Enzo Feler
O lugar era como o imaginado e contado por nossos pais, mas ainda melhor. Só de imaginar que não havia deixado minha melhor amiga e poder viver tudo isso com ela já me deixava alegre.
Em busca de nossos quartos, os encontramos logo. Assim que vi a colega de quarto na porta, preferi deixar Alice sozinha para que fizesse a amizade mais rápida, não dependendo de mim.
Por outro lado, a porta do meu quarto ainda estava fechada, mas um som alto que fazia a porta tremer saía lá de dentro. Dei dois toques, até um garoto loiro abri—la para mim.
— Você que é o meu colega de quarto? — Perguntou apertando a minha mão. — Sou o Caíque.
— Eu mesmo. — Confirmei, cumprimentando—o. — Enzo.
Suas roupas estavam sendo colocadas em um armário ao lado da cama dele, achei que seria o momento certo para fazer o mesmo.
—Veio de que lugar? — Perguntou.
— Rio de Janeiro e você? — Perguntei.
— Santa Catarina, Florianópolis. — Respondeu com um sorriso, talvez lembrando—se de casa.
— Por que tão longe? — Sabia que poderia haver mais colégios como este em outros lugares.
— Meus pais. — Começou a contar. — Estudaram aqui, sabe como é.
— Qual o nome deles? — Como parecia ter a minha idade resolvi arriscar, vai que eram amigos dos meus pais.
— Meu pai se chama Thomas e minha mãe Aline. — Comecei a me lembrar de quando os meus pais e os da Alice conversaram sobre tudo que aconteceu nesse colégio e esses nomes me eram familiar.
— Seus pais comentaram o nome de alguns amigos? — Perguntei curioso com sua resposta.
— Meu pai me contou uma história de uma menina chamada Camila, sua melhor amiga aqui. — Explicou, tentando relembrar mais coisas. — Foi ela quem o motivou a ficar com minha mãe.
— Camila é o nome da mãe da minha melhor amiga que também está estudando aqui. — Contei, o fazendo soltar uma expressão engraçada.
Após terminarmos com as roupas em seus devidos lugares, procuramos fazer algumas modificações nas paredes com quadros e fotos.
— Preciso de comida. — Caíque pediu soltando uma risada.
— Será que já estão servindo comida no refeitório? — Perguntei analisando o horário no relógio.
— Das 18h30min até 21h. — Contou Caíque.
O lugar estava extremamente cheio o que dificultava a passagem das pessoas. Nós nos deparamos com todas as mesas lotadas, o que desmanchou a cara de felicidade do Caíque.
— Nossa primeira noite aqui e teremos que esperar alguém desocupar uma mesa. — Reclamou com cara f**a.
Ao percorrer meus olhos por todo o refeitório encontrei um braço levantado, movimentando—se de um lado para o outro, Alice. Minha amiga sempre adorável e fazendo questão de guardar um lugar para mim.
— Vamos. — O puxei para pegarmos nossa comida.
— Não vou comer em pé. — Reclamou mais uma vez emburrado.
— Nós temos uma mesa agora. — Comentei baixo.
— Não sei onde você está vendo. — Revirou os olhos mas não deixou de pegar duas fatias de pizzas e um hambúrguer.
Após passarmos pela máquina de refrigerante, nos dirigimos para a mesa onde Alice e sua amiga conversavam sobre alguma coisa.
— Chegamos. — Anunciei nossa chegada.
— Olá Enzo, essa é a minha amiga Milena. — Ela apresentou sua colega de quarto, que tinha por sinal o cabelo bem chamativo.
— Este é o Caíque. — Meu novo colega de quarto. — Acredita que o pai dele é o Thomas? — Perguntei e pude ver os olhos de Alice brilhar, ela adorava a história da sua mãe com ele, provavelmente ficou encantada.
Sentamos—nos juntos, as meninas de um lado e nós dois do outro.
— Parecem que vocês não comem há séculos. — Milena finalmente abriu a boca.
— Estou apenas com os amendoins do avião. — Reclamei e de fato a resposta justificava a minha fome.
— Mentira que você sempre foi assim. — Como sempre Alice se metendo onde não era chamada, como aguento essa menina por tanto tempo?
— Falou à menina que pegou três fatias de bolo e uma de pizza. — Ela deveria estar envergonhada com o comentário de Caíque, sorriu de um jeito tímido, mas era diferente, percebi na troca de olhares.
As besteiras faladas à mesa eram indiscutíveis. O relógio que estava em cima da porta do refeitório marcava 20h30min, realmente demoramos um pouco lanchando.
— Nós estamos indo para os nossos quartos. — Alice avisou, levantando—se com a amiga.
— Ainda está cedo. — Caíque pronunciou—se.
— Amanhã será um dia longo. — Explicou Milena.
Não entendi o sentido de longo, pois ainda era sábado e as aulas só começariam na segunda—feira. As meninas deixaram o refeitório rapidamente, parecendo com pressa. Duvidei alguns segundos de Alice que tinha o olhar sapeca.
Os meninos resolveram jogar futebol, embora estivesse com vontade minhas pernas estavam enferrujadas e doloridas. Sentei na arquibancada que estava vazia, entre tanto alguns grupos de meninas concentravam—se na parte superior cochichando sobre algo.
— Oi. — Uma menina bonita, porém tímida aproximou—se e sentou—se ao meu lado.
— Olá. — Sorri, apreciando seu corpo bem cuidado e bonito.
— Qual o seu nome? — Suas covinhas agora apareciam, deixando seu rosto ainda mais bonito.
— Enzo e o seu? — Estava começando a me interessar.
— Gabriele. — Deu a não para me cumprimentar, mas precisava aproveitar o momento e depositar um beijo em sua bochecha, deixando—a acanhada.
Embora o assunto estivesse bacana, ainda mais sabendo que morava na mesma cidade que a minha, Caíque nos atrapalhou e ainda por cima tentou jogar um charme para ela.
— Prazer, sou o Caíque. — Beijou a mão dela, dá para acreditar? — Colega de quarto do Enzo.
— Me chamo Gabriele. — Sorriu tímida, mas agora parecia estar mais aberta.
— Estou indo para o quarto, te espero? — Pensei em ignorar seu pedido, mas já passava das 22h e estava cansado.
— Estou cansado. — Comentei, levantando—me. — Quer nos acompanhar? — Fiz o papel de bom moço para que a mesma não fosse sozinha até seu quarto.
Gabriele esboçou um sorriso e balançou a cabeça positivamente nos acompanhando.
— Quantos anos você tem? — Caíque perguntou interessado.
— 15 anos. — Ela respondeu desinteressada.
— Em que quarto está? — Minha pergunta foi mais objetiva.
— No 201. — Respondeu—me olhando diretamente em meus olhos.
O bom era que estava no mesmo corredor que o nosso. Mas a parte r**m é que normalmente Alice ficava com um ciúme monstruoso e me queria só para ela, fazendo questão de todas as meninas saberem disso.
Quando a deixei no quarto, ela pegou o celular na mão pela primeira vez. Fez questão de pedir todas as minhas redes sociais e claro o número do meu celular. Ao nos despedirmos com um beijo na bochecha, deparei—me com Alice nos encarando, seu olhar era mortal.
Andei calmamente até a porta do seu quarto, mas fui surpreendido quando a mesma entrou rapidamente trancando a porta. Não entendia esses ciúmes obsessivos sobre mim já que éramos melhores amigos. Está certo que normalmente ninguém quer dividir suas amizades, mas nada de exageros.
Jogado na cama sentia saudade de casa. Gostaria de saber o que meus pais estavam aprontando. Estariam dando uma festa? Era muito para a minha imaginação. Finalmente estava me tornando mais independente e ainda mais com Alice por perto, afinal ela precisava de alguém ou era eu que precisava dela?
O sinal estava muito baixo, mas assim mesmo resolvi mandar uma mensagem para casa.
"Está tudo como vocês contaram, mas mais bonito. Estou com saudades. Não se esqueçam que amo vocês dois."