03- SEM SAÍDA.

1190 Words
CAPITULO 03— SEM SAÍDA. Ela está ali, deitada no colchão imundo, o rosto virado para o lado, os cabelos espalhados pelo rosto. Ainda amarrada. Ainda desafiadora. Fico parado diante dela, observando. O corpo pequeno, os pulsos vermelhos por causa das cordas, o peito subindo e descendo rápido. Não sei se de medo ou de raiva. Talvez os dois. Me abaixo, pego os pulsos dela e começo a desfazer os nós. Ela não luta. Só me encara com aqueles olhos cheios de fogo, esperando a próxima jogada. — Anda, come essa merda — digo, sem paciência, apontando para o prato de comida sobre a mesa. Ela vira o rosto, e por um segundo acho que vai me ignorar. Mas então ela cospe no chão. Lenta. Deliberada. Levanto uma sobrancelha. — Tô cansando disso! — a voz dela sai firme, cheia de desafio. Um sorriso surge no canto dos meus lábios. Desdém puro. — Ah, é? Ela senta na cama, os pulsos livres agora, mas ainda vermelhos da pressão da corda. Me olha como se quisesse me matar. — Fala de uma vez o que você quer comigo! Cruzo os braços, me divertindo com a impaciência dela. — Com você? Nada. Os olhos dela se arregalam. A indignação está estampada no rosto. — Já com seu pai... Ela aperta os lábios, me analisando. Então franze o nariz, como se finalmente tivesse entendido. — Eu sabia! Você quer dinheiro, né? É isso!? Sempre o maldito dinheiro! Reviro os olhos. — Por que não liga logo e pede o resgate? Vamos, acaba logo com isso! Ela quer me apressar, quer que isso acabe. Só que não vai acabar. Não tão cedo. Solto uma risada baixa, seca. — Tá rindo de quê!? O que tem de tão engraçado!? Cruzo os braços, sem tirar os olhos dela. — Você. Ela se debate, ainda sentada, os punhos fechados como se quisesse socar alguma coisa. — Você acha que é por dinheiro? Ela para. O silêncio pesa entre nós. Aproveito a hesitação dela para dar mais um passo. Meu tom se torna mais sombrio. — Seu pai acabou com a minha vida. O fogo nos olhos dela vacila. Meu maxilar trava, a raiva sobe queimando. — E eu vou acabar com a dele. Ela se afasta instintivamente quando me aproximo mais. Mas é inútil. Seguro seus pulsos de novo, puxo suas mãos e começo a desfazer os nós. Meus dedos apertam um pouco mais do que deveriam. — Agora, anda! Come essa merda! Me afasto. Ela olha para as cordas caídas no chão e então para mim. Então, do nada, se levanta e corre. Idiota. Ela não dá nem três passos antes que eu a pegue pela cintura e a tire do chão. — Agggh!!! Me larga!! Ela se debate, mas não tem força suficiente pra escapar. Em dois segundos, a jogo de volta na cama. — Fica aí! Ela cai com força, os cabelos bagunçados cobrindo parte do rosto. A cama range. Ela me olha com puro ódio, e isso deveria me irritar. Mas não irrita. — Não adianta tentar fugir! E se não quiser comer, não come, c*****o! O silêncio entre nós é cortante. Ela tira os cabelos do rosto, ainda furiosa. — Pode tentar resistir, mas você não vai chegar a lugar nenhum. Não espero resposta. Viro de costas, saio do quarto e bato a porta com força, trancando-a atrás de mim. Ela pode gritar, se debater, me odiar o quanto quiser. Isso aqui tá só começando. ..... Saí do quarto puto. A mão foi direto pra gravata, puxando-a com força enquanto afrouxava o nó. O tecido arranhou minha pele, mas eu nem liguei. Cada músculo do meu corpo estava tenso. Andei até a sala e me joguei no sofá, furioso. Passei a mão pelos cabelos, tentando controlar a onda de raiva que subia dentro de mim. Os botões da camisa foram os próximos a serem abertos, um por um, rápido e bruto. O peito subia e descia pesado. Suspirei, soltando o ar devagar, tentando colocar os pensamentos no lugar. Isso não era o que eu tinha imaginado. Achei que ela fosse entrar em choque. Que fosse chorar, se vitimizar, implorar. Mas não. Jade era atrevida, teimosa e estava conseguindo me tirar do sério de um jeito que eu não esperava. A maldita cuspiu no chão, me desafiou na minha cara. Tentou fugir bem na minha frente. Idiota. Passei a mão pelo rosto, tentando calcular o que fazer a seguir. Eu não tinha me preparado pra tanta resistência. Não dela. Mas se ela achava que podia me desafiar assim, estava muito enganada. .... A ideia veio no meio da raiva. Ela queria ser teimosa? Tudo bem. Mas eu não ia dar mais nenhuma chance pra que tentasse fugir de novo. Peguei o celular e fiz a ligação. Meu contato atendeu no segundo toque. — Preciso de um rastreador. Pequeno. Discreto. — Minha voz saiu firme, sem espaço pra discussão. — Consigo pra você. Encontro daqui a duas horas no mesmo lugar de sempre. Desliguei sem dizer mais nada. A noite passou enquanto eu dirigia pra encontrar o cara. Peguei o rastreador, testei, garanti que funcionava perfeitamente. No caminho de volta, o sol já estava nascendo, tingindo o céu de laranja e dourado. Quando entrei no quarto, ela estava acordada, sentada na cama, os joelhos dobrados contra o peito. A bandeja de comida ainda estava no mesmo lugar, intocada. Jade me viu e instantaneamente se afastou, os olhos cheios de alerta. — Não chega perto de mim! — A voz dela era cortante, mas eu só sorri. Caminhei até ela devagar, predador. — Só quero conversar. — Conversar uma ova! — Ela se arrastou pra mais longe, encostando as costas na parede. Suspirei, parando ao lado da cama. — Tudo isso deveria ser mais fácil. Mas você não tá cooperando. — Não quero saber! — Ela cruzou os braços, o olhar queimando. Meu maxilar travou. — Mas vai saber. Porque tudo isso é culpa do seu pai. Ela não respondeu, mas eu vi a hesitação em seu olhar. Mesmo tentando parecer indiferente, aquela informação fez algo dentro dela vacilar. Aproveitei a brecha e avancei. Ela tentou se afastar de novo. — Você não vai fugir mais! Antes que ela pudesse reagir, agarrei seu pulso e puxei. Ela se debateu, mas não tinha chance contra minha força. — Não! Sai... Sai!!! Ignorei os protestos, girando seu corpo pequeno e prendendo-a contra mim. Ela se contorcia, mas eu era maior, mais forte. Meus braços a imobilizaram, e antes que ela pudesse gritar mais, puxei o pano embebido em álcool e pressionei contra o nariz dela. — Shhh... vai ser rápido, princesa. Ela lutou, tentou me arranhar, mas em segundos os movimentos ficaram mais fracos. A respiração desacelerou e o corpo amoleceu contra o meu. Eu a deitei com cuidado na cama, afastando os cabelos do rosto dela. Tão bonita. Mas tão atrevida. Peguei o rastreador e o inserir atrás da nuca dela, pressionando suavemente, ela jamais saberá pois era tão pequeno quanto um grau de arroz. Agora ela estava presa a mim. Mesmo que não quisesse. ........
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