CAPÍTULO 4 - ANA

1380 Words
Observo a forma que meu corpo dói todo, não consigo me apoiar direito e ficar deitada parece a melhor solução, se eu fechar os olhos eu consigo lembrar a forma r**m que senti as contrações e como a dor fica sendo agonizante e insuportável. Respiro devagar. Observo Fox perto da enfermeira, que traz o bebê pra perto, as duas sorri com o garoto no colo e quando eu vejo ele novamente, pela segunda vez na noite, naquela madrugada de chuva, eu sei que agora nada importa além da criança que veio ao mundo. Pequeno, frágil, meiga e sensível, como uma joia rara demais pra não cuidar e não amar. Ainda sentia minhas pernas ruins e eu sabia que eu não conseguiria me movimentar pelas próximas horas, que minha pelve inteira havia sido deslocada pra ele passar, fazendo eu nunca imaginar que ele conseguiria passar por baixo. Mas ele estava ali. - Olha só esse garoto - Fox me ajudou com os travesseiros e eu arrumei a postura pra pegá-lo. - Essa é a primeira amamentação dele, vai sentir dor e talvez veja dificuldade - A enfermeira fala. - Mas tente até não conseguir, esse aleitamento é importante demais pra não acontecer. - Meu seio não cresceu tanto - Falo, recebendo a coisa mais pequena que tem nos meus braços, branco, avermelhado e enrugado ainda, com a pele ainda com a camada esbranquiçada. Ele abre a boca e boceja. Posso ver o cabelinho e até a manchinha no braço, que me lembra Charlles. Suspiro fundo. - Vou conseguir - Falo, tirando o seio para fora, assim como eu havia ensaiado durante um tempo, vendo ele abocanhar e c****r, a dor irradia um pouco junto com a sucção e então uma mordida. - Cuidado. Sussurro e a enfermeira se afasta, deixando Fox se aproximar. Ela ergue a mão e toca a cabecinha. - Estou encarada - Fala, puxando uma baqueta e se sentando ao meu lado. - Dói? - Um pouco - Falo, tentando amenizar, tendo que ajudar a criança a pegar o bico do meu seio. - O pessoa lá fora foi todo embora, não tem mais ninguém. - Melhor assim, não queria ninguém daquelas pessoas perto. Eles não são bons para o bebê - Falo. - Devia repensar pelo menos na mãe dele, ela saiu daqui chorando, não sei se devia te contar, mas ela saiu daqui realmente r**m, sendo consolada pelo marido. Eu vi isso assim que saí do berçário, ela ficou aí pelas quatro horas de parto sua. - Ela diz que acredita em mim, mas tenho medo dela se aproximar e tentar fazer alguma coisa r**m. - Deixe ela pelo menos conhecer o neto, ela não tem culpa dos filhos que tem Ana, eu como mulher devo imaginar o quanto não ver isso pode doer. - Eu sei Fox, eu ainda vou conversar e agora que esse menino veio ao mundo, estamos mais tranquilos - Olho para o rosto dele. - Somente quero levar ele pra casa agora, pro nosso lugarzinho. - Ele me lembra você. Dou um sorriso, sabendo que ele lembra outra pessoa, a boca e o formato, o cabelo escuro e até a pinta no braço, eu logo saberia se o olhar também era dele ou se isso ficou pra mim, mas eu não ligava, não importava também se ele era ou não parecido. Eu precisava agora também fazer o DNA, precisava saber como pegar amostra do DNA dele sem ele ficar encima ou se aproximar. Ainda tinha na cabeça a ideia de provar e limpar minha imagem, assim nunca mais pensar ou passar por nada daquilo de novo. - Acho que conheci o amor da minha vida - Falo tão baixo e por um segundo um futuro entre mim e o bebê surge, quero dar o mundo e tudo que puder, mesmo não sabendo como fazer isso, imaginando o esforço do trabalho duro e tudo que eu pudesse. Agora não estava sozinha no mundo. O quão aquilo era confortante pra mim? Respirei devagar, vendo a respiração dele lenta e tranquila. - Bernardo - Dou um sorriso. - Seu bisavô, o melhor homem que conheci, ele se chamava Bernado. Você vai se chamar assim, pra se lembrar do quão bom ele foi. Além disso, significa forte como um urso. Eu quero que você seja assim, forte. Fox sorriu com o nome. - Será que algum dia serei mãe. - Veja eu, tire de exemplo, eu não imaginava ter um bebê. Um barulho baixo surge e ela puxa meu celular que estava com ela, me entregando. Quando olho na tela eu vejo o número da mãe de Charlles, aquilo me deixa sem saber o que fazer. - Quem é? - A mãe dele. - Atende, ela é mãe também. Ela pode entender você e querer o bem do bebê. Ela não estava bem quando saiu daqui Ana, isso deve significar algo. Atendo. - Pronto. - Ana Luiza, sou eu - Ocorre uma pausa. - Eu queria saber como você e a criança está. - Estamos bem, obrigada. - Eu estive aí, mas não pude ver o garotinho direito. A imagem de Charlles me vem na cabeça e eu quero desligar e esquecer de vez os Pacini e os Guerra, a ponto de deletar da minha cabeça e não lembrar mais. - Eu pedi pra ser assim, acho que eu já passei coisas demais com a minha família e até com vocês pra deixar as coisas fluírem como se nada tivesse acontecido. - Eu sei, eu sei, eu entendo seu lado, de querer dar o melhor e não deixar que nada de errado ou aconteça com seu filho. Eu realmente entendo, Ana Luiza. - Sinto muito se saiu chateada - Fox se inclina e começa a acariciar a cabeça do bebê, enquanto ele suga. - Eu sinto que tenho que fazer isso pra ele não ser usado pelo meu pai e não ser maltratado de forma nenhuma. - Charlles está cometendo o maior erro da vida dele, a criança, você - Escuto um suspiro fundo e um barulho de buzina ao fundo. - Eu preciso apenas fazer o DNA e mostrar um outro papel, assim ele vai poder ver que nunca trai ninguém. - Quando ele ver a criança ele não vai precisar de mais nada, eu tenho tanta certeza disso. - Por que fiz isso? - A pinta no braço, eu vi pelo vidro do berçário. Embora isso só apertou meu coração ainda mais. - Olha, eu não quero nada da família de vocês, eu quero que essa criança cresça da melhor forma, sem ambição e egoísmo no meio, eu fui criada assim, mas não sou assim, eu tive alguém que me salvou cedo disso. Meu filho não vai ser usado como eu fui e nada do tipo. - Espero que faça isso mesmo. O pensamento burbulha e então decido ceder com ela e com a parte sincera que eu não veria nem com minha mãe. - Assim que sair do hospital você pode visitar ele, mas na minha casa, assim que eu estiver bem e a criança estiver habituada. Eu não sei como funciona tudo isso, então peço apenas um tempo, eu estou indo devagar. - Obrigada, obrigada! - Escuto um soluço do outro lado da linha e um silêncio. - Alô? - Me desculpa, me desculpa, eu estendi. Eu prometo que não vou fazer nada de r**m e também não vou deixar nada de r**m acontecer. - Que bom, fico feliz por isso. Eu tive um bom avô, talvez você seja uma boa avó. - Posso saber como esse garotinha o vai se chamar? Dou um sorriso. - Bernardo, ele se chama Bernado. - É um nome lindo! Bem, já está tarde e eu estou na estrada, eu vou estar no meu celular e quando você permitir eu irei conhecer ele, tá bom? - Tudo bem, iremos nos falando, pode ser? - Claro, fique bem você e o bebê. Estou aqui para o que você e ele precisar. Então desligo. Deixo o telefone de lado. - Acha que fiz bem? - Sim, ela pareceu se importar e ser verdadeira. - Mas e se... - Nada disso, seja otimista. - Certo - Olho para o rostinho do meu garoto. - Estou aqui por você.
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