Cap 1

868 Words
Mais uma vez eu estou aqui, trancada no meu quarto, tentando descobrir se eu ainda estou viva ou se estou morta, mesmo que meus olhos estejam abertos e que eu esteja respirando Mais uma vez ele fez isso comigo, tudo por culpa da bebida e da droga. Meu pai, antes da minha mãe falecer de câncer, era um homem maravilhoso, trabalhador, trabalhava num escritório de contabilidade, ainda trabalha na verdade, ganha pouco, mas o suficiente para manter a nossa família. Agora, por conta da tristeza e do vazio que ele tem dentro do peito, o homem simplesmente acha que eu devo ser a sua válvula de escape Meu nome é Soraya mas a maioria das pessoas me chamam de Sol, aliás, a maioria das pessoas . . . eu nem conheço tantas assim nem converso com muitas Ainda tenho dezoito anos, mas minha mente pensa como uma senhora de quarenta. Fui obrigada a crescer rápido, ou era isso ou as coisas dentro da minha casa estariam ainda piores do que já estão, nem sei se eu mesma estaria viva para contar história Eu tenho uma irmã mais velha, a queridinha do meu pai, a única, segundo as suas palavras, digna de verdade de ser chamada sua filha, só que ela mesma nem quer vê-lo, mesmo que se ele estiver todo pintado de ouro. Ela se chama Alessandra, pensa numa moça alto astral, feliz da vida, uma irmã maravilhosa que sempre se preocupou comigo, sempre se deu bem com todo mundo, mas que na primeira oportunidade, decidiu ir embora e não olhar para trás nunca mais, decidiu esquecer da sua família, tudo para não se lembrar do que o nosso pai tinha se transformado e me deixou aqui, para pagar o pecado de todos Ontem ele chegou mais bêbado do que todos os outros dias, daqueles de que tenho na minha memória, e juntando com a droga louca que provavelmente ele passou o dia cheirando, o cara virou um monstro Eu tentei perguntar, saber o que tinha acontecido, mas ele só gritou aquelas palavras estúpidas José - Você não serve para nada mesmo, nem o líder da comunidade te quer, sua inútil, imprestável. O cara pega qualquer uma que dá bandeira, não sabe distinguir um buraco de bala e uma b****a, mas você? Não, ele não te quis. Era você quem deveria ter morrido e não a sua mãe Sol - Do que o senhor está falando? Pai, por favor, o senhor está bêbado José - Não serve nem pra dar uma f**a pro Dante, imprestável mesmo Meu coração se rasgou a cada palavra que ele me disse. Ele tinha o costume de me humilhar, de me colocar abaixo de nada, mas eu nunca me acostumei com isso As vezes eu colocava a culpa na Lê e outras, eu me imaginava estando com ela fora do CDD, construindo minha vida Já tenho dezoito anos, acabei de terminar o terceiro ano do colegial. Na verdade, as aulas ainda não acabaram, mas não tenho expectativa de nada, meu pai fez isso comigo, ele me fez desistir dos meus sonhos José - Ele não te quis, disse que não pega carne de quinta como pagamento, que eu tinha que me virar O Dante é um dos líderes do Comando, no caso, o mais temido, tanto que muitos nem ousavam dizer que tinha alguém acima dele . . . Meu pai estava devendo o que pra gente, era uma fortuna, mas para o comando, uma mesquinharia. Ali eu entendi o que ele tentou fazer Ele comprava drogas com o Pezão, um menor que tomava conta de um dos pontos da comunidade e vendia pro meu pai na base da promessa do “depois te pago”. Quantas e quantas vezes eu vi ele ameaçando o meu pai, de passar a fita pro Dante, mas por dó, acho que por isso, ele nunca fez E naquele dia, meu pai não conseguiu escapar, tomou a coça da vida dos menor da cobrança, mas que não tirou a força dele pra falar bobagem e nem de se acabar na droga depois José - Vai, Dante, aceita a Sol como meu pagamento, ela é menina nova, vai fazer tudo o que você mandar Dante - Eu não sou carniceiro pra ficar aceitando carne como pagamento não e se tu não tem amor a família, então não serve pra pisar na minha casa José - Então me dá mais uma semana, eu prometo que te pago com juros Dante - Não tô a fim de negociar com cuzão, bora dá adeus pro mundo José - Por favor, eu juro que te pago Dante - Olha, eu não tenho costume de partir pro lado da misericórdia, mas vou te fazer esse favor. Uma semana, não, uma semana não, um dia, se o dinheiro não aparecer, eu te escaldo antes da morte Pelo menos foi isso que eu escutei . . . Um dia, onde a gente ia conseguir dinheiro pra pagar aquela dívida em um dia, sendo que eu mesma tava tendo que ir na casa da Dona Rosa, a senhorinha que conhecia a minha mãe, pra poder ter comida garantida? Como, meu Deus, ele ia conseguir pagar?
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