Allie Stuart
Eu passo um batom na boca desenhando bem os meus lábios e eu amo essa cor de boca. É uma cor rosinha que realça e combina demais comigo! Ele nunca falha. Dou uma bela olhada na maquiagem feita e o delineado ficou perfeito. Eu prendo apenas umas mechas grandes e deixo uns fios soltos para deixar mais bonito e natural.
Eu estou quase ficando pronta e não posso me atrasar. Eu tenho uma entrevista de emprego e quero chegar pelo menos uns vinte minutos antes da hora marcada. Eu trabalhava na recepção de um restaurante/bar aqui do bairro e eu até que eu gostava, mas fui demitida há uma semana, porque houve uma confusão com um cliente bêbado. Eu fui xingada de todos os nomes, ele entrou na recepção e tentou vir pra cima de mim e eu lhe dei um soco.
Isso mesmo, um soco e fiz em minha defesa!
Ou seja, eu fui atacada e xingada, mas ganhei uma demissão de brinde e tenho certeza de que foi ordem da loira siliconada já que ela não gostava de mim. O meu ex-patrão era um paü mandado daquela namorada interesseira dele e como ela tinha ciúmes dele comigo, lhe obrigou a me demitir. É isso que eu penso e o que os outros falaram no restaurante.
Eu vi bem isso quando ele me deu a notícia, fora que, ele ainda me deu um bônus de compensação todo sem jeito.
Mas, voltando ao hoje, eu tenho uma entrevista já que não posso ficar sem trabalhar. Eu moro com os meus pais e ajudo nas contas. Não gosto de ficar parada! O meu pai Pedro, é chefe de segurança de uma microempresa aqui no bairro e a minha mãe Grace, é costureira numa loja de vestidos de festa e às vezes, ela é voluntária na igreja que cuida de doações tanto para cá no bairro, como para doações que vão para fora em obra missionária.
Ela viajava muito com essa finalidade quando solteira e ouvi cada história incrível!
Bom, a minha entrevista é para ser secretária numa empresa bem grande no ramo de cosméticos e quando eu recebi a ligação deles, eu nem acreditei. Não faço ideia para quem exatamente eu vou trabalhar, mas o que importa é conseguir a vaga. Como a empresa é grande, eu creio que o salário é ótimo e nós precisamos muito.
Temos contas para pagar e a maior é com o banco. Tivemos que pedir um empréstimo por causa de uma reforma na nossa casa e foi bem grande. Depois do inverno que teve, a casa ficou com infiltração, o teto dos fundos caiu e foi uma loucura. Fora que, foi num período que o meu pai estava sem emprego e tudo foi se acumulando. Ele até ficou doente e com isso, tivemos que mudar a alimentação e seguimos à risca. Ou seja, mais gastos!
— Allie, posso entrar? — É o meu pai na porta.
— Oi, pode, sim! — Respondo enquanto passo o pincel na bochecha.
— Bom dia, meu amor. — Ele vem e me dá um beijo nos cabelos. — Eu estou de saída para trabalhar e quero desejar boa sorte na entrevista. Sem pressão, em... seja você mesma e relaxe.
— Obrigada, pai. Tenha um ótimo dia de trabalho! — Ele agradece e dá meia volta para sair. — Ah, pai... — Eu lhe chamo. — Mais tarde, eu vou acompanhar o Ricardo no exame de endoscopia e pode demorar um pouco. — Eu aviso a ele.
Ricardo é meu namorado!
— Só não chega muito tarde. — Eu aceno e ele vai saindo.
Ao ver que eu estou pronta, eu pego a minha bolsa e verifico se não estou esquecendo de nada e vou saindo do quarto. Chegando na cozinha, eu não vejo a minha mãe e eu vejo as horas mais uma vez.
Onde ela foi?
O meu celular toca no meu bolso e é Ricardo.
“Bom dia, amor! Boa sorte na entrevista e espero te ver mais tarde.”
Eu vou respondendo e vamos conversando um pouco. Nós dois namoramos há quase dois anos e é um bom relacionamento. Mas, tem alguma coisa estranha ultimamente. Nós estamos com problemas em dialogar e estamos nos vendo menos. Não lembro bem como e quando isso começou, mas já faz umas semanas.
Ele é o meu primeiro namorado e gosto dele e hoje eu vou aproveitar para termos uma conversa.
Logo me despeço dele e ouço passos se aproximando. É ela!
— Bom dia, filha! Nossa, está linda... — Ela vem chegando mais perto. — Essa vaga já é sua!
— Obrigada, mãe! Eu já vou indo para não me atrasar... — Deixo um beijo nela. — Até mais tarde.
— Até e tome cuidado! Deus te proteja. — Saio de casa com um nervoso na barriga e suspiro forte pedindo que tudo dê certo.
Apesar de nunca ter trabalhado com secretariado, eu fiz uns cursos online. Eu entendo de planilhas, gráficos, documentos, agenda e sou boa em computação. Sou boa em números também, já comandei certas reuniões no meu antigo trabalho e gosto de aprender. E o mais importante, eu conheço a Lunar Cosmestics e ainda uso alguns produtos deles.
São ótimos!
Eu pego o transporte público e me sento perto da janela vendo que vou chegar na hora que eu programei. Eu fico dando uma olhada na internet sobre uns assuntos sobre a empresa e vou decorando algumas informações. Quero estar preparada e sei bem como empresas assim gosta de fazer entrevista coletiva e isso, fazem perguntas e certas atividades. Por isso, eu não quero falhar.
Quando chego em frente ao prédio, eu desço e já vou pegando a minha identidade para ir diretamente à recepção.
— Bom dia, posso ajudar? — A recepcionista se aproxima do balcão.
— Bom dia! Eu vim para a entrevista. A vaga é de secretária. — Eu entrego o meu documento e espero um pouco.
Em poucos minutos, eu recebo um crachá e informações para onde devo ir. O andar é o 15° e eu pego o elevador vendo já a loucura aqui ao redor. Ainda bem que vim bem vestida! Estou de saia lápis bem alinhada, uma blusa de mangas branca e um salto fino que amo.
Adoro saltos. Eles sempre me valorizam!
Ao chegar no andar, eu vejo uma outra recepção e fico confusa e curiosa. O andar aqui é bem mais quieto e não vejo mais ninguém esperando para a entrevista.
— Pode vir! — Sou chamada e agora que eu fico mais confusa mesmo.
— É, desculpe... tem mais alguém além de mim? — Decido perguntar e ela negä.
— Não! Ontem já teve um grupo de entrevistados e hoje tinha mais quatro marcados, mas não apareceram. — Gente, como assim?
O que faria quatro pessoas não comparecerem?
Nós entramos numa sala e fico aqui em nervosismo absoluto. Só tem eu! A sala tem uma mesa enorme e nela tem um laptop já ligado e sou instruída a me sentar. A mulher fecha a porta e eu fico esperando aqui as instruções enquanto prendo o ar e me tremo inteira.
Nossa, que calor!
— Bom, eu vou começar falando um pouco da nossa empresa e depois eu te explico os testes que fará. Depois, terá o seu tempo de perguntas e vamos conversando sobre a vaga. Tudo bem? — Eu aceno tentando não mostrar a minha tensão. — Vamos começar!
Eu espero que isso aqui não seja um bicho de sete cabeças!
{ . . . }
A minha entrevista foi longa e bem cansativa. A entrevistadora falou um monte sobre a empresa, sobre os negócios, sobre a imagem e os produtos. Depois, eu tive uma lista de testes para realizar e eles não eram tão fáceis. Mas, eu fui surpreendida com a visita do dono.
Sim, o dono! Ele começou a comandar tudo e de um jeito diferente e foi quando eu fiquei mais leve.
Estou confiante!
— Oi, gatinha! — Ricardo chega para me buscar e me dá um beijo no rosto. — Obrigado por vir!
— De nada. Tudo bem? — Pergunto ao lhe achar um pouco estranho.
— Só o estômago ainda rüim... — Ele responde se afastando. — Vamos?
Eu entro no carro e ele dá a partida para irmos à clínica. Trocamos poucas palavras no caminho e isso, porque eu tento puxar assunto e uma coisa que eu percebo também, é que ele nem perguntou sobre a entrevista e nem nada. Ele não era assim!
Tem mesmo alguma coisa muito errada!