Sandro:
Olho ao redor da mesa e vejo todos os meus amigos ali, cada um com sua própria jornada, suas ambições e desafios. Estamos em um restaurante elegante no centro de Nova York, aproveitando uma pausa depois de mais um dia de trabalho na InovaTech. Para muitos, pode parecer uma vida perfeita – sucesso, amigos, realizações. Mas há sempre algo mais profundo, algo que ninguém vê.
– Bem, pessoal, mais um dia vencido – começo, com um sorriso leve. – Parece que estamos todos aqui. Como vão as coisas na InovaTech hoje?
Eu tento manter o tom leve, mas sei que meus pensamentos estão divididos. Fábio, sentado à minha direita, está mais calado do que o normal. Eu o conheço bem o suficiente para saber que algo o incomoda. Talvez seja o passado... aquele que ele tenta evitar, mas que continua voltando à superfície. Assim como o meu.
Alice:
– Ah, Sandro, você sabe como é – respondo, tentando descontrair o clima. – Estamos correndo atrás dos números, tentando conquistar mais clientes. Mas, ei, pelo menos temos café grátis na sala de descanso agora!
Sandro ri, mas há algo em seu olhar que me faz pensar se ele realmente está presente. Ele é um líder nato, disso ninguém duvida, mas às vezes me pergunto o que mais o aflige por trás daquele sorriso confiante.
– Café grátis? Isso é um grande avanço! – ele diz. – E, Alice, você está fazendo um ótimo trabalho com as campanhas de marketing. Esses números vão subir, tenho certeza.
Eu sorrio, mas não posso deixar de notar que Fábio m*l tocou na comida.
Carlos:
Eu não consigo me conter. Com todo o movimento em IA, vejo tantas oportunidades para a InovaTech, mas Sandro ainda não puxou o gatilho.
– Sandro, eu estava pensando... Por que não investimos mais em inteligência artificial? Acho que poderíamos revolucionar nossa plataforma de análise de dados.
Ele para por um momento, pensativo. Conheço essa expressão. Ele está processando tudo, considerando as possibilidades, pesando os riscos. Essa é uma das coisas que admiro nele.
– Carlos, você está certo – diz ele, finalmente. – IA é o futuro. Vamos marcar uma reunião para discutir isso em detalhes. E, por falar nisso, como está o projeto do aplicativo móvel?
Eu não consigo esconder minha empolgação.
– Está indo bem! A equipe está trabalhando duro para otimizar a experiência do usuário. Acho que podemos lançar uma versão beta em breve.
Lena:
– Sandro, precisamos falar sobre o evento de integração da próxima semana – digo, querendo mantê-lo focado nos assuntos práticos. – Você vai fazer um discurso, certo?
Ele sorri. Sandro é sempre assim, calmo e confiante, mesmo quando está atolado de responsabilidades.
– Claro, Lena. Vou inspirar nossos novos colegas com algumas palavras motivadoras. E, pessoal, lembrem-se: somos uma equipe. Juntos, podemos alcançar qualquer objetivo.
Todos nós concordamos com um aceno, mas posso sentir a tensão entre Fábio e Sandro. Algo está prestes a acontecer, eu sinto.
Tom:
– Falando em objetivos – interrompo, querendo garantir que estamos no caminho certo financeiramente. – Como está a previsão de receita para o próximo trimestre, Sandro?
Ele se endireita na cadeira, o CEO pragmático que todos conhecemos.
– Tom, estamos no caminho certo. Mas lembre-se, não é apenas sobre os números. É sobre a jornada. Vamos manter o foco e continuar inovando.
Eu sei que ele está certo, mas há algo mais que está em sua mente, algo que não tem a ver com negócios. Talvez seja Fábio, ou talvez seja algo sobre o que ele ainda não compartilhou com ninguém.
Alice:
– Ei, Sandro, você já pensou em fazer um podcast? – brinco, tentando aliviar a tensão. – Já que você é o CEO, poderia compartilhar suas reflexões sobre liderança e tecnologia. Eu ia ouvir, com certeza.
Ele ri.
– Quem sabe? – responde. – Talvez eu possa compartilhar minhas reflexões em algum momento. Mas, por enquanto, vamos nos concentrar no que vem a seguir.
Nós rimos, mas, no fundo, todos sabemos que estamos em um ponto de virada. Algo grande está por vir, seja no trabalho ou em nossas vidas pessoais. E eu não consigo tirar os olhos de Fábio, que está mais silencioso do que nunca.
Fábio:
Eu deveria estar aproveitando a noite com meus amigos, mas tudo o que consigo pensar é no passado. Há cinco anos, deixei minha cidade natal para trás, fugindo de algo que me assombra até hoje. Minha empresa cresceu, meu nome ganhou reconhecimento, mas nada disso preenche o vazio que sinto quando penso nela. A mulher que nunca me deu a chance de explicar, de resolver as coisas entre nós.
E agora, Sandro percebeu. Ele me conhece bem demais.
– E aquela mulher, Fábio? – ele pergunta, quebrando o silêncio que pairava entre nós.
Eu hesito. O número dela ainda está salvo no meu celular, mas ligar para ela seria reabrir uma ferida que nunca cicatrizou. Será que ela se casou? Será que ela seguiu em frente? Eu não tenho as respostas, mas a dor permanece. E agora, a mãe dela – talvez morta, talvez viva – é um mistério que me corrói por dentro.
Sandro vê que estou afundando, mas mesmo ele, com toda a sua força, tem suas próprias limitações. Ele tenta me ajudar, mas como posso enfrentar meus demônios quando nem sei se estou pronto para isso? E se eu nunca estiver?
O restaurante parece distante, as risadas dos meus amigos, ecos. Estou dividido entre o passado e o presente, e não sei se sou capaz de encontrar o equilíbrio entre eles.
🌟🌿
Os dias desde a última vez que ouvi a voz de Sandro têm se arrastado lentamente. Já faz mais de uma semana, e o vazio que sinto cresce a cada momento. Mesmo com as memórias doces do nosso noivado e da primeira noite juntos, algo dentro de mim começa a se partir. Sinto como se estivesse em uma bolha prestes a estourar. O silêncio é ensurdecedor.
Esta manhã, depois de mais uma tentativa frustrada de ligar para ele, fui até a cozinha. As flores murchas sobre a mesa pareciam um reflexo exato do que estou sentindo. Peguei a faca para cortar alguns legumes, distraída em meus pensamentos, e, sem perceber, cortei meu dedo. O sangue começou a escorrer, e por um momento, observei o vermelho vivo. Era como se o meu corpo estivesse externando a dor interna que venho tentando esconder.
Fábio, o amigo mais próximo de Sandro, tem me ligado. Ele pergunta como estou, tenta ser gentil, mas sei que, por trás das suas perguntas, há algo mais. Não posso deixar de me sentir aliviada quando ele desvia o assunto para os negócios, para a InovaTech. Parece que eles estão sempre ocupados, sempre planejando o próximo grande passo. Mas, por que Sandro não me liga? Eu tento não pensar no pior, mas a insegurança começa a me consumir.
Hoje, resolvi tentar mais uma vez. Liguei para Paula, a amiga de Sandro, esperando que ela pudesse me dar alguma notícia. Para minha frustração, também não consegui falar com ela. A sensação de isolamento é esmagadora. O apartamento, que costumava ser um refúgio de paz, agora parece uma prisão silenciosa. A cada som vindo da rua, meu coração acelera na esperança de que seja Sandro voltando, mas a porta permanece fechada.
À noite, deitada na cama, fico encarando o teto, revivendo os momentos que tivemos juntos. Sinto falta do toque dele, da forma como me olhava, como se eu fosse a única pessoa no mundo. Mas agora, estou sozinha com meus pensamentos e memórias.
Fábio tem sido um bom amigo, mas sei que ele carrega suas próprias sombra.