Temporal - Anna Lara

1929 Words
Soltei o celular sobre a mesa, atônita. Ela o quer de volta... justo agora? Caminhei até a entrada da sala, prendendo a respiração ao vê-lo ali. André estava deitado de bruços no sofá, dormindo profundamente. O corpo forte parcialmente exposto — sem camisa, a calça frouxa revelando a marca da cueca. Por um instante, minhas certezas se desfizeram como fumaça. A garganta apertou, o ar ficou pesado. Não era isso que eu queria ouvir. Mas, pensando bem, mais estranho seria se ela realmente lhe desse o divórcio. Olha pra ele... lindo, irresistível, dono de qualidades que não caberiam numa lista. Passei por ele em silêncio, fechei a porta de vidro da varanda com cuidado. Lá fora, a chuva fina desenhava riscos prateados no ar. Sentei-me no chão frio, abraçando os joelhos, e fiquei olhando as gotas beijarem a grama. O pouco que sei de André é suficiente para entender: se ele aceitar essa “segunda chance” da esposa, jamais pisará novamente num bordel. Só continuou frequentando o pub porque ela o desprezava. Ferido no ego e no afeto, buscou consolo em outros braços. Mas agora… ela o quer de volta. E isso muda tudo. Não sei se me sinto feliz por ele poder reconstruir a família ou triste por perceber que, assim, talvez nunca mais o veja. Talvez eu só saiba dele por suas colunas no jornal ou por algum novo livro. Entre nós existe uma distância impossível de atravessar, uma linha invisível, mas tão nítida que se vê de longe. Uma lágrima quente escapou. Droga! Odeio me sentir assim. Ele não é meu. Desde o início era só sexo, sempre foi. Por que diabos estou sofrendo agora? Foram seis anos treinando meu coração para não se meter onde não é chamado… e bastou um homem de fala mansa, com voz grave e sedutora, para me desmontar. André sabe usar as palavras. Com elas, me convenceu a beijá-lo. E eu… como me arrependo de ter cedido. Baixei minha guarda sem perceber. Mais lágrimas. A chuva lá fora engrossou. Mesmo assim, prometi a mim mesma não dizer nada. Ele queria alguém profissional. Talvez esse tenha sido o motivo de me trazer aqui: encerrar o que nunca existiu de verdade. Guardar lembranças e depois voltar para os braços dela. O som dos passos se sobrepôs à chuva. Limpei o rosto às pressas, mas já era tarde. — O que faz aqui sozinha e no escuro? — a voz grave dele me envolveu. André se sentou ao meu lado. Fingi indiferença, desviando os olhos. — Não consigo dormir à noite… vim observar a chuva — menti. — Ossos do ofício — ele sorriu de leve, como quem sabe mais do que aparenta. — É… — forcei um sorriso, ainda evitando encará-lo. — Você chorou? — a pergunta veio certeira, iluminada por um relâmpago. — Não! — apressei-me. — É a mudança de clima… deve ser a rinite — pigarreei. Ele não comprou minha desculpa. Tocou meu maxilar, me obrigando a encará-lo. — Não minta pra mim. Eu sei que você leu as mensagens… Fui pega. O estômago afundou. — Me desculpa, André… não queria ser inconveniente. Não foi minha intenção. — Não estou bravo. — Sua voz era calma, quase indulgente. — Eu só estava esperando o momento certo pra te contar. — Então já sabia… — minha própria ingenuidade me envergonhava. — Sim — admitiu, com um meio sorriso que me irritou. Suspirei, desviando o olhar. — Vai voltar pra ela… — foi mais afirmação do que pergunta. — Ainda não decidi — respondeu. — Mas está cogitando… — minha voz soou incrédula. — Não — negou. — Então o que pensa que está fazendo, André Monteiro? — franzi o cenho. — Ganhando tempo — disse, como se fosse simples. — Ganhando tempo? — ecoei, confusa. — Sim… minha filha precisa de mais um ano para atingir a maioridade. Quando isso acontecer, Ariadne não terá mais poder sobre ela. Estherzinha estará livre para ir pra onde quiser. A revelação me atingiu. Quase chorei de novo. — Está fazendo isso por ela… está se sacrificando pela sua filha. — Eu faço qualquer coisa por ela — afirmou, sem hesitar. — Inclusive voltar para a sua esposa… — minha voz saiu quase num sussurro. — Não será para sempre. Como disse, é só tempo. Se ela aceitasse morar comigo agora, eu alugaria um apartamento e viveríamos juntos. — O que a impede? — perguntei. — Ela quer que eu viva a minha vida. Já me pediu para me casar de novo… até sugeriu que eu tivesse outros filhos. Senti um nó no peito. Ele acreditava que poderia sair ileso dessa… — E você ainda não respondeu à minha pergunta — ele insistiu. — Pergunta? — Por que você chorou? — manteve os olhos fixos nos meus. Hesitei. Meu coração disparava. — Porque… se você voltar pra ela, sei que nunca mais vai voltar ao castelo. — Você não pode ter certeza disso — rebateu. — Posso sim… — minha voz vacilou. — Não teria motivo para voltar. — Eu voltaria pra te ver… — ele disse, baixo, como se confessasse algo que não queria admitir. — Eu jamais aceitaria — respondi rápido demais, tentando não deixar transparecer o que aquilo me causava. — Achei que você atendesse outros homens casados — provocou, o olhar cravado em mim como um desafio. — Você tem razão… — admiti, sentindo o peso das palavras. No fundo, eu sabia: a vida íntima de André não era meu território. Se ele escolhesse a esposa ou qualquer outra mulher, não cabia a mim intervir. — Está me dando razão? — um sorriso ameaçou escapar em seus lábios. — Não devo me intrometer na vida dos meus clientes. Sou apenas uma prostituta. — Não diga isso! — a voz dele ficou firme, quase cortante. — Você sabe muito bem que não é apenas isso para mim. — Sua mão subiu até meu rosto, o toque quente e lento, como se quisesse gravar minha pele na memória. — Sim, André… você é um cara incrível. Mas eu sei o que sou. E não vou me vitimar — falei, sentindo o ar rarear entre nós. — Anna Lara… — chamou-me pelo nome, e o som saiu carregado de um cuidado que me desmontou. — Eu nunca te tratei como uma prostituta. Sempre vi algo a mais em você. — Eu sei… — concordei, quase num sussurro. — Vou lembrar de você com muito carinho… — senti sua respiração roçar minha face, e precisei olhar para o lado para não me perder naquele momento. — Por que está falando comigo como se fosse uma despedida? — perguntou, e havia uma nota de urgência em sua voz. — Porque é… — levantei-me, antes que ele percebesse o nó na minha garganta. Mas André me seguiu, erguendo-se rápido. Suas mãos firmes me envolveram pela cintura, prendendo-me contra o corpo dele. — Deixa tudo… e fica comigo — disse, o olhar mergulhado no meu. — O que está me propondo? — perguntei, sentindo meu pulso acelerar. — Deixa essa vida… Você teria um apartamento só seu. Eu ajudaria com a faculdade… — Eu já tenho um apartamento só meu — respondi, com um sorriso amargo. — Mas eu seria seu… — o tom dele era quase uma súplica. — Como amante — destaquei, deixando o silêncio pesar entre nós. — Anna, não quero que pense… — Não, André! Está tudo bem. É uma proposta tentadora… para uma garota como eu. — Mas…? — Ainda assim, eu seria a outra. E prefiro a vida que levo a ser a segunda opção de alguém. — Seria apenas por um ano — insistiu, como se pudesse comprar tempo. — Ajeita a sua vida primeiro… depois a gente conversa — afaguei seu braço, sentindo a tensão dele sob meus dedos. Ele me olhou nos olhos com intensidade. — Você quer ir embora? — perguntou-me. — Não... Ficaremos o tempo que você precisar. No fundo, eu sabia que, se André voltasse para a esposa, ao menos guardaríamos esses instantes. E seriam lembranças quentes, intensas, impossíveis de apagar. — Como você mencionou mais cedo... — comecei. — Que gosta de guardar aqui tudo o que jamais deseja esquecer. Ele sorriu, um sorriso cheio de malícia e ternura ao mesmo tempo. — Então me deixa guardar mais uma lembrança sua... — disse, já me puxando pela mão em direção ao jardim. — Meu Deus, André, está chovendo! — falei, rindo nervosa, sentindo a garoa fria deslizar sobre meu corpo. Ele não ligou. Colocou os braços firmes em volta de mim e ergueu o rosto para o céu. A chuva já havia encharcado meus cabelos, escorrendo pelas minhas roupas que colavam à pele, revelando cada curva. — Me beija! — pediu. Seus olhos ardiam contra os meus. Baixei o olhar, mordendo o lábio, e ele insistiu em voz baixa: — Quero saber qual é a sensação... Não hesitei. Encostei minha boca na dele, e o sabor da chuva misturou-se ao calor de nossos lábios. André me agarrou pelos cabelos e nos beijamos com fome, como se o tempo fosse acabar ali. A água fria escorria sobre nossos corpos, mas dentro de nós tudo queimava em chamas. Seu beijo era urgente, desesperado, como se quisesse me possuir com a boca. Minhas mãos deslizaram por sua nuca, puxando-o para mais perto, enquanto seu corpo pressionava o meu contra o meu próprio. Suas mãos deslizaram pela minha cintura, descendo até meus quadris, apertando-me contra a dureza de sua ereção que já se erguia sob a calça encharcada. Eu gemi entre o beijo, sentindo a fricção, e ele rosnou baixo, como se perdesse o controle. — Você é fogo... — murmurou contra minha boca. — E você está me incendiando... — respondi arfando, mordendo seu lábio inferior. Ele me ergueu pela cintura, colando meu corpo molhado ao dele. Minhas pernas se enlaçaram em sua cintura e senti o volume latejante pressionar minha i********e apenas coberta pela roupa molhada. A fricção me arrancou um gemido alto, abafado pelo som da chuva. Apressado, André deslizou as mãos por minhas coxas, erguendo meu vestido encharcado, e me deixou exposta para ele. Sua respiração acelerou ao sentir minha calcinha grudada na pele, já completamente molhada — e não apenas pela chuva. — Meu Deus... — ele sussurrou, com a voz rouca de desejo. Sem esperar, afastei o tecido, guiando-o até mim. Quando ele me penetrou ali, no meio do jardim, a sensação foi avassaladora. A mistura da água fria que escorria sobre nós e o calor abrasador que ele me provocava me deixou fora de mim. André estocava dentro de mim com força, como se quisesse marcar cada segundo daquela lembrança em meu corpo. Meus gemidos se misturavam ao barulho da chuva batendo no chão, e eu agarrava seus ombros, arranhando sua pele molhada, sem conseguir controlar o prazer que me consumia. — Mais forte... — implorei em seu ouvido, sentindo o g**o crescer dentro de mim. Ele atendeu, me segurando firme pela cintura, estocando cada vez mais fundo, mais rápido. Eu gritei seu nome, deixando a chuva levar meu som para o vento, enquanto meu corpo explodia em espasmos de prazer. André gemeu alto, me apertando contra si, e senti seu corpo tremer ao gozar dentro de mim, misturando-se à minha entrega. Ficamos ali, colados, respirando ofegantes sob a chuva, como se o mundo tivesse parado para guardar aquele instante. A água fria continuava caindo, mas dentro de nós ainda ardia o fogo que nenhum temporal seria capaz de apagar.
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