CAPÍTULO 1

1765 Words
NARRAÇÃO SAULO LOMBARD Meu dia esta intenso hoje. Parece que todas as mães da cidade resolveram ter seus filhos hoje. Saio de mais um parto e sigo para o vestiário. Pelo caminho posso ouvir a tempestade que bate lá fora. Meu relógio já aponta meia noite, fim do meu plantão. Entro no vestiário e começo a me trocar. Quero a minha cama logo. A porta do vestiário abre e me assusto com a cara da Mercedes. - O que foi? - Mulher grávida, acidente de carro. - Essa merda dessa tempestade. Respiro fundo colocando a roupa de volta. - Onde esta Fátima? - Ainda não chegou. - Ela nunca chega na hora certa da troca de plantão. Saio correndo do vestiário e sigo para a porta da emergência, esperar a ambulância. Em segundos ela para e logo a maca é retirada. - Gestação de gêmeos, 35 semanas. Carro perdeu controle e bateu em uma arvore. Os paramédicos dizem empurrando a maca. - Fortes dores e corte na cabeça. - Por favor! Ajuda a minha mulher. Um homem desesperado me olha assustado. - Tentei controlar o carro. - Qual seu nome? - Maurício Silva. - Sr. Silva, vou fazer de tudo pela sua mulher e seus filhos. - Obrigado! Quando entramos no corredor outra gritaria começa. - Mercedes, quero que a levem para a sala de parto e verifiquem se houve rompimento da bolsa. Ordeno para agilizar atendimento, enquanto vejo o que esta acontecendo. - Certo! - Vou ver o que esta acontecendo e já sigo para iniciar os exames. - Pode deixar, Dr. Lombard! Ando de volta para a entrada do hospital e vejo um carro parado onde estava a ambulância. - Alguém me ajude. Um homem desce com outra gestante e hoje realmente não é meu dia. Pego uma cadeira de rodas e acomodo a mulher enquanto outra enfermeira não vem. - O que houve? - Ela caiu da escada. - Quantas semanas? - 37 semanas. Ela esta grávida de gêmeos. Antes que eu comece a fazer perguntas, Fátima surge. - Deixa comigo. - Tem certeza? - Sim, sou a médica que acompanha a Sra. Ribeiro. - Estou com outra gestante, qualquer coisa me chama. - Certo! Corro para a sala de emergência e no caminho posso ver o Sr. Silva desesperado. Ele me observa correr e não diz nada, apenas chora. Entro na sala e posso ouvir os gritos de dor da Sra. Silva. - Como estamos aqui, Mercedes? - Vamos ter que fazer cesárea Dr. Lombard. Os batimentos dela estão oscilando e parece que com o impacto, bateu a barriga. Já cuidamos do ferimento na cabeça e a medicamos. Respiro fundo. - Vamos prepara-la então. ************* Com a paciente devidamente anestesiada, inicio o parto. Com o auxílio de um pediatra e uma enfermeira, começo a retirada do primeiro bebê. Assim que o puxo, seu choro forte já começa. - É um menino... Digo passando o bebê para o pediatra que já corre para examina-lo. - Ele esta bem? A mãe pergunta chorando. - Aparentemente tudo certo. Seu choro aumenta. - Meu Caíque... . Não consigo tirar o outro bebê. Olho para Mercedes que já entende meu pânico. Ela se afasta e segue para o pediatra. Em segundos ele surge ao meu lado. - O que houve? - Cordão... Começamos um trabalho juntos para não enforcar o bebê que esta todo enrolado. Assim que o segundo bebê sai não escutamos seu choro e ele esta completamente roxo. É uma menina. O pediatra a enrola em um pano e se afasta com ela. - O que aconteceu? A paciente grita ao ver o pediatra correndo. - É uma linda menina, que precisa de cuidado. - Ela esta viva? Ela vai ficar bem? Não sei o que responder. - Esta em boas mãos Sra. Silva. Termino a sutura e arrumamos a paciente. Ando até ela que parece em choque por tudo e apavorada pelos filhos. - Vamos leva-la para o pós parto e logo estará no quarto. - Quero ver meus filhos? - Quando estiver bem o pediatra passará para conversar com vocês e dizer como estão. Seguro sua mão. - Ele vai fazer de tudo pelos seus bebês. Sorri e logo é levada. Saio da sala já arrancando minhas roupas. Vejo o Sr. Silva e o Sr. Ribeiro sentados na sala de espera. O Sr. Silva se levanta e me olha. - Um menino e uma menina. Começa a chorar. - Como eles estão? - Estão sobe os cuidados do pediatra. O menino não teve problemas algum, mas a menina estava sufocando com o cordão. - Ela esta bem? - Ainda não sei. - A culpa é minha. Estava dirigindo aquele carro... - Sr. Silva o cordão no pescoço não tem nada ligado ao acidente. Talvez o acidente tenha evitado algo pior se a gestação prosseguisse. - Obrigado! - Não precisa agradecer. Agora chegou minha hora de ir. ************* Entro no vestiário e escuto a discussão. - Como você pode fazer isso Fátima? - Cala a boca Torres. - Você tem noção da dor que vai causar a uma família com isso? - Você queria o que? Que fosse processada por essa família rica, dona da merda da cidade toda por matar a filha deles? - E por isso você troca uma menina saudável de família pobre por uma morta? - Será melhor pra eles cuidar apenas de um. Vou até o canto assustado com o que ouvi. - O que vocês fizeram? O pediatra que estava comigo na sala de parto me olha assustado. - Nada. Fátima diz olhando pra ele. - Me diz que a garota trocada não é a que lutei agora pouco pra manter viva. Seus olhos descem para o chão. - Você trocou a menina dos Silva pela dos Ribeiro? - Lombard, fizemos a coisa certa. - Coisa certa Fátima? Grito avançando nela. - Tem um homem lá fora cheio de culpa, doido pra abraçar sua garotinha. - Ele vai ter o garoto pra abraçar. Agarro o braço dela com força. - Os dois são filhos dele. - Não vou ser processada por perder uma criança. - Se você é uma merda de uma médica o problema é seu, mas essa família não pode sofrer por culpa sua. A solto sentindo a raiva crescer em meu peito. - Já esta feito! A garota agora é uma Ribeiro. Vai ter um belo futuro pela frente. - Você é louca! Aponto o dedo em sua cara. - Se não contar a verdade, eu conto. Fátima agora me olha de um jeito feroz. - Ninguém vai contar nada. - Eu vou... Quando me viro para sair e desfazer a merda, sinto uma pancada na cabeça e tudo se apaga. ******************** 16 ANOS DEPOIS NARRAÇÃO FERNANDO RIBEIRO Escuto batidas na porta. - Entra! A porta se abre e Clara surge linda. Esta usando um vestido vermelho e seus cabelos longos castanhos estão soltos. Sorri ao me ver em frente ao espelho. - Quer ajuda? Fecha a porta e vem em minha direção. Para na minha frente e coloca a mão em minha camisa. Fecho meus olhos e aspiro seu doce cheiro. Amo tanto o cheiro dela. Na verdade amo tudo nela e isso é estranho. Sei que somos irmãos e é errado, mas meu corpo não entende isso. Clara começa a fechar os botões da minha camisa. - Estamos fazendo 16 anos. Acredita nisso? Seu sorriso é encantador, mas não tanto quanto seus olhos azuis. Ela é tão perfeita. Olho o relógio e começo a rir. - Na verdade eu estou fazendo 16 anos, você ainda não nasceu. Fecha o ultimo botão e desce a mão passando pelo meu peito que queima. - Você adora ser o mais velho. - Sim... É sinal que mando em você. Revira os olhos e não tem como rir. - Fecha os olhos! Pede e ergo minha sobrancelha, questionando o porque disso. - Fecha logo, Fernando. Fecho meus olhos e a sinto pegar minha mão. Coloca algo sobre ela. - Abra... Assim que abro meus olhos, vejo uma corrente com a letra C. - Para nunca se esquecer de mim. Abro um enorme sorriso. - Esquecer como se me persegue desde o meu nascimento. - Grosso! Leva a mão ao pescoço e puxa a corrente que usa de dentro do vestido. - Estará sempre comigo também. Alisa com seu dedo a letra F de sua corrente. Olho o relógio. - Acho que agora posso te dar parabéns. Oficialmente já nasceu. Nos abraçamos e permaneço com o rosto em seu pescoço, aproveitando seu corpo no meu. - Eu te amo! Sussurra e me solta de seu abraço. - Agora é minha vez de dar o presente. - Adoro os presentes que me dá. - Eu sei, fecha os olhos. Clara fecha os olhos e respiro fundo. Me aproximo, colando nossos corpos. Sua respiração acelera. Seguro seu rosto em minhas mãos. Deslizo meu nariz sobre o dela, então selo nossos lábios. Sua boca é quente, seus lábios são macios. Não me rejeitou o que é bom, já que somos irmãos. Coloca a mão em meu peito e agarra minha camisa, me puxando para continuar. Sua boca se abre e deslizo minha língua para dentro dela, em busca de sua língua. Clara me entrega sem hesitar e começamos o melhor beijo da minha vida. Nossos lábios se encaixam perfeitamente. Paro de beija-la sentindo o desespero de mais. - Por que fez isso? Sussurra com a testa colada a minha. - Por que eu te amo e te quero! - Sou sua irmã, já conversamos sobre isso. Não confunda seu amor de irmão. - Eu te desejo como um homem e sei que isso é errado, mas não posso controlar. Abre os olhos e me encara. - Me diz que não sente nada quando esta perto de mim e nunca mais te toco. Seus olhos se enchem de lágrimas. - Isso que sentimos um pelo outro não é amor de irmão. - É sim... Aproximo meus lábios de seu pescoço. Apenas passo ele de leve em sua pele sensível que arrepia e ela geme. - Seu corpo não reconhece o meu como de irmãos. Sigo beijando seu pescoço até seus lábios. Beijo-a novamente para sentir seu gosto e seu calor. - Para! Me empurra nos afastando. - Isso é errado. - Não pra mim. Segue para a porta. - Clara! Pega na maçaneta da porta e posso ouvir seu choro. - Estou indo para Londres em 30 dias. - O que? - Já conversei com nossos pais. Vou estudar em Londres.
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