Boa noite, minhas queridas almas taquicárdicas, corações aflitos e espectadores que adoram ver a desgraça alheia no conforto do sofá! Aqui quem fala é ele mesmo, o palhaço que não dorme desde 1998 e tem as pálpebras sustentadas por pura força de vontade: Palhaço Taquicardia, apresentador, comentarista do caos e amante da morbidez cotidiana.
Hoje, preparem seus pops corns temperados com sangue falso (ou verdadeiro, dependendo de onde você mora) porque trazemos um caso tão perturbador que até as câmeras pediram férias depois da gravação. Vamos mergulhar no útero podre do Beco das Lavadeiras, ali no bairro Santo Antônio, Aracaju — um lugar com mais histórias sombrias do que horas de programação da nossa emissora. E olha que somos conhecidos por passar desgraça 24h sem interrupções!
Acompanhe comigo… se tiver coragem.
Eram cerca de 22h34 quando nosso bravo — ou t**o, depende da perspectiva — detetive Victor Raines chegou ao beco. A noite estava abafada, úmida, e com aquela sensação gostosa de que algo está observando você da escuridão. O tipo de clima perfeito para crimes, rituais, mutações bizarras e para encontrar seu ex.
A luz do poste piscava como se tivesse medo de iluminar demais. Luz boa atrai testemunha, e testemunha… dá trabalho. Mas vamos ao ponto importante: o cheiro. Meus queridos… o cheiro daquele beco era tão forte que até minha maquiagem começou a rachar só de assistir às gravações.
Era um perfume composto de:
lixo fermentando há meses,
urina envelhecida,
fezes petrificadas,
e aquele aroma doce, nauseante, de algo que já morreu, mas insiste em continuar exalando.
Victor entrou ali como quem atravessa o portão do Inferno, e nosso câmera estava atrás, tremendo tanto que parecia filmar em terremoto.
Ao lado do detetive estava a legista Clara Montague, a mulher com mais estômago do departamento, mas que, naquele dia, parecia prestes a desmaiar. Ela tremia, segurando o bloco de notas contra o peito como se fosse um amuleto sagrado.
E então… eles viram.
Lá, preso à parede, estava o bebê.
Um bebê quieto, imóvel, completamente engolido por um emaranhado de raízes vivas, grossas, escuras e pulsantes. Como tentáculos vegetais sedentos. Elas perfuravam o corpinho, atravessavam ombros, costelas, coxas, mantendo a criança suspensa com uma precisão diabólica. Não havia sangue escorrendo — as raízes pareciam ter aprendido a evitar veias principais. Delicadeza monstruosa.
Os olhos do bebê, abertos, vazios… vidrados. Sem lágrimas. Sem choro.
Clara engoliu em seco e murmurou:
— “Detetive… é o bebê número três.”
Número três. Isso mesmo. Já estávamos diante de uma sequência. Um padrão. Uma assinatura. O tipo de coisa que, no nosso programa, aumenta a audiência e diminui a esperança.
Victor respirou fundo — ou tentou, porque respirar naquele lugar era quase um crime contra os próprios pulmões.
— “Quem faria isso?”
E Clara respondeu com a sinceridade desconfortável de quem sabe algo que preferia ignorar:
— “Não é um ‘quem’, Victor. É um… ‘o quê’.”
Aqui, meus amores, é quando o Palhaço Taquicardia esfrega as mãos, porque a coisa fica boa.
Victor se aproximou mais do bebê. A câmera deu zoom. E vimos que as raízes tinham movimentos sutis — quase respirações. Elas se contraíam e expandiam, suaves, como se estivessem saboreando lentamente a vida da criança.
O chão ao redor?
Um verdadeiro buffet pós-festa de rituais malignos: pequenos pedaços de carne, ossos minúsculos, fragmentos de outros corpos infantis, formando um tapete de restos orgânicos. As moscas estavam em festa, zumbindo tão alto que parecia trilha sonora demoníaca.
Victor apontou para o chão com um visível tremor na mão.
— “Clara… isso aqui são…?”
A legista fechou os olhos, tentando manter a compostura.
— “Os restos do que sobrou. Quando eles não aguentam… as plantas… consomem tudo.”
Consomem. Devorem. Reaproveitam. Natureza é sustentável, meus queridos. Sustentável e homicida.
Ela continuou:
— “É como se algo estivesse transformando esses bebês em… oferendas.”
Sim, telespectador. O-FE-REN-DAS. Cada bebê, um pedacinho a mais na ceia mística do desconhecido.
Victor se ajoelhou, tentando observar melhor. E foi então que percebeu algo pior: as unhas do bebê estavam mutadas. Finas, alongadas, acinzentadas… pontiagudas como pequenas garras. Nada humanas. Nada naturais. Como se o ritual estivesse… remodelando a jovem criatura.
A câmera tremeu tanto que eu quase chamei o cinegrafista de volta da gravação. Mas deixei. A tremedeira dá um charme documental.
Clara apontou para a parede, onde marcas estranhas estavam entalhadas no tijolo. Símbolos repetidos nos outros casos. Uma linguagem vegetal? Um aviso? Ou só decoração de mau gosto?
— “É sempre igual, Victor. Sempre os mesmos símbolos. A mesma posição dos corpos. A mesma… estrutura. Isso aqui é um altar. Um altar vivo.”
E Victor, que já tinha perdido metade da cor do rosto, perguntou:
— “Altar pra quê?”
Clara não respondeu de imediato. E quando respondeu… foi o suficiente para calar o beco inteiro:
— “Não é humano. Seja o que for… está se fortalecendo.”
E então, algo aconteceu.
O vento soprou dentro do beco, mas parecia vindo de dentro da terra, não de cima. As raízes reagiram. Vibraram. Esticaram-se mais. Encostaram nos fragmentos de carne no chão, puxando-os suavemente. Incorporando-os. Absorvendo-os.
A câmera aproximou, e o telespectador viu em detalhes a raiz abraçar um pedacinho de mandíbula humana e levá-lo para dentro do complexo de raízes que envolvia o bebê.
Uma integração. Uma construção. Como se o bebê fosse o núcleo… e tudo ao redor fosse parte de um corpo maior.
Victor deu um salto para trás. Sua mão foi à arma. Coisa inútil, mas compreensível.
— “Isso não é… natural.”
Clara respondeu:
— “Natural não é. Mas é vivo. Muito vivo.”
Victor fechou os olhos com força, como se pudesse apagar aquela realidade. Mas quando abriu… foi pior.
O bebê piscou.
A raiz principal — a mais grossa — pulsou.
E a parede atrás deles começou a liberar uma seiva n***a, escura, viscosa, descendo lentamente como lágrimas de óleo.
A seiva tinha um cheiro peculiar… algo entre madeira queimada, sangue velho e fruta apodrecida.
Victor encarou Clara, desesperado:
— “Temos que cortar isso! Temos que tirar ele daqui!”
Clara, normalmente movida por empatia profissional, balançou a cabeça.
— “s*******r… mata a criança. Mata ela na hora. As raízes… são parte dela agora.”
E, meus queridos espectadores, deu para ver nos olhos do detetive que pela primeira vez na vida ele considerou fugir. Largar o distintivo. Virar vendedor de coco na praia. Qualquer coisa.
Mas ele ficou. E o horror continuou.
O Palhaço Taquicardia entra aqui para narrar a parte que mais me dá arrepios de alegria:
As raízes, como se coordenadas por um maestro invisível, começaram a mover-se de maneira sincronizada. A câmera registrou cada movimento. Cada tremor. Cada vibração. Era como se o beco estivesse… respirando.
A criança, mesmo imóvel, tremia no mesmo ritmo.
E então, algo absolutamente desnecessário — mas profundamente perturbador — aconteceu:
O bebê sorriu.
Não um sorriso largo. Não um sorriso alegre.
Um sorriso… sereno.
Um sorriso vazio.
Um sorriso que dizia:
“Eu pertenço a isso.”
Victor perdeu metade da sanidade naquele instante.
Clara ficou paralisada, com o lápis caindo da mão.
O cinegrafista começou a rezar baixinho. Não funcionou, mas valeu a tentativa.
O beco parecia vibrar com energia, como se estivesse prestes a dar à luz a algo maior, mais antigo e mais maligno do que qualquer registro humano.
Victor murmurou:
— “Quantos mais vão aparecer?”
Clara suspirou, derrotada:
— “Não sabemos. E temo… que nunca vamos descobrir a tempo.”
Porque o ritual não estava no fim. Estava no começo.
E enquanto a equipe tentava decidir se corria, gravava ou simplesmente implodia, as raízes estalaram como madeira molhada rasgando.
O bebê abriu os olhos completamente desta vez.
Os olhos… tinham um brilho.
Um pequeno reflexo verde.
A cor da vida.
Ou da morte.
E o sorriso voltou.
Longo.
Lento.
Sincero.
E assim, meus amores doentios, encerramos este episódio especial de TAQUICARDIA INVESTIGA.
Lembrando sempre:
Se você estiver andando pelo bairro Santo Antônio
e ouvir raízes estalando debaixo da terra,
não investigue.
Porque tem algo ali.
Algo crescendo.
Algo esperando.
Algo que adora bebês.
E talvez… esteja de olho em você.
Aqui é o Palhaço Taquicardia, agradecendo sua coragem — ou insensatez — por assistir até o fim.
Nos vemos no próximo caso.
Se você sobreviver.