Capítulo 1: A Ocasião Faz o Homem (Sêneca)

1279 Words
A comunidade de Vinte Léguas estava em polvorosa com os rumores da chegada de Capitão, o manda-chuva do movimento das comunidades próximas. Martiniel, nos seus 17 anos, admirava Capitão e queria ser como ele, pela sua fama e o temor que tinham dele nas comunidades. Certa tarde, Martiniel resolveu ficar nas vielas da comunidade aguardando a passagem do seu ídolo. Um jovem, da mesma idade que a dele, passa e o reconhece. Se aproxima de Martiniel, intrigado. - Chega aí, Zaroio! - diz Martiniel, estendendo a mão para um cumprimento rápido. O amigo de Martiniel é chamado de Zaroio por ser vesgo. Zaroio se aproxima, cauteloso. - Martiniel, cê sabe que não é bom a gente ficar de bobeira nesses cantos, não? - avisa Zaroio, olhando para os lados, desconfiado. Martiniel apenas sorri, despreocopado. Passam um tempo olhando a movimentação das pessoas. - Sabe quem vem aqui? - pergunta Martiniel. reservado. - Todo mundo sabe, Martiniel! - retruca Zaroio, aborrecido. - E então? - pergunta Martiniel, voltando-se para ele, desafiador. - E então o quê? - Zaroio olha para ele sem entender nada. - Vou pedir um trampo para o Capitão quando ele passar por aqui! - responde Martiniel, naturalmente. - Cê sabe o que está falando? - Zaroio arregala os olhos, perplexo. - Não tenho outra saída! - retruca Martiniel, resignado. - Nada disso! Sempre há uma saída! Cê se lembra de Cabide? - indaga Zaroio. - Sim, me lembro dele, sim! Que se deu ele? - pergunta Martiniel, sem dar importância. - Ele saiu daqui e achou trampo na capital! - responde Zaroio, animado. Martiniel mostrava-se desinteressado. - Ah, é um caso em um milhão! - respondeu Martiniel, olhando cansado para o amigo. Zaroio, olha para ele incrédulo. - Pode acontecer com qualquer um! É só querer! - insiste Zaroio. Martiniel dá de ombros. Já tinha tomado sua decisão. - É muito difícil e estou na dura precisando logo de grana! - rebate Martiniel, inflexível. Um pequeno alvoroço acontece na entrada da viela. Três homens armados sobem a ruela onde Martiniel e Zaroio estavam. Martiniel pressente que é o momento. As pessoas fugiam daqueles homens, que olhavam a tudo ao redor. Se aproximam dos dois amigos. Um deles os encara, incomodado. - Ei, pivete! Chega aí! Qual é a parada de vocês aqui? - pergunta o homem, Martiniel evita olhar diretamente no rosto do homem que o interpelava. - Quero fazer parte do movimento! - responde Martiniel, secamente. Os três homens riem entre si. Zaroio apenas fica quieto. - O pivete acha que tá com moral! - retruca um dos homens, o que estava mais longe. - Não é isso? - completa o outro. Então o homem que interrrogava Martiniel se aproxima mais dele, encarando-o até encabulá-lo. - Como vou saber se tu não é X9? - pergunta ele, dando um empurrão em Martiniel. Zaroio se assusta. - Não! Sou não! - responde Martiniel, impassível. - Tu já não é de outro movimento, não? - insiste o homem, dando outro empurrão em Martiniel. - Não! Não faço parte de movimento nenhum! - responde Martiniel, desafiador. O homem que o interrogava olha para os outros dois. - Tu vai ficar comigo aqui até Capitão subir! - responde ele, voltando-se para Martiniel. Os outros dois homens prosseguem na varredura. Zaroio, estático, não sabia o que fazer. Um dos homens faz sinal para aquele que estava com Martiniel e Zaroio. - Pé-de-c***a, cé vai esperar por Capitão, é? - pergunta o homem. Pé-de-c***a tinha esse nome por ser um exímio arrombador. - Esse pivete aqui quer falar com Capitão. Vou ficar de olho nele ou vai sobrar pra mim! - responde Pé-de-c***a, incomodado. Pé-de-c***a fita Zaroio. - Tu veio fazer o quê por aqui, leke? Martiniel e Zaroio se entreolham, temerosos, pois sabem que uma resposta errada sela o destino deles. - Nada, só estava passando... - responde Zaroio, vagamente. Pé-de-c***a parece não ter gostado da resposta. - Sei, só estava passando.. Tu não me engana não, viu pivete? Capitão vai decidir teu destino! Zaroio engole em seco, olhando preocupado para Martiniel, que parecia olhar para o vazio. Pouco depois, uns cinco homens equipados vem subindo a ruela escoltando um homem alto, moreno. que parecia ter mais de dois metros de altura, vestindo uma calça de camuflagem militar e camisa regata branca e chinelos Havaiana. Martiniel e Zaroio, ansiosos, percebem que aquele homem não seria outro senão o famigerado Capitão. Capitão vê seu comparsa com os dois jovens e fica curioso. - Aí, Pé-de-c***a! Qual a parada desses dois pivetes? - pergunta Capitão, secamente. Capitão e Pé-de-c***a se cumprimentam. - Esse aqui quer entrar pro movimento! - diz Pé-de-c***a, levantando o rosto de Martiniel. - Sei... E o outro? - pergunta Capitão. Pé-de-c***a se aproxima de Zaroio e ergue o rosto do jovem. - Esse aqui diz que tava passando de bobeira, cê sabe, né? - responde Pé-de-c***a, desconfiado. Capitão se aproxima dois e os fita de um para o outro. - Por que cê quer fazer parte do movimento, pivete? - pergunta Capitão, severamente. Martiniel, a princípio. teme olhar para o rosto de Capitão. - Olha para a minha cara! - ordena Capitão. Martiniel lentamente ergue o rosto e fita Capitão. - Pra ajudar as coisas lá em casa.. - responde Martiniel, cauteloso. Capitão então volta-se para Zaroio. - E tu? - pergunta Capitão, olhando severamente para Zaroio. Zaroio titubeia, afinal, estava mesmo de passagem e não tinha pretensão de entrar para o movimento do Capitão. - Eu tava passando e vi o Martiniel aí resolvi perguntar a ele o que fazia dando bobeira por aqui... - responde Zaroio, timidamente. - Tava nada! Eles podem ser X9, Capitão! - interveio Pé-de-c***a, nervoso. Capitão olha para Pé-de-c***a, dando a entender que ele deveria ficar quieto, depois volta-se para os jovens. - Agora que vocês nos viram não dá pra voltar como se nada tivesse acontecido... - pensa Capitão, olhando para os jovens. - Capitão, vem movimento do pé do morro! - diz um homem que subia a ruela apressado. - Se esse leke quer ir pro movimento, ele vai. Pé-de-c***a, leva o pivete até o barracão! - ordena Capitão. Pé-de-c***a chega em Martiniel e o impele a segui-lo. - Vamo, pivete! Tu acertou na loteria! - diz Pé-de-c***a, fustigando Martiniel. - E você também vai com teu amigo! - diz Capitão para Zaroio. Ao ouvir o que Capitão determinara, Zaroio se aflige. - Eu não quero entrar no movimento! Quero voltar pra casa! - suplica Zaroio. Capitão o fita, severo. - Tô te dando uma chance de continuar vivo! - responde Capitão, ameaçador. Um dos que faziam a escolta de Capitão se aproxima de Zaroio, ameaçador. Martiniel seguia adiante, escoltado por Pé-de-c***a. Olha para trás e vê o amigo em apuros, mas nada pode fazer. Zaroio, contrafeito, se deixa levar pelo capanga de Capitão, sem resistir. Seguem pela ruela morro acima. Zaroio se aproxima de Martiniel. - O que vai acontecer com nós? - pergunta Zaroio, pensativo. Martiniel olha para o amigo, preocupado. - Não sei, espero que não dê r**m! - responde Martiniel, resignado. Depois de meia hora de caminhada pelo labirinto de ruelas da comunidade, chegam a uma casa de madeira escoltada por mais homens equipados. Capitão se adianta e pergunta algo a um dos "porteiros". Entra na casa, fazendo sinal para levarem os jovens com ele. Em uma espécie de sala com apenas um sofá, Capitão senta-se. Outros de seus homens o ladeiam. - Traz os dois aqui! - ordena Capitão. Martiniel e Zaroio ficam de pé a uns dois metros do sofá onde Capitão estava. O que será que acontecerá com Martiniel e seu amigo Zaroio?
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