEGUI! — solto, com os olhos brilhando. — Conseguiu o quê, menina? — Entrei na faculdade de psicologia! O silêncio que se segue é tenso. Só então me dou conta de que... opa, eles nem sabiam que eu tinha me inscrito. — Espera. Como assim? — pergunta ela, confusa. — É que... eu queria fazer surpresa. Me desculpa por não ter contado antes. Nem você, nem o papai... Ela cruza os braços, me analisando de cima a baixo. Sei que vem sermão. Mas antes disso, deixa eu te contar um pouco de onde eu venho. Meus pais — bom, minha mãe e o meu padrasto, Júlio — são muito ricos. Ele entrou na minha vida quando eu era uma criança e, sinceramente, sempre foi mais pai do que qualquer outro poderia ter sido. Meu pai biológico? Desapareceu no mundo antes mesmo de eu formar uma memória. Dizem que tenho os olhos verdes dele. É só isso que sei. Júlio e minha mãe sempre me deram tudo. TUDO. Mas agora, pela primeira vez, eu queria conquistar algo sozinha. Só meu. E consegui. Entrei na NYU com bolsa integral, por mérito. O problema? Convencer meus pais a me deixarem morar em Nova York. — Jessy... quero que me explique direitinho o que está acontecendo. — diz minha mãe, ainda séria. Respiro fundo, explico tudo. Desde o processo seletivo até a aprovação. Quando termino, ela ainda está me olhando com a mesma expressão impassível. Mas então sorri. E me abraça forte. — Parabéns, minha filha. Estou tão orgulhosa de você! Começo a chorar, lógico. Eu sou uma manteiga derretida, fazer o quê? — Mas... tem um pequeno detalhe no seu plano — ela avisa, limpando uma lágrima do meu rosto. — Qual? — Primeiro, seu pai não vai aceitar fácil essa história de estudar fora do país. Segundo, o apartamento em que você ficaria está em reforma e sem previsão pra terminar. — Ah, não… — desabo. — Calma. Vou conversar com ele. Se concordar, pensamos onde você vai morar. — Mãe, eu não quero que o papai pague aluguel pra mim. Quero caminhar com as minhas próprias pernas. Você entende, né? Ela sorri, mesmo contrariada. — Entendo. E isso me deixa ainda mais orgulhosa. Mas se ele aceitar, vou pedir para o Júlio ligar para o seu irmão. — Que irmão? — O irmão do Júlio. Seu tio Gabriel Salles. — Tio... Gabriel? — Ele é delegado. Você o viu apenas uma vez, no nosso casamento. Era pequena demais pra lembrar. Se ele e a esposa concordarem, você pode ficar com eles. — Então tá decidido: vou morar com o tio Gabriel! — Nada de euforia ainda. Temos que convencer seu pai primeiro, lembra? — Ok, ok. Você tem razão. Depois que ela sai do quarto, me jogo na cama. Meus dedos se cruzam e começo a rezar baixinho. Preciso de um milagre. E talvez um tiquinho de sorte também. A ansiedade me consome durante o jantar. m*l consigo engolir o arroz. Quando meus pais vão para o escritório, corro atrás da porta para ouvir... mas não capto nada. Nem uma palavrinha. Desisto, andando em círculos pela sala como um zumbi em surto. Até que a porta se abre. Meus pais saem, sérios. — Pai… mãe…? E aí? Eles trocam um olhar enigmático. — Primeiro de tudo, princesa... quero dizer que estou muito orgulhoso de você. — diz Júlio. — Obrigada... — sorrio, esperançosa. — Ainda não terminei. Mesmo contra minha vontade, sua mãe conseguiu me convencer. Você vai pra Nova York. — SÉRIO?! — pulo, quase caio de joelhos de tanta felicidade. — Mas com condições. — Aceito todas. TODAS! — Liguei para meu irmão. Ele topou te receber. Disse que será bom pra esposa dele ter companhia, já que ele passa a maior parte do tempo fora, por causa do trabalho. — Eu amo vocês! — digo abraçando os dois ao mesmo tempo. — Obrigada, obrigada! — Não sei se vou aguentar ficar longe de você… — sussurra minha mãe. (***) — Finalmente em solo americano! O avião pousa e meu coração quase sai pela boca. Nova York! Sempre sonhei em vir, mas a viagem nunca acontecia. Agora estou aqui, com uma nova vida pela frente. Procuro ao redor alguém com uma plaquinha. Bingo. Uma ruiva elegante segura um cartaz escrito: JÉSSICA CORTEZ. Me aproximo, um pouco tímida. — Emma? — arrisco. — Yes! You must be Jessica, Gabriel’s niece, right? — Yes. That’s me. Ela sorri e tenta em português: — Seja bem-vinda! Aquele sotaque americano... meu Deus. Já amo essa mulher. Espero que meu inglês dê conta. Seguimos até um carro preto luxuoso, onde um motorista já nos espera. Ele pega minhas malas e coloca no porta-malas com eficiência. Mando uma mensagem pros meus pais avisando que cheguei bem. Quase uma hora depois, quando finalmente chegamos à casa do meu tio, fico… boquiaberta. Aquilo é uma MANSÃO. Emma sorri, vendo minha cara de espanto. — Bem-vinda ao nosso lar. Subo com ela até um quarto que parece ter saído de um catálogo de design. Começo a organizar minhas coisas no closet espaçoso. Depois de trinta minutos, termino e desabo na cama. Nem percebo quando pego no sono. Acordo com o corpo pesado e a mente lenta. Nem sabia que estava tão cansada. A viagem foi longa — quase dez horas. Me levanto, vou até o banheiro e tomo um banho quente. Visto uma roupa confortável e desço as escadas com o estômago roncando. Nova York me espera. E eu estou pronta. Ou pelo menos... é o que eu acho.
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