Prólogo

654 Words
Melione, com seus poucos anos de vida, balançava as pernas pequenas no banco de trás, impaciente. — Falta muito para chegar em casa? — perguntou, olhando para sua mãe com olhos curiosos e um leve traço de cansaço. — Calma, querida. — respondeu Carlotta, com sua voz suave, quase uma melodia que parecia sempre acalmar os filhos. — Melione, você já perguntou isso umas cinco vezes. — Dante, o irmão mais velho, não conseguiu resistir à oportunidade de provocá-la. A menina franziu a testa, cruzando os braços em um gesto dramático. — Eu não estava falando com você. Do volante, o pai solta uma risada baixa, achando graça do comportamento dos pequenos. Mas seu riso logo some, dando espaço para uma expressão de tensão em seu rosto. — Droga. — murmurou ele, os dedos apertando o volante com força. Mais à frente, uma van estava parada no meio da estrada, aparentemente inofensiva, mas para Malthus aquilo era um sinal claro de perigo. Ele girou o volante abruptamente, fazendo o carro dar meia volta enquanto acelerava. — O que está acontecendo, pai? — A voz de Melione estava carregada de nervosismo, seus olhos brilhando com lágrimas que ameaçavam cair. Malthus, estende uma pistola para Carlotta, que a toma em suas mãos sem hesitar, segurando o objeto com firmeza. Antes que pudessem ter mais alguma reação, um tiro estridente cortou o silêncio da noite, ecoando pelos ares. O carro perde o controle no exato momento, as rodas derrapam na estrada molhada, e em questão de poucos segundos o veículo sai da pista, descendo por uma ribanceira. No momento em que o carro começou a capotar, tudo dentro dele parecia desacelerar. Para Melione, era como se o tempo tivesse congelado. As lembranças de sua curta vida passaram diante de seus olhos como cenas de um filme: as brincadeiras no jardim, os abraços apertados de sua mãe, o riso reconfortante de seu pai. Do lado dela, Dante estendeu a mão, agarrando a dela com força. Quando seus olhos encontraram os dele, ela pode ver lágrimas silenciosas caírem. E de repente, tudo se apagou. ✯ Melione acorda sendo arrastada pelo pai, que a deixa deitada na grama e volta correndo para o carro já em chamas. Seus pequenos olhos escuros paralisam de medo quando vê a figura de seu pai ao longe tentar atravessar o inferno de metal para salvar sua família. — Mãe... — A voz de Melione falha. Instintivamente, sua mão foi ao pescoço, onde uma dor ardente a fez estremecer, quando ela encara os pequenos dedos seus olhos se arregalam ao ver o sangue que escorre. — Dante... A dor física se misturava com algo muito mais profundo e avassalador. As lágrimas começaram a cair descontroladamente, embaçando sua visão. Tudo o que podia enxergar era o brilho incandescente do fogo, consumindo o carro que ainda há poucos minutos era um espaço seguro e cheio de risos. Enquanto o sangue escorre... A silhueta de seu pai surge diante das chamas ardentes, seu pequeno corpo treme quando nota que ele não conseguiu. O sangue escorre... O grito de dor pode ser ouvido ao longe, a garganta da pequena dói, mas não é o suficiente para aliviar a dor que sentia por dentro, o vazio que crescia dentro dela. As lágrimas caem... Seu pai se aproxima, se ajoelha e toma o corpo da filha em seus braços trêmulos, querendo tomar toda sua dor para si, lágrimas escorrem pelo rosto do homem mais velho, lágrimas de culpa, enquanto ele tenta proteger a criança de todo o perigo que passou e ainda virá. O sangue escorre ... — Mãe...— Os soluços impedem que a voz da criança seja ouvida com clareza, mas ele sabia. Ele sempre saberia. — DANTE!!! O grito final e estridente de Melione parte o silêncio da noite, enquanto pai e filha compartilham uma única dor. As lágrimas caem e se misturam com o sangue que escorre.
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