Capítulo 01

1357 Words
Salvatore. A chuva caia fina, mas o suficiente para encharcar meu casaco. As gotas batiam incansavelmente no capacete, criando um som rítmico que me distraia.a reunião da Darkspire havia se estendido mais que o esperado, e isso havia me cansado. Acelerei ainda mais quando a chuva começou a se intensificar. Fazia três noites que m*l colocava os pés em casa, voltando apenas para tomar banhos rápidos, logo depois mergulhava em meu mundo. Depois de longos minutos, finalmente avistei a propriedade Salvatore, que se erguia como um monólito silencioso diante de mim. As grades de ferro se abriam automaticamente, rangendo em um som agoniante. Reduzi a velocidade, permitindo que a sensação de estar em casa alivie a tensão. Estacionei a moto na garagem e caminhei em passos apressados até à entrada principal. A porta se abre antes mesmo que meu pé encoste o primeiro degrau, uma das funcionárias me esperava, me recebendo com um sorriso discreto, quase protocolar. Entrego o casaco a ela — acho que se chama Clara. Meus passos escoavam no chão de mármore, enquanto eu caminhava lentamente pelo saguão m*l iluminado. O calor do ambiente me envolvendo gradualmente. Subi as escadas em um ritmo lento, deslizando a mão pelo corrimão de madeira perfeitamente polido. Segui direto para o banheiro principal, onde a banheira já estava à minha espera, preenchida com água quente e espuma aromática, do jeito que pedi a Henry, antes de sair do prédio da Darkspire. Tiro as roupas molhadas e as deixo de lado, entrando devagar na banheira, deixando que a água quente envolva meu corpo, o calor afrouxando os músculos e tensos, mesmo que por pouco tempo. Havia muito a ser feito, muito a ser planejado, mas eu merecia aqueles breves minutos de paz. — Senhorita. — Uma voz familiar é acompanhada por leves batidas na porta. — Entre, querido Henry — Assim que a porta é aberta, uma silhueta alta e magra aparece atrás de mim. Me viro para vê-lo melhor. O velho Henry sempre mantém a postura inabalável, seus poucos fios de cabelo cuidadosamente alinhados, agora se encontram esbranquecidos. — Como foi a reunião? — pergunta, colocando as roupas limpas do meu lado. — A Darkspire está sendo investigada pelo FBI. — Suspiro, deixando a cabeça tombar para trás. — Houve outra discussão por nosso "amado" líder não comparecer novamente e enviar um dos seus substitutos. — Criança — ele interrompe —, se acalme. Pensou no que eu falei sobre férias? — Não tenho tempo para isso, Henry. — Fecho os olhos. — E se realmente estamos sendo investigados pelo FBI, preciso pensar em como despistá-los, ou isso pode levar tudo que meu pai conquistou por água a baixo. — Entendo. — Ele se aproxima, entregando a toalha. — Vou pedir para que coloquem sua janta, estava sentindo falta de fazer isso, visto que a senhorita parece ter esquecido que tem uma casa. — Estou de volta, não estou? — digo com um leve sorriso. Henry sempre se preocupou muito comigo, desde que eu era uma criança, e não posso culpá-lo, nunca fui calma, sempre escolhendo a vida agitada. Ele nunca aprovou minhas escapadas em busca de prazer. Saio da banheira e me enxugo pacientemente, visto a roupa e amarro meu cabelo em um coque frouxo, deixando algumas mechas caírem sobre o rosto pálido. Desço as escadas lentamente, podendo ouvir o som da chuva se intensificando lá fora, já se tornando uma tempestade. Henry já estava puxando minha cadeira quando apareço na sala de jantar, sento-me à grande mesa espaçosa e vazia. Henry se posiciona à minha frente, sério e implacável como sempre. Tomo um gole do doce vinho enquanto sustento seu olhar sobre mim. — Se me permite perguntar, — Ele começa, deixando bem claro o que está por vir. — Onde a senhorita passou essas noites? — Estava no apartamento perto daqui, nada de mais. — Dou mais um gole no vinho, enquanto tento manter a calma. — E esse nada de mais, inclui mulheres e drogas, mocinha? — Henry fala com firmeza, de um jeito íntimo. Ele sempre foi presente em minha vida, cuidando de mim e do meu irmão, foi ele que me ensinou os pequenos detalhes da vida, foi ele quem cuidou de mim quando minha mãe morreu, e anos depois, quando meu pai também. Henry é parte da família, tem uma autoridade inexplicável sobre mim, e essa autoridade podia fazer até mesmo meu pai, o patriarca da família, baixar a cabeça diante de seus sermões. Fico em silêncio, deixando que ele perceba por si só que está certo. Ele não fala nada, apenas suspira e me serve mais vinho. Assim que termino de comer, me levanto pacientemente. — Boa noite, criança. — Ele grita quando estou prestes a subir as escadas. — Boa noite, amo você. — Respondi, uma ressonância nos meus lábios. Subi as escadas rapidamente, sem olhar para trás, sentindo a distância entre nós aumentar a cada degrau. Quando entrei no meu quarto, o ambiente quente e aconchegante me envolveu imediatamente. Deixei as sandálias caírem onde quer que estivessem e joguei a blusa preta na cama. Em poucos segundos, me enrolei no edredom, posicionando-me como uma criança novamente, aconchegando-me até pegar no sono. ✯ Acordei com o som de batidas na porta, ainda meio atordoada, sentei-me a cama, apenas para ver a porta se abrir e Henry entrar. Ele vai direto para as cortinas, ignorando meus resmungos abafados. — O café está à sua espera, senhorita. — Sua voz era firme. Ele puxou as cortinas, e a luz do sol invadiu o cômodo sem piedade, aquecendo o ambiente e atingindo meu rosto com um calor reconfortante. — Vou só escovar os dentes e já desço. — Murmurei, levantando-me contra minha própria vontade. Caminhei até o banheiro, onde meu reflexo no espelho me encarava de volta. Meus olhos pousaram diretamente na cicatriz que marcava meu pescoço. Longa, profunda, eterna. Passar os dedos sobre ela era como revisitar um pedaço da minha história. Depois do café, fui para os escritório, antes de me sentar na cadeira, me detive diante do quadro que ocupava a parede central. Malthus Salvatore. Foi dele que herdei o nome, entrei na Darkspire para substituí-lo, continuei os negócios da família em nome dele. Ele ainda era muito jovem quando tiraram aquela foto, logo depois de ter herdado a fortuna da família, e junto com ela, as responsabilidades. É verdade que nossa família é conhecida desde sempre, mas foi ele quem expandiu o poder dos Salvatore, nossa família se tornou conhecida mundialmente, e se tornou temida entre os criminosos e qualquer um envolvido com eles. Ele se juntou a Darkspire quando ainda morava na Itália, e esse movimento foi o que abriu as portas para o domínio que ele tanto desejava. Agora era minha vez. Suspiro fundo enquanto sento na cadeira giratória, sentindo seu peso confortável, e peguei uma caneta. Minha mãe sempre dizia que escrever ajuda a acalmar a mente, a alma e o coração, e era disso que eu precisava. ✯ São cerca de cinco da tarde, e estou sentada em um café discreto, não muito longe da T.S. Saí do escritório uma hora mais cedo, não porque quisesse, mas porque precisava. Os problemas da Darkspire não esperam, e agora tenho duas encomendas para entregar. Com as autoridades em meu encalço, isso vai exigir mais cautela. Descobri esta manhã que meu nome está na lista de suspeitos associados à organização. Uma jovem garçonete se aproxima, trazendo meu pedido. Ela é loira, com cabelos ondulados que revelam a raiz escura, e olhos castanhos esverdeados que capturam a luz de maneira peculiar. Ela coloca o café à minha frente com um sorriso educado. Faço um gesto discreto de agradecimento, mas, para minha surpresa, ela não vai embora. Levanto os olhos, esperando que seja apenas um lapso, talvez ela esteja distraída, mas ela continua ali, imóvel. Por um instante, penso que está esperando por uma gorjeta ou algum agradecimento verbal. Faço o esforço de sorrir, tentando ser simpática. Ela retribui o sorriso, mas ainda não sai. E então ela diz, como se estivesse confirmando algo para si mesma: — Você?
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