Amarras do Poder

676 Words
BEN Mano, o clima no morro tá pesado, e a culpa é minha. Eu que tô botando fogo na gasolina. Chamei os homem de confiança, os caras da contenção, lá no QG. A sala tava cheia de fumaça de cigarro e tensão. — Escutem aqui — falei, a voz saindo naquele tom de chefe que não discute. — Tô sabendo que o Matemático, o pai do Douglas, vai ser solto. O nome dele é Eduardo. Matemático é apelido de banco, esquece. O cara é esperto, mas não é daqui. Não é da nossa área. Então vou deixar claro: Matemático não pisa nesse morro sem minha autorização. Nem pra visitar, nem pra respirar. Se ele der as caras, vocês seguram ele. E me avisam na hora. Tá entendido? Os caras ficaram quietos, só acenando com a cabeça. Eles me obedecem, mas dá pra ver no olhar deles que acharam estranho. Por que o chefe tá com essa neura com um ex caixa de banco que vai sair da cadeia? Eles não sabem. E eu não posso contar que é porque tô comendo a mulher dele e a ideia do cara voltar me deixa louco de ciúme. Depois da reunião, a cabeça tava uma bagunça. Precisava ver ela. A Keyla. Fui pra casa dela de madrugada, como sempre. Ela abriu a porta, com aquele roupão, linda mesmo com sono. Mas hoje não teve beijo carinhoso. Eu tava com um fogo interno que não era só t***o. Era raiva, ciúme, culpa. Empurrei ela pra dentro, fechei a porta com o pé e já fui puxando o roupão. Ela tentou falar alguma coisa, mas eu tapei a boca dela com a minha. O sexo foi agressivo. Contra a parede do corredor. Eu metendo com força, segurando os pulsos dela, querendo marcar, possuir, como se assim eu pudesse garantir que ela era minha. Ela gemeu, mas não era daquele jeito gostoso de sempre. Era diferente. Tinha um quê de dor. Quando a gente acabou, cai no sofá, ofegante. O silêncio foi pesado. — Você vai ter que escolher — falei, a voz ainda rouca. — Entre ele e eu. Quando ele chegar, você vai ter que escolher, Keyla. Ela começou a chorar. Baixinho, mas cada soluço era uma facada no meu peito. — Vai ser difícil, Ben. Não posso… não posso destruir minha família. O Douglas… — O Douglas NUNCA pode descobrir! — gritei, me levantando. — Isso destruiria ele, Keyla! Você não entende? O melhor amigo, que ele considera como um irmão dele com a mãe? Ele não aguentaria. Ela encolheu no sofá, se fazendo pequena. E eu me senti um merda. Um lixo. Mas o medo de perder ela era maior. Nesse momento, o celular vibrou. Era o advogado em plena madrugada, aquele que eu pago pra ficar de olho em tudo. — Fala. — Ben, só atualizando. O Eduardo, o Matemático… a soltura foi antecipada uns dias. Chega em duas semanas. Duas semanas. A merda toda ia cair em cima da gente em duas semanas. Desliguei e joguei o celular no sofá. Keyla me olhou, assustada com a minha expressão. — Duas semanas — falei, seco. Saí de lá me sentindo o ser mais baixo do mundo. Fui pro campinho onde a gente treina às vezes. E lá estava ele. O Douglas. Inocente pra c*****o, treinando tiro num alvo velho. Com uma concentração no rosto, um sorriso b***a quando acertava o centro. Tava feliz. Tava feliz porque o pai dele ia voltar. Ele não fazia ideia que o irmão dele, o cara que ele mais confiava, tava metendo forte na mãe dele e planejando como manter o pai longe. Fiquei observando ele de longe, o coração pesado como chumbo. Para proteger o amor dela, eu teria que mentir para o meu mano que um dia jurei sempre contar tudo — e o peso da coroa nunca havia sido tão pesado. Eu era o rei do morro, mas naquela hora, me senti um prisioneiro. Preso na minha própria mentira, e com medo do dia que as paredes iam desabar.
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