Procurada

2905 Words
Não foi difícil para Evin adivinhar que Gisella e Hendrik tinham brigado outra vez porque quando voltaram para casa, cada um se trancou em seu quarto. Gisella podia ouvir Hendrik chorando baixinho e sentia-se m*l por isso. Não deveria ter sido tão dura com ele. Hendrik estava sentado na cama ao lado de uma pilha de lenços de papel. Estava espantado consigo mesmo porque não conseguia parar de chorar. Tentava entender o que fizera de errado que afastara Gisella. No início, os dois se amavam e ela o achava lindo, sedutor e gentil. Ele a achava meiga e inocente. Mas não era nada disso e “quando o relógio marcou meia-noite” todo o encanto se desfez. — Por que? — Hendrik perguntou num sussurro. Eles estavam noivos e iam se casar, o casamento dos sonhos, num belo salão como nos contos de fadas que ela tanto amava, com arranjos de rosas cor-de-rosa e brancas, música instrumental e o vestido que ela sempre desejou, mas ela se assustou, disse que era um passo importante e que não estava pronta. Evin e Damla Farkian tentaram enfeitiçá-la para que ela achasse que era só um sonho e se deixasse levar. Não deu certo. Uma limusine a levou até o local da festa. Gisella adentrou o salão sentindo um frio na barriga. Sabia que não deveria fazer aquilo, não assim em cima da hora, mas ela não esperava por aquele casamento “surpresa” e só ficou sabendo em cima da hora que se casaria. Encontrou seu noivo dançando alegremente com a prima, Mabel. Por um instante, foi tomada pelo ciúme e achou que os dois eram próximos demais, mas, então se convenceu que aquilo não era mais um problema dela, que os dois terminariam ali seu conto de fadas e que o mesmo não teria um final feliz. Quando ela se aproximou, ele leu em seu olhar que tudo estava terminado. Mabel se afastou, os deixando a sós. — Hendrik? Me perdoe? Não posso. Tenho medo. — Ela disse. Hendrik não disse nada, mas não pode disfarçar sua tristeza. Pegou a mão dela e os dois deixaram a festa. Entraram na limusine e voltaram para a casa. Não disseram nada durante o caminho. Seguiram para o quarto dele que estava todo decorado com flores e velas e ela sabia o que aconteceria e não se opôs. Achou justo, afinal ela partira seu coração. Ele merecia uma despedida. Ele a tratou com a mesma delicadeza que pretendia tratá-la na noite de núpcias e, embora, ela não tenha sentido nada, nem dor, amor ou prazer, achou que foi bom pela forma como ele a tratou. Depois disso, os dois não se viram por algum tempo. Ele deixou de visitá-la em seus sonhos e de dar sinais físicos de sua presença - ele não podia materializar-se no mundo dos mortais porque sabia que ela tinha medo do que chamava de “espíritos”, especialmente Elementais que tinham a fama de r****r humanos para seu reino feérico, então, para se fazer notar, derrubava ou movia objetos, ligava ou desligava o rádio, etc - e ela acabou se convencendo de que ele não era real, que fora apenas uma criação de sua mente fantasiosa. Foi somente, meses depois, quando visitava sua prima Lorena que Gisella voltou a ficar curiosa sobre os elfos e tornou a pesquisar sobre os mesmos. Descobriu que elfos dominavam o campo dos sonhos e da mente, tal como as fadas, e lembrou dos sonhos que teve com dois rapazes que sempre diziam que a amavam (um era Hendrik e o outro era Theodred) e suspeitou que os mesmos, talvez, fossem elfos, que fossem reais e não fruto de sua imaginação como pensara na época. Se animou com esse pensamento, embora, também tenha ficado chateada por dispensar um elfo assim – desde que assistira ao Senhor Dos Anéis, tudo o que desejava era encontrar um Legolas e ir embora para a Elfland -. Pensou por um tempo e achou que, talvez não fosse tarde, que pudesse consertar as coisas, explicar ao elfo que não sabia que ele era real e pedir perdão. Foi ingênua. Realizou um ritual para contatar os elfos e na mesma noite encontrou os dois, primeiro Theodred, que lhe pediu perdão por tê-la assustado. Depois, Hendrik que a encarou ressentido. Ela tentou se explicar, pediu perdão e disse que se soubesse que eles eram elfos, nunca, JAMAIS teria tratando-os daquela forma. — Sabíamos disso, mas não queríamos que caísse de joelhos diante de nós, venerando-nos como se fossemos deuses, só queríamos que nos amasse. Nada demais. Mas você partiu nossos corações sem a menor consideração. — Hendrik mostrou a Gisella como todos ficaram após a cerimônia que não se realizou. O cenário ao redor deles se modificou, transformando-se no vestíbulo onde os elfos estavam parados, arrasados. — Eu não sabia. Sinto muito. — Disse Gisella sinceramente. — Isso não é o bastante. — Falou Hendrik. — Pagará pelas lágrimas que nos fez derramar. Gisella despertou, sobressaltada, sentindo o peso daquelas palavras: “pagará pelas lágrimas que nos fez derramar”. Temendo que os elfos cumprissem sua ameaça, ela guardou todos os seus livros de magia e desfez seu altar. No entanto, isso não foi o bastante para manter os elfos afastados e em uma tarde chuvosa, eles vieram buscá-la. Quando Gisella se viu cercada pelos elfos se desesperou e tentou convencer a si mesma que aquilo era só um pesadelo e logo ela despertaria, mas logo percebeu que tudo ao seu redor era bem real. Ao contrário do que esperava, eles não a trataram m*l. Deram-lhe um quarto, roupas, comida e bebida. Gisella resistiu ao máximo que pode as comidas e bebidas, pois sabia que todo aquele que comesse ou bebesse no Reino Encantado estaria condenado a passar a eternidade ali, mas foi difícil porque eles estavam sempre comendo e faziam questão de espalhar doces por toda parte, tentando-a. Uma hora, ela não resistiu e acabou comendo uma fatia de bolo de chocolate. — Agora sim estaremos juntos pra sempre. — Disse Hendrik ao flagrá-la. Gisella soltou a fatia de bolo, mas já era tarde. — Para sempre. — Hendrik sorriu, m*****o. Gisella não teve escolha senão se acostumar a sua nova realidade, mas nem todos facilitaram para ela. Hendrik nutria uma paixão obsessiva pela garota e a assediava frequentemente. Ela cedeu algumas vezes, acreditando que se o tratasse bem, ele mudaria seu comportamento, mas ele não mudou e continuou infernizando-a. Ela tentou fugir várias vezes, mas não foi longe. Os elfos sempre a encontravam e sempre a traziam de volta. Ela se tornou agressiva e eles não viram outra solução senão deixá-la trancada no quarto por alguns dias até que ela se acalmasse. Irwan e Eldar foram os primeiros a se aproximarem dela com doces, flores e brinquedos. Pelo menos Irwan ela já conhecia de seus “sonhos”. Com o tempo Irwan ganhou sua confiança e passou a defendê-la sempre que podia – Hendrik era tão cheio de paixão, dor e ódio que, às vezes, parecia impossível contê-lo -. Passado um tempo, os elfos decidiram que era hora de Gisella se ocupar com alguma coisa e a mandaram para o colégio. Foi dessa forma que ela reencontrou Gaion – as duas também se conheciam antes – e depois Theodred e confirmou mais uma vez que o que julgara ser apenas a sua imaginação era sólido e real. Elfos eram reais!                                                    ━─━────༺༻────━ — Hendrik? — Disse Gisella ao surpreendê-lo. O elfo se voltou a ela, encarando-a com olhos magoados, mas não disse nada. Gisella entrou no quarto e se aproximou de Hendrik sentindo um misto de medo, desejo e dor. Sentou-se ao seu lado e tocou sua mão. Ele a encarou. — Sinto muito pelo que disse mais cedo. — Falou Gisella. Hendrik aproximou seus lábios dos dela, mas ela recuou, depressa. — Não, não sente. — Ele disse. — Eu sou tão repugnante assim? — O problema não é a sua aparência. Você é perfeito! É a sua personalidade impulsiva e selvagem que me assusta. Eu quero me entregar a você, quero mesmo, mas tenho medo de você me machucar. — Falou Gisella. — Eu nunca machucaria você. — Disse Hendrik. — Ah, mas você machuca todo o santo dia quando me encara sem nem piscar, quando me segue como se fosse uma sombra e quando tenta me forçar a… — Ela se interrompeu, chorando. — Eu posso perdoá-lo e esquecer tudo, mas só quando você fizer o mesmo, pois enquanto me odiar, não poderei te amar. — Eu quero acreditar em suas palavras, mas você é uma bela mentirosa, sempre se colocando no papel de vítima… Você adora inverter os papéis, acho que gosta disso, de sofrer e de fazer os outros sofrerem. Não, eu não acredito em você! — Falou Hendrik ressentido. — É uma pena. — Disse Gisella antes de deixá-lo sozinho. Reino Mag Mell - Fairyland… Parado na sacada de seu quarto, o rei Willard observava a aurora boreal com um ar nostálgico, lembrando-se de tempos melhores. — No que está pensando querido? Willard virou-se quando sentiu uma mão tocando seu ombro e encarou os olhos azuis de sua bela esposa, Miranda. — Em nada, querida. Em nada… — Virou o rosto disfarçando. — Espero que não esteja perseguindo sombras. — Falou Miranda com o ar severo. Antes que Willard pudesse responder, alguém bateu a porta. — Entre! — Disse Miranda e se virou com ar imponente. A porta se abriu com um rangido e uma criada veio e após uma reverência, se voltou ao rei e disse-lhe: — Perdão por incomodar, Majestade, mas o mago Manoel tem urgência em lhe falar. Disse-lhe que é um assunto de seu interesse. — Certo, diga a ele que desço já. — Falou Willard. A criada assentiu e deixou o quarto, apressada. — O que será que esse velho quer agora? Espero que não sejam más notícias! — Falou Miranda. — Também espero. — Disse Willard antes de sair.  O mago Manoel era um ancião de olhar sereno, que sempre trazia um sorriso bondoso no rosto. Era alguém sábio e também muito poderoso, por isso, era o conselheiro do reino Mag Mell. Quando o rei e a rainha chegaram ao salão real encontraram o mago já esperando por eles. — Por favor, Manoel? Diga-me que traz boas notícias! — Falou Willard antes de se sentar em seu trono ao lado da rainha. — Oh, sim, majestade! Notícias maravilhosas! — Disse Manoel sorrindo e encarou Miranda. Miranda sentiu que o que quer que Manoel tivesse a dizer, não lhe agradaria nem um pouco. — Pois, se são boas notícias, então me fale, Manoel. Estou mesmo precisando ouvir algo que levante meu ânimo! — Falou Willard. Manoel se aproximou de seu rei, apoiado em seu cajado, e após uma reverência, encarou-o e disse-lhe: — Tive uma visão, majestade… Sua filha, a princesa Ana Maria está de volta a nossa dimensão. — Impossível. — Willard se moveu nervoso em seu trono. — Não deu tempo de ela completar o ciclo de vida humana ainda… A menos que… Não. Impossível. — Parece que a princesa encontrou uma forma de voltar antes do tempo. — Falou Manoel e observou a cara de assombro da rainha Miranda. — E sabe onde ela está, Manoel? — Perguntou Willard ansioso. — m*l posso esperar para reencontrar minha filha, abraçá-la… Falar com ela… Entender o que aconteceu… Como ela morreu. — Sim, majestade… A morte dela foi muito estranha. — Disse Manoel olhando de soslaio para Miranda. — Estranho? Como? Pensei que estivesse claro que Maria tirou a própria vida! — Falou Miranda tentando em vão mascarar a sua raiva. — Não acredito que Maria tenha feito isso. — Falou Willard. — Por que não? Ela era uma garota infeliz. Tinha motivos de sobra para pôr um fim à própria vida. — Falou Miranda. — Sim, minha pobre filha. — Willard abaixou a cabeça, triste. — Fiz o que pude para evitar tanto sofrimento a ela, mas não foi o bastante. — Ela não se lembra de vossa majestade, mas, ainda assim, sente sua falta e deseja mais que tudo voltar para a casa. — Falou Manoel a Willard. — Onde ela está? — Perguntou Willard encarando o mago com os olhos suplicantes. — Na Elfland… Vi em minha visão quando os elfos a levaram. No entanto, não sei se ela está em Ljossalfheim, Svartalfheim ou Bellanandi. — Disse Manoel. — Dana queira que ela não esteja em Svartalfheim! — Falou Willard antes de se levantar, preocupado. — Não importa onde ela esteja, colocarei os caçadores de fadas atrás dela! Maria voltará logo para a casa! Uma pequena mariposa n***a deixou o topo de uma coluna do salão e saiu pela janela antes que fosse percebida por alguém. Foi para o jardim, para trás dos arbustos de onde uma luz dourada brilhou logo em seguida. Os arbustos se moveram e uma garota que aparentava ter uns doze ou treze anos, de pele branca, olhos castanho-claros; cabelos negros, longos e lisos saiu detrás das plantas. Agitou suas asas negras semelhantes a asas de borboleta e sorriu de orelha a orelha antes de sair voando, apressada. Voava tão rápido que por onde passava, uma lufada fresca de ar a seguia e um rastro dourado e luminoso – semelhante a aurora boreal – a seguia, era sua magia. Passou pelo lago de águas cristalinas onde avistou uma Lâmia Basca sentada em uma rocha, penteando seus longos cabelos louros com um pente de ouro enquanto cantava uma canção: “Oh, vem ligeiro, jovem marinheiro, Satisfaço o seu desejo com um beijo, Basta a mim se entregar, em minhas águas, se lançar”. Mais a frente na Floresta do Arco-íris – que era conhecida como tal pelas cores das árvores que, quando vistas de cima, pela sua composição de tonalidades lembravam um arco-íris –, as ninfas teciam guirlandas enquanto as graciosas pixies se divertiam atirando umas nas outras, frutas silvestres. Além da floresta havia estradas cobertas de folhas amareladas como se ainda fosse outono, e mais adiante, ficavam os vilarejos e o centro da cidade. Foi para um dos vilarejos que a fada seguiu. Passou por uma fileira de casas ao estilo holandesa com direito a moinhos de vento e flores do campo, até, finalmente, descer e parar em frente a uma casa onde sentiu cheiro de biscoitinhos amanteigados recém-saídos do forno, e lavanda que vinha dos lençóis estendidos nos varais nos fundos. A fada ajeitou os cabelos antes de puxar a corda que fez soar o sino acima da porta. Poucos segundos depois, ouviu passos e observou a maçaneta dourada girar enquanto a pesada porta de madeira escura se abria, dando visão a uma mulher que aparentava ter vinte e seis anos no máximo. Pele branca, olhos castanho-claros e cabelos negros, longos e lisos, presos num coque elegante. Sua face era angelical e de traços finos. — Melynda? Oi? — Disse a mais velha sorrindo, surpresa. — Oi, irmã. Posso entrar? — Disse Melynda ansiosa. — Sim, é claro. — Respondeu sua irmã escancarando a porta e dando passagem a ela. — Com licença… — Disse Melynda entrando. Duas xícaras de chá e biscoitos amanteigados foram postos à mesa e as irmãs sentaram-se, encarando-se. — Parece preocupada. Aconteceu alguma coisa? — Sim, Vitória, e quis que soubesse por mim… Nossa irmã, Maria está de volta! — Disse Melynda. — Como é? — Ana Vitória disse, atônita. — Eu mesma ouvi quando o mago Manoel contou ao papai e este disse que mandará os caçadores de fadas atrás de Maria porque não sabe em qual parte da Elfland ela está. — Disse Melynda. — Maria está na Elfland? Não pode ser. — Ana Vitória disse balançando a cabeça. — Aquilo não é lugar para uma fada nem mesmo do tipo dela. — Parece que ela não é mais uma fada e sim… Uma… — Melynda hesitou em dizer. — Uma o quê?! — Ana Vitória prendeu a respiração. Nervosa. — Para onde nós vamos quando morremos? — Melynda inquiriu. — Ela não completou o ciclo! — Ana Vitória concluiu. — Ainda é humana! Essa não! A transição será mais difícil para ela. — Então… É para o mundo dos humanos que vamos quando morremos?! — Disse Melynda absorta. — Às vezes… Só alguns de nós. — Disse Ana vitória pegando sua xícara e soprando nela antes de tomar um gole de chá. — Pensei que fôssemos todos, sem exceções, para Annwn. — Disse Melynda. — Dana quis que fosse assim… — Ana Vitória suspirou, resignada. — Havia um enorme peso sobre os ombros de nossa irmã e, ela não poderia seguir em frente com isso. Precisava começar do zero, esquecer… — Você não parece feliz com a volta dela… — Observou Melynda. — Não é isso. — Disse Ana Vitória. — Ela voltou antes do tempo e há muita coisa para ela entender, muitas responsabilidades. Temo que ela enlouqueça… Outra vez.                                                          ━─━────༺༻────━ Bellanandi Evin voltava da feira, trazendo um cesto cheio de frutas quando um cartaz colado em um poste chamou a sua atenção, paralisando-a. Tinha uma foto de Gisella e uma legenda que dizia o seguinte: “Procura-se princesa perdida de Mag Mell, recompensa-se por qualquer informação”. — E agora essa! — Disse Evin antes de arrancar o cartaz.
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