Atrás da verdade...

1307 Words
No dia seguinte, decidi ir até a casa de minha mãe. Depois de tomar meu café da manhã, pedi ao meu marido que me levasse até lá, e ele concordou. Ao chegar, apertei a campainha, mas ninguém atendeu. Isso me deixou intrigada, pois minha mãe sempre me avisa quando vai sair de casa. Sabendo onde ela escondia as chaves — dentro de um vaso com flores na varanda — procurei nos vasos até encontrá-las. Despedi-me do meu marido e entrei na casa. Procurei por todos os cômodos, mas parecia que minha mãe realmente não estava em casa. Sentia como se ela estivesse fugindo de mim, tentando evitar me contar algo importante. Peguei meu celular e liguei para ela, mas a chamada caiu na caixa postal. Decidi então sentar no sofá da sala e esperar. Após uma hora sem notícias, levantei-me e fui até o quarto dela, na esperança de encontrar alguma pista. O baú ao lado da cama estava trancado com um cadeado. Comecei a vasculhar as gavetas e caixas em busca da chave. Olhei por toda parte, mas não encontrei nada. Frustrada, deitei-me na cama de minha mãe e fiquei alguns segundos olhando para o teto. Quando virei o rosto, percebi um quadro torto na parede. Levantei-me rapidamente, tirei o quadro e encontrei uma chave colada com fita na parede. Com a chave em mãos, fui até o baú, agachei-me com cuidado, respirei fundo e abri o cadeado. No exato momento em que consegui abrir, ouvi uma voz atrás de mim. — Você é muito curiosa, querida! Olhei para trás e vi minha mãe, com um sorriso no rosto, parecendo ter acabado de sair de uma festa. Ela estava toda arrumada. — Mãe? Que roupa é essa? Por que não estava em casa? Onde você esteve? Foi a alguma festa? — perguntei, com angústia e ansiedade na voz. — Calma, filha. Eu só fui resolver algumas coisas. Não há festas de manhã. As festas que eu conheço acontecem à noite — respondeu ela, rindo e parecendo despreocupada. — Aliás, o que você está fazendo aqui? Agora anda vasculhando as coisas dos outros? Fiquei em silêncio por alguns segundos, levantei-me e sentei na cama. Abaixei a cabeça e brinquei com meus dedos. — Eu preciso saber onde está minha irmã. Isso é importante para mim, mãe! Minha mãe sentou ao meu lado e segurou minhas mãos. Por um momento, senti um toque carinhoso e acolhedor. — Pare de se preocupar com isso. Preocupe-se apenas com você e com o seu bebê que está por vir. — Não tem como não me preocupar. Eu tenho o direito de querer minha irmã perto de mim. Sei que você está escondendo algo. Fale agora! — Elevei a voz e me afastei dela. Ela abaixou a cabeça, pensou por alguns instantes e, em seguida, me olhou profundamente, suspirando antes de dizer: — Filha, sua irmã morreu... — O quê? Por que não me disse isso ontem no telefone? Eu pensei... eu pensei que a garota que estão procurando poderia ser ela. — Minha voz tremia e eu quase não conseguia respirar de tanta tristeza. — Filha, me desculpe. Eu não sabia como te contar isso. Ela morreu quando você tinha 4 anos. Achamos que não era necessário te falar sobre isso. — Mas me encher de esperança com uma possível pista sobre onde ela está, você acha que é necessário? — Gritei, a raiva e a tristeza transbordando em minhas palavras. A revelação chocante deixou o ar pesado no quarto. Minha mãe parecia pesar cada palavra, como se tentasse encontrar a maneira mais gentil de comunicar essa notícia devastadora. Ela olhou para mim, com os olhos cheios de uma tristeza profunda e arrependida. — Eu sei que é difícil — começou ela, com a voz embargada. — Eu só queria proteger você da dor. Às vezes, é mais fácil manter certas coisas em segredo, mesmo quando isso não é o melhor. Levantei abruptamente, com as emoções conflitantes se misturando em meu peito. A dor da perda de minha irmã e a frustração pela falta de honestidade estavam colidindo dentro de mim. — Como você pôde achar que isso era o melhor? — Gritei novamente, com a voz cheia de desespero. — Eu passei o dia todo procurando respostas, e agora descubro que você sabia o tempo todo? Minha mãe se aproximou, com os olhos cheios de lágrimas, tentando alcançar um entendimento comigo. — Eu não queria que você vivesse com a tristeza da perda. Eu queria que você tivesse uma infância feliz. Pensei que, com o tempo, você poderia lidar melhor com isso. Mas eu vejo que errei e sinto muito. Balancei a cabeça, não sabendo se conseguia aceitar as explicações. Havia um vazio imenso, um espaço que deveria ter sido preenchido com a verdade, mas que agora estava cheio de arrependimento e dor. — Eu só... — Minha voz falhou e me sentei novamente na cama. — Eu só queria saber onde ela estava, ter um pouco mais de clareza. Minha mãe se aproximou e se sentou ao meu lado, segurando minha mão com mais firmeza. — Eu sei, filha. E eu entendo sua frustração. Quero que você saiba que estou aqui para te apoiar. Vamos enfrentar isso juntas. A conversa continuou por um bom tempo, onde as verdades dolorosas foram compartilhadas e os sentimentos foram colocados à mesa. Apesar da dor e da raiva, eu senti uma leve sensação de alívio por ter finalmente ouvido a verdade, mesmo que tenha vindo tarde demais. A partir daquele momento, o processo de lidar com a perda e de reavaliar a própria história se tornava uma nova jornada a ser enfrentada. Ao voltar para casa, a sensação de vazio e confusão ainda pairava sobre mim. A chave da casa ainda estava em meu bolso, e a bagagem emocional da descoberta se fazia presente em cada passo que eu dava. Meu marido estava na sala, concentrado em algo no computador. Ele levantou a cabeça ao ouvir a porta se abrindo e logo percebeu o estado abatido em que eu estava. — Como foi? — ele perguntou, notando a expressão tensa no meu rosto. Respirei fundo, tentando reunir as palavras certas, enquanto a pressão no peito parecia aumentar. — Não foi como eu esperava — comecei, a voz trêmula. — Amor... ela não estava em casa. Eu encontrei um baú trancado e, quando consegui abri-lo, ela apareceu. Meu marido fechou o laptop e se levantou, preocupado. — E o que ela disse? Dirigi-me ao sofá e me deixei cair, com os olhos cheios de lágrimas. — Ela me contou algo que eu não esperava. Minha irmã... ela morreu quando eu tinha 4 anos. Minha mãe sabia disso o tempo todo, mas nunca me contou. Achei que a garota que estavam procurando poderia ser ela, e agora eu descobri que foi tudo em vão. Meu marido se aproximou e se ajoelhou ao meu lado, pegando minhas mãos nas dele. — Isso deve ser extremamente difícil para você. Sinto muito por toda a dor que você está passando agora. Assenti, tentando controlar o choro. — É tão doloroso. Eu passei o dia todo esperando por uma pista, e agora descobri que a verdade foi escondida de mim. Eu só queria entender, saber o que realmente aconteceu. Ele me puxou para um abraço apertado, oferecendo conforto e apoio. — Vamos enfrentar isso juntos. Você não está sozinha. Se precisar de tempo para processar, estou aqui para te ajudar em cada passo do caminho. Aninhei-me em seus braços, sentindo um pouco de alívio pela presença reconfortante. A dor ainda estava presente, mas ter alguém ao meu lado ajudava a torná-la um pouco mais suportável. O caminho para a recuperação emocional seria longo, mas saber que não precisava enfrentar isso sozinha era um pequeno consolo em meio à tempestade.
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