"Força de Vontade"

1204 Words
Eu lembro-me muito bem... Quando tinha 8 anos, havia chegado novos vizinhos, minha tia detestava. Eu pela primeira vez depois de todos aqueles acontecimentos, fiquei entusiasmada com algo. Eu não tinha ninguém com quem brincar, então talvez agora eu tivesse. Os vizinhos pareciam uma clássica família britânica, seus sotaques em suas vozes eram bem ouvintes. Fiquei animada pois havia chegado um menino, que aparentemente era filho deles, ele tinha minha idade, e eu tinha esperanças de que agora, eu pudesse ter companhia. E assim como esperado, eu e ele nos tornamos melhores amigos, nós íamos juntos para escola, sentavamos um ao lado do outro. Parecia que finalmente havia uma brecha de felicidade em minha alma. "A Tristeza Não Dura Pra Sempre, E A Felicidade Também Não." Eu estava tão feliz em ter companhia que nem percebia o tempo passar. Mas depois de um ano e alguns meses, eles viajaram. Eu ainda me sentia esperançosa, porque alguns diziam que foi somente uma viagem normal, mas minha esperança se foi quando vi a placa de venda na casa. Já faz 6 anos que não vejo o James. Mas voltando para a atualidade... Consegui algumas amizades, mas nada comparado a minha e do James. São superficiais, talvez criadas por algum interesse ainda não completamente descoberto. minha relação com a minha tia continuou a mesma, parece que o tempo congelou nossa relação e que daquele patamar nunca mais saiu. Eu tento entender e me pergunto se ela carrega alguma cicatriz, se ela tem raiva de algo. Mas pra ela sou somente o peso de uma obrigação a ser cuidado. Ela sempre teve espírito de mulher bem vívida, então ela jamais deixaria sua liberdade e vaidade para cuidar de alguém que nem sua filha é. Eu cresci, não sou mais uma criança, mais ainda sou iludida facilmente, ainda carrego alguns hábitos. Pulo certas refeições, o porque é simples, eu detesto comer ao lado de alguém que só me olha com desgosto. Também costumo sentir dores na região do estômago, as vezes eu paro e me pergunto se é por causa dos remédios que ela usava para me dopar. Talvez eu devesse sair dessa cama e encarar a realidade, ou fechar meus olhos e dormir em sono extremamente profundo. Meu corpo se cansa sem fazer esforço algum, a fraqueza toma conta de tudo. Estou faminta, mas não quero comer. Estou cansada, mas não consigo dormir. Saber que somente tenho uma mera rotina ao invés de uma vida real, me entristece, me humilha. Tento me levantar da cama mas minha cabeça pesada obriga-me a me deitar. Queria que isso se desse o nome de preguiça, mas são efeitos de remédios. _____________ Eu encontro algumas forças restantes e finalmente me levanto, ando até o banheiro ao lado, entro e sinto o frio dos azulejos ao pisalos, fecho a porta e começo a me despir. Entro no box e ligo o chuveiro, em busca de paz num banho quente durante uma manhã fria. Não tem pra onde correr eu sempre me pego pensando no meu passado, sempre me cobrando, tudo dando errado. Sinto que os erros são sempre meus. Me entristece saber que a escola e minha tia não me deixam ficar nesse banheiro para sempre, ou melhor, a vida não deixa. Eu não quero a morte, eu só quero tirar o peso que tanto carrego. Termino o banho e então começo a me arrumar para a escola. Escuto passos de alguém se aproximando, é a minha tia. - Oh Sua desgraçada! Já ao menos se arrumou!? Ou ainda é uma criancinha que eu preciso arrumar!?- Ela indaga já furiosa enquanto batia com força na porta do quarto. Além de frustada ainda por cima, está bêbada. - Eu já estou quase pronta, Tia. - Eu não queria ir, suportar a mesma coisa de sempre, ser julgada. Eu começo a me arrumar, minhas mãos trêmulas pela pressão causada por minha tia, suas palavras sendo como facas recém afiadas esfaqueando meu coração. termino de me arrumar, sem muita demora ou enrolação e pego minha mochila. Ao sair de casa, apenas fixo em olhar para a frente, mas a insegurança me obriga a olhar para baixo, a olhar pelo abismo que me espera. Não me importo se fiz ou deixo de fazer. Fico em jejum em busca de sentir uma dor física que me faça esquecer a psicológica. Eu ando pelas ruas, vendo aquelas vitrines, os carros passando pelo asfalto, um trânsito agitado. Com alguns minutos a mais, chego na escola, passo pelos corredores, ouvir aquelas risadinhas e conversinhas' no fundo, aqueles olhares, nem preciso ouvi-los para saber que estão a me julgar. Ando até minha sala de forma rápida e brusca, eu me aproximo da minha mesa e me sento na cadeira. Logo então o sinal toca, indicando o começo da aula, os alunos entram depressa e logo após vem o professor. A vontade de sair dali e ir para um lugar e chorar era enorme. As palavras dos livros se misturando e ficando totalmente sem sentido, uma forte dor no estômago surge. - Professor, posso ir ao banheiro? - Eu pergunto, segurando a forte dor, meus lábios ressecados, minha pele visivelmente pálida. - Pode ir, Srta. Amy. - Ele responde, mas havia um leve tom de irritação em sua voz. Eu então me levanto, mas não é como se eu conseguisse chegar até a porta para sair, eu simplismente desmaiei, e minha última visão antes de eu vir parar no hospital, foi simplismente eu tentando me segurar. Apagar na escola e acordar no hospital se torna preocupante, principalmente pra mim, que seria julgada de todas as formas, e eu temo se for algo grave. Eu olho para o lado procurando alguém conhecido, ao menos, mas somente vejo uma enfermeira. Mas um tempo depois vejo minha tia, e claro, brigando comigo, que ótimo. - Vamos menina! Levante, não vou ficar no hospital com alguém que nem minha filha é. Seus pais morreram, problema seu, era pra eles estarem aqui. - Aquelas palavras soavam como álcool puro em minhas feridas que nunca cicatrizaram. - Mas tia, oque realmente aconteceu? - Eu realmente estava curiosa. - Não foi nada! Nada que me importe! - Ela então me puxa com força, meu braço dói, mas não expresso dor. E então saímos daquele hospital, eu me pergunto como aquela enfermeira não teve coragem nem de ao menos dizer alguma coisa. Quando cheguei em casa minha tia simplismente me trancou em meu quarto me proibindo de sair. Não era como se passar m*l fosse minha culpa. Após horas de insistência para sair, ela finalmente abriu a porta. Mas saiu de casa logo em seguida. Eu como sou curiosa, fui ver o resultado dos meus exames recentes e me assustei ao ler o resultado. - Gastrite Crónica!? - Eu fiquei assustada, eu não podia ficar doente. Não pode haver mais outros motivos para reclamações constantes! Eu me sento na cadeira ao lado enquanto vejo os exames com mais atenção que estão sobre a mesa. Isso não pode ser verdade, minha tia jamais irá pagar o tratamento, os remédios. Talvez para alguns não seja nada demais, mas eu não sei, eu estou insegura com tudo isso. Se eu ao menos pudesse sumir...
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