MICHELLE NARRANDO
Johnny saiu da cozinha e eu me encostei no balcão, respirando fundo, com as duas mãos nele. É assustador estar sozinha com um homem mais uma vez. Seria tão mais fácil se eu tivesse para onde correr... Minha mãe, meu pai... Um tio, talvez. Mas não, eu estou aqui sozinha, vivendo da compaixão de alguém mais uma vez. Minha vida nunca foi fácil, mas ultimamente, as coisas pioraram bastante.
Peguei um remédio para a dor e coloquei na boca, seguido de um copo com água. Enquanto eu engolia, flashes do que havia acontecido entre eu e Victor, as agressões de hoje e agressões antigas. Certa vez, fui ao seu escritório e ele me agrediu sexualmente, depois de eu ter visto ele com sua secretária. Ele me disse que a culpa era minha, que eu era péssima na cama, e no fundo eu acredito nisso. Ninguém teria uma vida tão merda se não fosse... Isso. Essa coisa esquisita que eu sou.
Me olhei no reflexo do armário brilhante à minha frente. Meus olhos marejaram, não sei por quanto tempo permaneci em pé ali, só sei que ouvi passos e fiquei assustada. Sr. Daniels apareceu vestindo um short de dormir branco, sem mais nada no corpo, bastante cheiroso e relaxado. Eu o olhei e acabei me perdendo. Quando percebi o que fiz, peguei a caixa e fui guardá-la rapidamente, sentindo meu rosto arder. Eu entendi todo o ciúme de Victor agora: Johnny Daniels é o que todas as mulheres querem. Rico, bonito, educado, estiloso, tatuado, cheiroso e um tremendo de um gostoso. p**a que pariu, que braços!
— Tudo bem, senhorita Brooks? — Questionou, com um sorrisinho malicioso nos lábios, daqueles de quem sabe que é bonito e desconcentra mulheres por onde passa.
— Sim. — Falei e saí, de cabeça baixa. O homem é bonito de roupa, mas só de short consegue deixar qualquer uma louca. Imagino como seja sem nenhuma peça cobrindo aquele corpo...
Entrei no quarto e fechei a porta. Encostei com as costas nela, respirei fundo e apertei minhas próprias mãos. Eu tenho tanto medo de tudo. Estou tão assustada com tudo. Como vai ser daqui pra frente? Eu vou seguir sem... O Victor? É assim?
Ouvi a campainha tocando e abri a porta do meu quarto, talvez fosse burrice minha, mas eu fiz. Johnny já havia aberto a porta e eu vi Victor entrar gritando no apartamento.
— Aonde está a minha noiva? — Ele gritava. Eu me encolhi no canto da parede e arregalei os olhos.
— Sai do meu apartamento! — Johnny o empurrou em direção a porta, mas ele não se deu por vencido. Apontou o dedo para mim, sim, ele me viu.
— Você tá dando pro meu primo, Michelle? Eu sabia que você era uma vaca! — Gritou. — Minha mãe me avisou!
— Cala a boca! —Johnny respondeu por mim.
— Já tirou todas as suas coisas e colocou aqui, pelo visto, não foi? — Johnny se cansou, puxou Victor pela camisa e o empurrou contra a parede, dando um soco em seu estômago, o que o deixou paralisado.
— Chega. Eu vou te dar outro soco desse se você não ficar quieto. — Ele falou de forma estressada. — Escuta aqui, ela não tá transando comigo não, mas eu a deixei ocupar um dos meus quartos enquanto o noivo abusivo dela não se trata. — Explicou. — É melhor você ir embora, de qualquer forma.
— A Michelle vai comigo. — Afirmou, com um semblante de dor.
— Você tá parecendo a p***a de um psicopata. Melhor você ir embora e deixar sua noiva em paz. Quando você estiver mais calmo, vocês conversam. — Ele disse e eu estava paralisada.
Johnny pegou Victor pela camisa mais uma vez e o empurrou para fora do apartamento. Ele, com dor, não resistiu.
— Seu filho da p**a. — Resmungou.
— Vá para a sua casa antes que eu dê um fim nisso chamando a polícia. Eu vou pro fundo do poço, mas você vai junto, e sua mãe também. — Ele bateu a porta na cara de Victor e depois deu um soco nela, de raiva. — Que ódio desse filho da p**a! — Johnny se virou para minha direção. Eu estava encolhida, com as duas mãos no rosto, assustada e com os olhos arregalados. Ele soltou a respiração e fechou os olhos, negando com a cabeça algo para si mesmo. — Michelle, você não devia ter visto isso... Me desculpa.
— Eu... — Eu não sabia o que dizer. Eu estava em um misto de medo e gratidão.
Johnny veio em minha direção e apoiou as duas mãos nas laterais dos meus braços.
— Eu não quero que ele te machuque mais. E eu não vou te machucar, não sou esse tipo de homem. Quando disse que te ajudaria, falei sério. — Engoli seco. Vi o soco que Johnny deu na porta e no estômago do Victor. Um soco de Victor é horrível, mas um soco desse homem deve me fazer voar.
— E-eu estou um pouco... Assustada. Me desculpa. — Eu abaixei o rosto e ele me puxou para perto do corpo dele.
Ele me acolheu em um abraço. Colocou meu rosto em seu peitoral, e eu fechei meus olhos. Sua mão acariciava meu cabelo enquanto seu outro braço me envolvia de forma protetora. Eu fechei meus olhos. O perfume dele era gostoso, a temperatura de sua pele também. Eu, que antes estava tensa de medo, me acalmei ao ouvir as batidas do coração do meu protetor.
Senti um beijo em minha testa. Eu apoiei timidamente a mão em seu peito, e liberei minha respiração presa por conta do medo. Era como se meu corpo inteiro tivesse relaxado.
— Tá tudo bem. Eu estou aqui. — Disse. Em anos, nunca desliguei meu "estado de alerta total". Por alguns segundos ele foi desligado, durante aquele abraço. Eu nunca pensei que eu fosse capaz de conseguir ficar tão calma.
— Obrigada. — Disse. Eu não queria soltar aquele abraço, não queria me sentir insegura no mundo de novo. Mas eu não podia atrapalhar a vida de Johnny mais do que eu já estava atrapalhando. — Acho melhor eu ir dormir.
Johnny me soltou do abraço e sorriu de forma leve.
— Me desculpe pelo que viu, senhorita Brooks. — Disse. Parecia chateado consigo mesmo.
— Tudo bem. — Respondi, me afastando dele e mexendo em meu próprio cabelo. — Boa noite, senhor Daniels.
Fui andando em direção ao quarto e observei Johnny parado, balançando a cabeça negativamente. Ele tá realmente decepcionado com alguma coisa, e acredito que seja com a atitude dele em relação ao primo. Se ele soubesse das coisas que Victor fez comigo, não ligaria de ter dado um soco e com certeza daria mais alguns.