Perdida no alemão (MORRO)

04 - Perdi as esperanças..

LARA NARRANDO.

Três semanas depois ~

Se passaram alguns dias desde que a pessoa que eu tinha que chamar de pai, mas que não cumpria com papel de forma alguma, faleceu, os dias estão passando mais devagar do que nunca. O trabalho tem sido mais pesado, o clima também, parece que o mundo acabou, mas não para mim, e sim para a minha mãe. Ela amava o meu pai, com todas as forças que ela ainda tinha, com toda a força que restava depois de todo o trabalho, e sua má alimentação. Enfim, ela continua deprimida, somente a base de remédios que está pegando da mãe da Helo. Olha, o que era difícil está ficando quase que impossível para mim. Eu estou completamente sem esperanças de que algo bom realmente vai acontecer na minha vida. Todos os dias quando acordo não sinto vontade de nada, os meus irmãos chorando, a outra doente, minha mãe depressiva. Eu nem sei dizer ao certo de onde é que vem a minha força, sinceramente..

Estamos trabalhando na roça atualmente, com o pouco de serviço que um vizinho nosso passa. É o que conseguimos para pelo menos comprar um arroz, porque tá caro demais, nem dá pra comer mistura. Na verdade eu não me recordo quando foi a última vez que comi alguma coisa desse tipo, como uma carne ou algo assim.. Nem as galinhas aqui de casa está dando para manter, todas elas morrem porque não temos dinheiro nem para nós, imagina só para manter a ração ou alguma comida para elas.

Está complicado. A fome dói, é uma dor muito mais emocional do que física. As vezes eu até peço a Deus que ele me leve..

— Lara, vai ajeitar os seus irmãos, eu tô com muita dor, não consigo nem ficar em pé. Estou muito m*l filha.

— Eu já estou fazendo isso, até porque se eu não fizer, ninguém mais faz né? É tudo eu nessa casa.

— Eu tô com dor mas se precisar levantar para ir aí te dar uma surra eu consigo. — Ela disse com aquela voz insuportável que até isso já estava me irritando.

Sabe, as vezes eu fico até um pouco pensativa por conta do que estou me tornando. Uma pessoa que está ficando completamente sem paciência com tudo e todos, até mesmo com os meus irmãos que são o que eu mais amo nessa vida.

Mas tá complicado, tá pesado. Sozinha eu já não consigo mais..

— Então levanta e já aproveita e cuida dos teus filhos, porque que eu me lembre eu não tenho filho ainda não. — Respondi para ela, mesmo sabendo que o que ela mais odeia é que eu responda desse jeito, mas até com isso eu já não me importo mais.

— Lara eu vou aí quebrar a tua cara e esses dentes de cavalo. — Ela disse e ao mesmo tempo fez um barulho estranho, como se tivesse jogado alguma coisa.

— Faz o que tu quiser Joana, por mim eu já nem me importo mais, ele te abandonou sozinha com 4 filhos, passando fome e você fica ai sofrendo — Eu disse e saí batendo a porta. Continuei ouvindo alguns gritos dela, mas não conseguia entender por completo as palavras que estava dizendo.

Eu cheguei a um ponto que estou realmente pouco me importando com o que ela diz, com o que ela faz.. Eu perdi completamente a vontade de qualquer coisa, eu nem tenho mais vontade de viver. Eu só quero sumir daqui o quanto antes, e sinceramente, a única coisa que me impede são os meus irmãos, porque a minha mãe ao invés de ajudar com alguma coisa, só fica naquela maldita cama, achando que vai resolver alguma coisa.

E o que mais me revolta é saber que o choro dela é por alguém que já não vai voltar mais e que acima de tudo, quando estava vivo, tratava ela como um lixo, não dava valor em nada, nem ao tesouro da vida dele, que ele dizia para os outros nos bares por aí, que eram os filhos dele...

Se depender de mim, em pouco tempo eu vou fazer o que for possível para sumir daqui. E quem sabe assim minha mãe dê valor no que eu faço, quando eu já não estiver mais para atender a tudo que ela manda!

Eu só queria novamente conseguir sorrir sem sentir que o meu peito está apertado, dominado por vários tipos de sentimentos que me fazem m*l. Eu só queria ser feliz, como eu nunca fui. Porque de verdade, eu nunca fui feliz!