- "Sabe, a vida de um herói não é fácil. As pessoas vivem esperando o melhor de você, elas pensam que você está sempre por cima, mas ninguém conta o quão sacrificado é levar essa vida.
As pessoas hoje me chamam pelo meu nome, elas me conhecem, elas sorriem toda vez que me vêem, mas porque eu ainda me sinto tão vazio? Eu não tenho mais nenhum prazer em estar vivo, todos os dias eu sinto o desprazer de acordar e ter de aguentar mais problemas do dia a dia. Estou cansado de carregar um fardo tão pesado e uma responsabilidade imensa.
Todos estão do meu lado, porém ninguém vê que eu estou morrendo aos poucos, por dentro. Me sinto sozinho, e ninguém pode me ajudar, só restou eu, a escuridão dos meus pensamentos e a minha depressão, já pensei em acabar com meu sofrimento mais de uma vez, porém não tenho coragem suficiente pra isso..."
Em uma manhã nublada e fria, Ethan escrevia isso em seu diário, enquanto estava sentado no ônibus, ele olhava pra janela e via as árvores passando rapidamente, ele encosta a cabeça na janela, e põe fones no ouvido, e tenta descansar um pouco, mas não consegue.
Ele pega o celular e pensa em conversar com alguém, na esperança de se distrair, e o primeiro número que ele vê é o de Evelline, e ele relembra de tudo o'que aconteceu na última vez que ele a viu, uma lágrima escorreu pela bochecha enquanto ele lembra, e então apaga o número dela, e depois guarda seu celular.
Ao menos ele se sentia sortudo por pegar um ônibus vazio, só que o motorista o observava pelo retrovisor, Ethan se sentia desconfortável com aquilo, mas era melhor do que se tivesse uma multidão de pessoas em volta dele.
Ele vê que já estava se aproximando de seu ponto, então ele se levanta e aperta o botão de sinal para descer, e o ônibus para, antes de ele descer, o motorista faz um pedido:
- Com licença, Sr. Extraordinário.
- Sim?
- Meu filho é um grande fã seu, ele tem uma coleção de revistas em quadrinhos suas, e hoje é aniversário dele, se importa de dar um autógrafo?
Ethan respira fundo, e aceita. Definitivamente ele não estava acostumado a receber toda aquela atenção.
- Qual o nome dele? - perguntou Ethan, com uma revista e a caneta na mão.
Ele reparou que a revista em quadrinhos tinha vários desenhos e representações dele, e mesmo sem o consentimento de Ethan, elas foram publicadas. Recorrer até passou pela cabeça dele, mas naquela altura já era tarde, todos já tinham essa revista e várias outras com histórias inventadas por outros autores.
- O nome dele é Ernesto.
Ethan vê que o motorista tinha um broche no peito escrito "Ernesto".
- Júnior, eu imagino?
- Não, só Ernesto mesmo.
Ele estranha, mas mesmo assim autografa, e olha com desconfiança para o homem, e então entrega a revista.
- Aqui está.
- Muito obrigado senhor. Tenha um ótimo dia.
Ethan acenou com a cabeça, e então desceu do ônibus.
Assim que ele desceu, o ônibus deu partida imediatamente, e ele colocou um capuz e foi andando pela calçada.
O local em que ele estava era um campo enorme e verde com muitas árvores em volta, com um hospital logo ao lado, Ethan andava rapidamente, até que ele enfim chega ao seu destino, o hospital.
Ele entra, e vai direto até a recepção.
- Posso ajudar senhor? - perguntou a recepcionista.
- Vim visitar Sherry Miles. - disse ele, tirando o capuz.
A recepcionista vê aquele cabelo castanho e levemente bagunçado e aqueles olhos castanhos e faz uma expressão de surpresa e põe a mão sobre a boca.
Ethan dá um sorriso sem graça, e diz:
- É... eu sei. Só vim ver como minha mãe está, e já vou indo.
- Ah... claro, senhor Extr... quer dizer, senhor Miles, ela está no quarto C233.
A recepcionista deu um crachá a Ethan, e ele agradeceu, depois foi diretamente pelas escadas para os quartos dos pacientes.
Ele colocou o capuz e foi passando pelos médicos e enfermeiros de cabeça baixa, até que ele chega no quarto C233, bate na porta e entra.
Sherry estava deitada na cama, assistindo a um programa de culinária que ela adorava, ela olha pro lado e quando vê Ethan, abre um sorriso enorme.
- Ethan! Meu filho!
Ele vai dar um abraço em sua mãe.
- Como você está, mãe?
- Melhor agora. Como você tem passado?
- Ah... tenho me virado.
- Tem se alimentado direito? Está fazendo tudo direitinho?
Ele dá uma risada abafada, e responde:
- Sim, sim, não se preocupe. É impressionante, mesmo você nesse estado ainda tem cabeça pra se preocupar comigo.
- E como não teria? Você é meu filho!
E eles dois riem.
- Senti muito sua falta mãe. Não sei como consegui ficar tanto tempo longe.
- Você esteve fora lutando pelo mundo querido, não há problemas nisso.
Ele então abaixou a cabeça, e com muita preocupação ele perguntou:
- A senhora viu alguma coisa?
- Não. Os médicos me deram o sedativo na hora que começou, pra que eu não visse nada, foi um favor que eles fizeram. Eu provavelmente morreria de preocupação.
- Que alívio.
- Eu acordei com a notícia de tudo oque aconteceu, mas que você estava bem e já estava voltando pra cá.
Estou tão orgulhosa.
- A senhora nunca apoiou muito esse lado heróico da minha vida, não é?
- Eu realmente não apoiava, não achava uma boa ideia você se expor assim pra encarar vilões ou qualquer coisa do tipo. Eu sempre achava muito perigoso. Mas eu mudei minha cabeça, você já está um adulto, sabe se cuidar, logo arruma uma boa moça pra casar e vai conseguir viver sua vida.
Ethan sorriu e abaixou a cabeça.
- Meu filho, me diga, a conta do hospital...
- Não se preocupe com isso mãe, estou cuidando de tudo.
- Mas como você...
- Relaxe. Confie em mim, desde que eu cheguei de Downtown, eu estive trabalhando bastante, recebi recursos do presidente e estou cuidando das coisas, vai dar tudo certo.
Ela sorri, e acaricia a bochecha de Ethan, ela deixa uma lágrima escorrer, e então diz:
- Você me lembra muito o seu pai.
Ele fica surpreso.
- A senhora nunca fala muito dele, ele morreu quando eu ainda era criança...
- Seu pai era um homem bem especial, ele era cheio de problemas como qualquer pessoa, mas ele te amava muito.
Sherry se ajeitou na cama, estando sentada agora.
- Foi ele quem escolheu seu nome.
- É mesmo?
- Sim. Ele sempre achou Ethan um nome muito bonito, e com um significado especial, que quer dizer soldado. Depois ele colocou o nome dele, Stevens, que quer dizer bondoso, e por fim o meu, Miles, durão.
Ethan dá um sorriso bobo, e diz:
- Eu não tinha noção disso, de que meu nome tinha um significado.
- Seu pai escolheu esse nome porque eram coisas que ele queria ter tido na juventude dele, mas que infelizmente não conseguiu, então ele desejou isso pra você. Sabe meu filho, seu pai perdeu praticamente todo o dinheiro que nós tínhamos, é por isso que hoje vivemos com tão pouco, mas oque ele tinha de mais precioso ele passou pra você.
- E o'que seria?
- Seu bom coração, e seu conhecimento. - disse ela colocando a mão sobre o peito e a testa de Ethan.
- Eu herdei dele?
Sherry deu uma risada, e respondeu:
- Mas é claro! Eu nunca conheci um homem com um coração tão grande quanto o de Henry Stevens! E inteligente também, seu pai foi responsável por uma série de avanços tecnológicos no mundo de hoje, e você herdou isso dele. Eu posso ver.
Ethan deixa cair uma lágrima.
- Você acha, mãe?
- Eu já me enganei com muitas coisas na vida, mas você nunca foi um engano meu filho.
Ethan se emociona, abraçando sua mãe, e Sherry o acolhe, com um sorriso no rosto e ela fecha os olhos sentindo o abraço dele.
- Eu te amo, meu filho. Eu tenho muito orgulho de você.
Os dois riem abraçados, até que Sherry começa a tossir, Ethan se assusta e imediatamente pega uma jarra e um copo do lado da cama, e dá a sua mãe, ela bebe a água, e respira melhor.
- Vai dar tudo certo no final meu filho, não desista, tenha força. - disse ela com um olhar de esperança.
Ethan sorriu entre as lágrimas, ele enxugou seu rosto, e disse:
- É, eu poderia viver esse momento pra sempre, mas eu preciso resolver algumas coisas agora. Mas eu prometo voltar para te visitar, combinado? - disse ele sorrindo para sua mãe.
- Você já torna minha vida muito mais feliz meu filho, não poderia desejar nada mais.
Ele dá um último abraço em sua mãe, depois a ajuda a se deitar na cama. Rapidamente Sherry pega no sono, Ethan a observa dormir, até que ele ouve um toque na janela do quarto pro corredor, ele olha pra trás e vê o Dr Clay, que faz um sinal para Ethan acompanhá-lo.
Ele sai do quarto e vai até a sala do doutor, ele estava esperando lá.
- Entre e feche a porta, Ethan. - disse ele quando Ethan chegou.
- Algum problema doutor?
- Já faz muito tempo que não nos vemos, desde aquela vez que você sofreu aquele acidente. - disse o doutor.
- Eu lembro, vim fazer exames para ver meu estado físico, e o senhor ficou impressionado.
O médico deu uma risada.
- Sim, com certeza. Eu não sabia, naquela época, quem você era de verdade, mas agora tudo faz sentido.
- É, eu gostaria que ninguém soubesse.
- Está tendo dificuldade de lidar com a fama indesejada?
- Você não tem noção...
- Bom, de qualquer forma, eu te chamei aqui por uma razão, Ethan.
- Sou todo ouvidos.
- Primeiramente, a dívida que você tinha deixado na conta da sua mãe no hospital...
- Eu vou pagar, só me dá mais alguns dias!
- Isso não será necessário. O Sr. Austin Armstrong quitou toda essa dívida, e está fornecendo todo o atendimento especial para sua mãe, com tecnologia de ponta e médicos extremamente competentes.
- Austin... sim, entendo.
- Entretanto...
Ethan olhou para Clay, com os olhos semicerrados.
- Fui honesto com você quando esteve hospitalizado, não seria correto da minha parte ocultar a verdade agora.
- Diga logo, doutor!
- Temo que todo esse esforço para ajudar sua mãe seja em vão, Ethan.
- D-Do que está falando?
- O caso dela é extremo, não é comum um câncer daquele na idade dela, e está muito avançado, já tomou maior parte dos órgãos.
Ethan encosta na cadeira, e ele põe a mão sobre a boca, e então ele começa a chorar.
- Sinto que a única maneira de salvar Sherry agora é justamente com algo extraordinário.
- Não... - disse Ethan.
- Como disse?
- Eu não tenho esse poder, eu não posso curar ninguém!
Clay fica preocupado, e então ele sugere a Ethan:
- Então, se você assinar isso, teremos a sua permissão como familiar para desligar os aparelhos. - disse ele passando uma prancheta para Ethan.
- Ela vai sofrer menos, eu garanto. - disse o doutor.
Mas Ethan empurrou a prancheta de volta pro doutor, e seu celular começou a tocar nessa hora.
Ele se levanta e vai pra fora da sala atender, mas antes de sair ele vira pro doutor e diz:
- Continue tratando dela, doutor.
Ele sai, fecha a porta e atende o celular:
- Alô?
- Chefe? Temos um problema.
- Eu já disse pra não me chamar assim, Louis. O'Que aconteceu?
- Acho que o senhor vai querer dar um pulinho aqui na empresa.
- Certo, estou indo.