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1239 Words
**Capítulo 2** *Ester narrando* — Ester, estamos na festa do seu tio — Marcos sussurra ao meu ouvido, enquanto nossos lábios se encontram num beijo intenso. Ele tenta me afastar, preocupado, mas eu o puxo de volta, minha vontade de me perder naquele momento muito maior que qualquer alerta que ele pudesse dar. — Ester? — A voz do meu irmão, João Pedro, ecoa do lado de fora. — É o João Pedro — eu falo, revirando os olhos, mas sem a mínima intenção de parar. — Deixa ele — digo, tentando manter o clima, enquanto o beijo continua, mas a insistência de João Pedro do outro lado da porta não me deixa ignorar. — Se seu tio nos pega, ele me mata — Marcos insiste, com medo no olhar, e eu o empurro, irritada com a covardia. — Odeio homem frouxo — resmungo, ajustando a saia e o decote enquanto saio do banheiro, deixando Marcos para trás. João Pedro está lá, parado, me olhando com aquele jeito acusador. Sinto meu sangue ferver. Desde que nossos pais morreram, ele age como se fosse o dono de mim, como se tivesse algum direito de me controlar. — Ester, não posso acreditar que você estava com alguém no banheiro — ele diz, o tom cheio de reprovação. — O que você quer, João Pedro? — retruco, cansada de suas constantes intervenções. — Já não basta infernizar minha vida 24 horas por dia? Agora quer mandar no que eu faço ou deixo de fazer? Ele hesita por um segundo, mas logo balança a cabeça, como se estivesse tentando manter o foco. — Preciso que você venha comigo — ele fala, o nervosismo evidente em sua voz. — Pra onde? — pergunto, desconfiada. — Só vem — ele responde, e eu sinto que algo não está certo. Respiro fundo, tentando conter a irritação, mas acabo cedendo. Saímos da festa, deixando para trás aquele ambiente sufocante e hipócrita. Desde a morte dos nossos pais, eventos como aquele se tornaram uma obrigação insuportável, uma forma de manter as aparências para a sociedade enquanto, por dentro, tudo desmoronava. Dentro do carro, a tensão entre nós é palpável. João Pedro dirige com pressa, mas não responde quando pergunto para onde estamos indo. Ele apenas me lança um olhar irritado, mandando eu calar a boca. — Para esse carro agora — ordeno, meu nervosismo aumentando a cada quilômetro. — Não vou parar — ele responde, o tom seco e definitivo. Olho pela janela, percebendo que estamos indo em direção a um morro. Sinto um frio na barriga. Finalmente, ele estaciona em uma área movimentada, e ao sair do carro, vejo que estamos em um baile funk. Olho em volta, sentindo a estranheza daquele lugar. Por que ele me trouxe aqui? Eu o sigo até o camarote, sem entender nada, e de lá, observo tudo ao meu redor. O cheiro forte de suor e cerveja misturado à música alta é quase sufocante. João Pedro se aproxima de um grupo de homens armados, e meu coração acelera. Algo dentro de mim grita que isso vai acabar m*l. **Capítulo 3** *Joca narrando* Eu observo Sampaio sair do morro cuspindo fogo por causa da dívida do João Pedro, o JP. Sampaio odeia aquele moleque e a família dele com todas as forças. Pra ser sincero, acho que ele nunca suportou nenhum deles. João Pedro deve uma grana preta, e o Sampaio está na beira de perder a paciência. Ele já está falando em cortar a cabeça do JP, mas a coisa é complicada. O pai do João Pedro, Samuel, e o tio, Pedro Henrique, tinham um histórico de negócios com a gente. Não dá pra simplesmente passar o sobrinho deles no facão sem pensar nas consequências. Mas essa dívida precisa ser quitada, de um jeito ou de outro. — E aí, o que você vai fazer? — Heitor pergunta, me olhando com expectativa. — Chama ele pro baile hoje à noite — digo, acendendo um baseado, sentindo a fumaça queimar a garganta. — Tá maluco? Se o Sampaio fica sabendo… — Ele para, a preocupação evidente. — O Sampaio vai tá longe, Heitor. Chama o João Pedro e diz que quero conversar sobre a dívida — insisto. — O que você tá planejando, Joca? — Heitor pergunta, desconfiado. — Ainda não sei, mas vou descobrir. O JP é tão burro que é capaz de vender a própria alma pra pagar essa dívida. — Digo, soltando uma risada amarga. Enquanto isso, vejo Patrícia, irmã da Alana, se aproximando. Alana foi casada com Sampaio, e desde a morte da filha deles, a relação deles foi pro inferno. — Oi — Patrícia diz, com um sorriso que parece quase tímido. — E aí — respondo, dando um trago no baseado. — O Sampaio saiu? — ela pergunta, tentando parecer casual. — Foi atrás de pistas sobre o Kaue. Tá decidido a acabar com esse maldito. — Tomara que encontre logo. Minha irmã não aguenta mais essa situação — ela diz, a voz carregada de mágoa. — O Sampaio não vai descansar até dar cabo desse cara — respondo. Meu rádio começa a tocar, interrompendo a conversa. — A gente se fala depois. — Tchau — ela diz, se afastando. Heitor tá na linha, me avisando que João Pedro aceitou vir pro baile. Um sorriso se abre no meu rosto. Talvez eu consiga resolver essa situação de uma vez por todas. O Sampaio tá fora do morro, e é minha chance de acertar as contas. Chegando ao baile, subo pro camarote, cercado pelos meus. A fumaça do baseado deixa tudo meio turvo, mas minha mente tá a mil. Vejo JP entrando, trazendo a irmã junto. Ele vem na minha direção, e não posso deixar de notar a garota. Ela tem um ar de inocência que destoa completamente daquele ambiente. — E aí — JP cumprimenta, o tom desconfiado. — Vamos pra um canto mais reservado — digo, e ele me segue, sem questionar. A gente se afasta da multidão, e a tensão no ar é quase palpável. Sei que ele tá num beco sem saída, mas quero ouvir o que ele tem a dizer. — O Sampaio tá cobrando a dívida — começo, direto ao ponto. — Não posso mais adiar. Ele quer o dinheiro, JP. E aí, como vai ser? — Minha irmã é a garantia — ele solta, a voz fria. Sinto uma onda de incredulidade me invadir, seguida de uma raiva surda. — Desculpa, mas aqui a gente não aceita mulher como pagamento — rebato, segurando o riso. — Ela vai receber uma herança milionária quando fizer 18 anos — ele continua, sem pestanejar. — Vocês pegam a grana dela e me deixam livre. Eu o encaro, sentindo o peso da escolha que ele tá propondo. Olho pra garota no bar, tão alheia ao que tá acontecendo. Ela não faz ideia do que tá em jogo. — Você tá maluco? Ela é tua irmã, c*****o. — Eu devo dinheiro pra muita gente, Joca. Se não for com vocês, vai ser com outro. Então, qual vai ser? Vai querer a grana dela ou prefere que eu leve essa oferta pra outro lado? O cara tá perdido, mas não sabe disso. Olho pra garota mais uma vez, sentindo uma mistura de pena e desprezo. O jogo tá ficando mais sujo a cada minuto, e agora cabe a mim decidir qual vai ser o próximo movimento.
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