Caterina Gallo
Acordei sentindo como se um trator tivesse passado por cima de mim na noite anterior. Quando abri os olhos, minha visão ainda embaçada encontro o senhor DeLuca, largado na poltrona ao lado da cama. Meu coração quase parou. Ele estava de volta.
Por um instante, fiquei paralisada, tentando processar o que via. O homem mais perigoso que eu conhecia parecia perigosamente vulnerável, com o corpo relaxado e a cabeça caída levemente para o lado. Bonito. Esse desgraçado era muito bonito. Másculo, o corpo estava em forma, com certeza!
Ele é mais velho que eu, mas cara....
Como havia algo de sensual até mesmo na forma como ele dormia? Algo que fazia meu estômago revirar em um misto de medo e... outra coisa que eu me recusava a nomear.
Eu me mexi devagar, tentando sair da cama sem fazer barulho, mas, claro, minha sorte não era tão boa assim. O colchão rangeu sob o meu peso, e os olhos dele se abriram imediatamente, intensos e alertas como os de um predador.
— Bom dia, Caterina. — A voz dele estava rouca, carregada de um tom que fez cada fio de cabelo no meu corpo se arrepiar.
— O que você está fazendo aqui? — Minha voz saiu firme, apesar de estar nervosa.
Ele se levantou, os movimentos fluidos e deliberados como se estivesse se divertindo com minha reação.
— O que você está fazendo aqui? — perguntei, a voz rouca de sono e surpresa.
— Boa pergunta, bambina. — ele falou em seu tom grave habitual seguido de um bocejo, — Parece que fiquei confortável demais nesse quarto.
O tom de duplo sentido em suas palavras estavam me deixando tonta.
— Isso é tão errado. — eu murmurei
— Minha casa, minhas regras, lembra? — ele retrucou, com um sorriso enviesado aparecendo em seus lábios desenhados.
Eu engoli em seco, claramente desconcertada, mas mantive o olhar fixo no dele, tentando entender o que se passava na cabeça desse louco gostoso. O que diabos tem de errado comigo hoje?
Puxei o lençol em volta do meu corpo, tentando devolver minha mente pro lugar. Eu estava pensando demais nesse homem.
— Isso não responde nada, senhor Rocco. — eu falei limpando meus olhos e tentando devolver um pouco de sanidade a minha cabeça.
— Quanto m*l humor para alguém que ronca igual um motor velho, Caterina. — ele falou se espreguiçando e deixando todos os músculos deliciosos à vista. — Se vista e desça para o café. Você tem 10 minutos.
Novamente minhas bochechas queimaram, mas dessa vez de vergonha. Deus, eu realmente ronco? Além disso, eu também estava usando uma minúscula camisola porque estava fazendo muito calor.
Engoli em seco, sentindo minhas bochechas queimarem. Antes que eu pudesse responder, ele continuou, um sorriso arrogante surgindo em seus lábios.
Ele saiu do quarto sem me dar tempo para retrucar, deixando-me sozinha com meus pensamentos. O ar no quarto parecia mais pesado, carregado do perfume dele, e minha mente não conseguia evitar a lembrança do que eu havia proposto para pagar minha dívida. Me oferecer a ele.
Só de pensar nisso, meu corpo ficou tenso. Não era medo, exatamente, mas algo mais profundo, uma espécie de calor que começava no estômago e se espalhava lentamente. Sacudi a cabeça, tentando afastar essas sensações, e me levantei. Se Rocco queria conversar, eu não tinha escolha. Talvez, ele tivesse pensado em uma outra solução para que eu pague minha dívida.
Depois de vestir algo simples, desci até a sala de jantar. Ele estava lá, sentado à cabeceira da mesa como um rei esperando sua audiência, as mãos segurando uma xícara de café e os olhos intensos, estavam fixos em mim assim que ele percebeu a minha presença.
— Eu disse 10 minutos. — ele lembrou.
— Desculpe, eu gosto de tomar banho direito. — eu respondi revirando os olhos.
— Se sente. — Ele apontou para a cadeira à sua direita, e eu obedeci, tentando não parecer intimidada.
O silêncio entre nós era quase palpável enquanto um empregado colocava o café da manhã à minha frente. Peguei a xícara de chá que ele serviu e a levei aos lábios, tentando encontrar minha voz. Ele havia descoberto sobre meus planos de fulga? Ele havia desconfiado de algo? Ou…. Deus…
— Sobre o que queria falar? — eu perguntei, finalmente quebrando o silêncio.
Ele se inclinou para frente, os cotovelos apoiados na mesa e o olhar me perfurando.
— Eu pensei na sua proposta. — As palavras saíram diretas, sem rodeios, como era típico dele.
Senti meu rosto esquentar. Ele não precisava especificar. Ambos sabíamos exatamente o que ele estava falando. Eu tinha oferecido meu corpo para pagar a dívida da minha família. Um ato desesperado, mas necessário. O problema era que, toda vez que pensava nisso, uma onda de calor percorria meu corpo, contradizendo a frieza que eu queria manter. Eu não estava me sentindo atraída pelo meu raptor, estava?
— Foi uma oferta justa. — Minha voz saiu firme, mas o rubor em minhas bochechas entregava minha vergonha.
Ele riu, um som baixo e provocador que me fez apertar os punhos sob a mesa.
— Justa? Você acha mesmo que se oferecer a mim é um preço suficiente para cobrir o que sua família me deve? — ele deslizou a mão afastando uma mecha de cabelo do meu rosto, — Eu quebraria uma coisinha miúda como você, Piccola mia.
— Não sei o que mais posso oferecer. — Minha voz vacilou dessa vez, mas eu mantive o olhar fixo no dele, — Você poderia me deixar trabalhar em uma das suas boates. Eu acredito que sou uma boa dançarina.
O silêncio que se seguiu foi insuportável.
— Você realmente acha que pode brincar com fogo, Caterina? — Ele se inclinou para trás, o sorriso agora mais sombrio. — Se acha que me usar como uma solução fácil vai ser o fim do seu problema, está muito enganada. Mas podemos ir subtraindo o do valor de sua dívida conforme a sua… performance.
Suas palavras cortaram fundo, mas, ao mesmo tempo, havia algo neles que fez meu coração bater mais rápido. Ele não parecia estar me rejeitando, não exatamente. Era mais como se estivesse avisando, me preparando para ele.
— Eu estou disposta a fazer o que for preciso, senhor DeLuca. — eu afirmei.
— Veremos, bambina — Ele se levantou, caminhando lentamente em minha direção. Quando passou por mim, parou por um instante, inclinando-se para sussurrar ao meu ouvido. Sua respiração quente tocando minha pele e a fazendo formigar. — Mas cuidado com o que deseja.
Ele se afastou devagar e deu uma risada baixa, — Estipule um valor mais realista para os seus serviços. Irei subtrair da sua dívida.
E então ele se foi, me deixando sozinha com um coração acelerado e uma mente cheia de pensamentos que eu não deveria estar tendo.
Eu preciso de um banho frio.