Não consigo explicar a satisfação que senti ao deixar o meu chefe sem fala depois de tanta prepotência para o meu lado. Estou com medo de ficar sem emprego e ir morar embaixo da ponte? Estou com medo. Mas eu simplesmente não consegui parar a minha boca a tempo e agora devo lidar com isso.
– O que posso fazer? Agora já foi, não dá pra retirar as palavras que já foram ditas. – Digo suspirando e tentando manter a calma, mas falho e passo as mãos no rosto. – d***a, a minha boca está sempre me deixando em apuros.
Organizo a minha mesa enquanto penso numa forma de pedir desculpas pelo modo que falei sem parecer uma coitada, mas nada me vem a mente. Melhor esperar que ele me atole de trabalho na esperança de provar que eu sei o que estou falando e dessa vez vou manter a minha boca bem fechada.
Ouço o barulho da porta abrindo e levanto a cabeça. Sebastian sai da sala acompanhado de Murilo e anda calmamente até a minha mesa e deposita nela uma pilha de papéis do mesmo tamanho da anterior.
– Como fez seu trabalho de forma eficiente, quero que revise estes também. – Diz pondo as mãos no bolso do paletó e eu puxo os papéis na minha direção. – Não vai conseguir me entregar hoje, mas quero eles em minha mesa amanha antes do horário do almoço.
– Claro, senhor. – Digo com um sorriso singelo e inocente no rosto e olho para baixo e o meu sorriso morre. Os papéis estão em Frances. Levanto a cabeça e ele está me encarando com um olhar de águia.
– Algum problema, senhorita?
– Os papéis estão em Frances. – Respondo involuntariamente e me arrependo na mesma hora.
– Não achei que haveria problema já que no seu currículo consta que você fala Frances fluentemente. Avez-vous menti par hasard? (Ou você mentiu, por acaso?) – A ultima parte é dita num Frances muito bem pronunciado e eu estreito os meus olhos para ele. – Tu ne peux pas me comprendre? (não consegue me compreender?) – Ele diz por que eu demoro a responder.
Já percebi a sua intenção, ele está tentando encontrar alguma falha no meu currículo e está me testando em tudo, infelizmente, eu não pretendo deixar que ele ganhe. Esse emprego é meu e eu vou ficar com ele custe o que custar.
Tomando coragem, me levanto e estufo o meu peito. Abro um sorriso singelo para ele e digo num Frances enferrujado, mas, ainda assim, muito bem falado.
– J'ai entendu ce que vous avez dit et je peux vous comprendre. Je ne mentirais jamais dans mon CV. Pensez-vous que je n'ai pas de principes? (Eu ouvi o que você disse e eu consigo te entender. Eu jamais mentiria no meu currículo. Acha que não tenho princípios?) – Tudo isso é dito com um tom baixo e sorriso singelo. Esse grande bastardo ofendeu-me e não estou mais nem ai para o que ele acha. Quero que o maldito bastardo vá a m***a.
– Já vi que fala, então não vai ter problema com os papéis. Cancele os meus compromissos para hoje, vou encerrar mais cedo. – Diz com uma veia pulsando em sua testa e anda a passos largos até a sua sala, onde bate a porta depois de entrar. Suspiro alto e me sento dramaticamente. Sobrevivi.
– Tudo bem, o que acabou de acontecer? – Murilo pergunta apontando com o dedo para o ambiente se referindo a cena anterior.
– Não sei, mas me estressou. E ainda tenho todos esses papeis para revisar. Eu amo o meu trabalho. – Digo forçando um sorriso e Murilo ri.
– Seja o que for, é muito sério. Sebastian jamais tiraria a tarde de folga, ele é mais do tipo que trabalha até a morte, sabe? Em todo caso, não deixe que a cara f**a dele te amedronte. No fundo ele é até legal. – Olho para ele com um olhar duvidoso.
– Só se for bem lá no fundo mesmo, num buraco n***o onde ninguém consegue alcançar.
– Tudo bem, não é sempre, mas ele consegue se tentar.
– malhaejwoseo gomawo. – Digo em coreano.
(Obrigada por me dizer isso.)
– cheonman-eyo. tto bwayo. (De nada, até mais). – Com esse cumprimento, ele se vai e eu suspiro antes de me arrumar na cadeira.
– Hora de voltar ao trabalho. Pelo menos assim eu não preciso pensar e passar raiva com esse homem odioso. Cazzo, peguei um chefe r**m, mas não faz m*l. Preciso do emprego para pagar as minhas contas se não vou acabar sendo adotada por Kim. Vivi a vida toda com empregos de meio período e essa é a minha grande chance de um emprego normal e que paga bem, preciso aproveitar essa oportunidade e não vai ser um chefe ranzinza que vai me impedir de fazer meu pé-de-meia. – Falo baixinho para mim mesma divagando e estalo os dedos para começar a cancelar os compromissos de Sebastian. – Eu vou vencer, nem que seja na força do ódio.