Anu
Estou na cafeteria, tenho que resolver umas encomendas que chegarão hoje cedo. E também precisava de um tempo longe de casa. Quando você prefere o trabalho do que ficar em casa é sinal que está insuportável ficar na sua própria casa. De fato, está assim mesmo. Faz dez anos que estou casada com o Alexandre. O nosso casamento anda bem frio e distante, é segunda vez que estamos tentando, tínhamos nos separados e voltamos – mais uma vez – , depois que ele mentiu para mim que se submeteu a uma vasectomia. Ele sabe que meu sonho é ser mãe, principalmente agora que estou com trinta e oito anos. Mas ele fez a cirurgia assim mesmo. Ele sempre diz que não precisamos ter filhos, na cabeça daquele i****a – nesse momento estou muito p**a da vida –, um filho iria tirar muito a minha atenção e iria esquecer dele. Encosto na minha cadeira, levando minhas mãos ao meu rosto tentando me acalmar. É um doido! Que mente louca! Respiro fundo, depois solto o ar para eliminar esse pensamento. Volto para o que estava fazendo, meu celular começa a vibrar. Pego minha bolsa que está pendurada na minha cadeira. Noto que é a minha amiga Elena. Nossa… Nunca fiquei feliz como estou agora. Preciso desabafar.
— Oi, estava pensando em você nesse exato momento.
— Hmm… Pelo tom da sua voz está bem p**a da vida. O Alexandre fez alguma coisa, né? — Elena pergunta, ela é a minha melhor amiga. Elena, é dona de uma rede de salão de beleza. Uma morena de chamar atenção, linda e bem comunicativa. Quando tenho algum problema ou quando o Alexandre me tira do sério, procuro ela para me dar um, quer dizer, vários conselhos. Como agora nesse momento.
— Sim. Você não sabe o que ele aprontou — digo, levanto-me e me afasto da mesa.
— Então vou passar aí — Elena diz. Lembro-me que tenho que resolver agora de manhã.
— Ih, Elena agora não dá. — Levanto o meu braço para ver a hora no relógio. — Você pode vir umas duas horas da tarde? Lembrei que tenho muito trabalho aqui.
— Está bem. Às duas passo aí. Beijos, gata. — Se despede e em seguida desligo o meu celular. Volto para a minha mesa. Pego alguns papéis que estão sobre a mesa, dou uma olhada.
***
— Não acredito que ele disse isso, Anu? — exclama minha amiga. — Isso é a cara dele. Um cara mega ciumento e controlador, o que esperar se não for isso. E ainda te avisei para não voltar, acabar logo com essa relação, mas você quis dar “uma segunda chance”. — Se inclina para tomar seu cappuccino de chocolate.
— São dez anos de casamento… E outra, ele prometeu que mudaria, ele mesmo disse que para tentarmos ter um filho… — Olho para minha amiga. Estamos no meu escritório. Explico o que o Alexandre fez. Que mentiu sobre a demora dos exames e que fez uma cirurgia. Brigamos feio e o expulsei de casa por conta disso! Não quero vê-lo tão cedo!
— Já estou com uma certa idade também… — Ela me corta.
— Nem ouse continuar. — Se levanta da cadeira, dá a volta da mesa, encostando e olha para mim. — Com esse papo que estou velha, você vai encontrar um cara legal. Está ficando chato isso. Escuta aqui, você é uma mulher linda, inteligente e bem sensual. Deixa qualquer homem louco quando você passa — ela diz, com a mão no queixo, olho para ela. — Você está precisando sair e conhecer gente nova. Que tal sairmos hoje?
— Sair? Hoje? Não, não. Não estou com ânimo para essas coisas. E tenho coisas para resolver… — Afasto-me. Meneio a cabeça negativamente.
— Anu, para com isso. Para de dar desculpas. E você está precisando relaxar, hein? — Ela pisca para mim, insistindo.
— Está bem. Está bem. Mas vamos só para beber algumas cervejas — aviso, erguendo o meu dedo em sua direção. Que balança a cabeça concordando. Elena pula de alegria, em seguida me despeço da minha amiga, pois preciso adiantar tudo aqui para podermos sair à noite. Ela sai, e me encosto na cadeira pensando nisso tudo. Estou lascada. No que estava pensando, m*l coloquei meu marido para fora e já vou sair numa noitada. Será que é errado? Esquece isso. Vamos trabalhar.