Capítulo 3

1273 Words
Recentemente, Kassandra havia conseguido duas entrevistas de emprego, uma em uma pequena loja de roupas e outra em um escritório para auxiliar administrativo. As duas oportunidades a encheram de uma esperança quase esquecida. Ela se arrumou com o pouco que tinha, tentou disfarçar as olheiras e o cansaço, e se esforçou para parecer confiante. No entanto, os dias se passaram e nenhuma ligação chegou. As recusas, ainda que silenciosas, a atingiram como golpes. Kassandra ficou arrasada. Cada "não" a empurrava ainda mais para o fundo do poço de sua desesperança, reforçando a sensação de que não conseguiria escapar daquela prisão imposta por Andy. Kassandra chegou em casa depois de ir a uma entrevista de emprego. Quando ela foi abrir a porta, ouviu vozes e risadas. Entrou apreensiva. O casal a olhou, e ela se sentiu como uma intrusa descoberta em uma festa. Fechou a porta e disse, constrangida: — Olá, boa noite! Andy levantou-se rápido, aproximou-se e falou: — Vem comigo! Ele pediu licença ao casal, que devia ter uns trinta anos e estava muito bem vestido. Ele usava camisa social e ela um conjunto de alfaiataria. Kassandra notou que a bolsa dela era de marca boa uma Schultz. Foram para a cozinha. Andy estava bravo com ela, apertou o braço dela com força e disse: — Te avisei para deixar tudo pronto, onde você estava? Te liguei várias vezes! Kassandra contou a verdade. Andy respondeu: — Você vai se passar por empregada agora. Se tivesse feito o que mandei, podia se passar por minha noiva. Prepara a mesa e pede comida! Anda logo. Ela puxou o braço e respondeu: — Não quero fingir ser sua mulher. Ele retrucou: — Você tem meia hora! Se falar algo, já sabe, é daqui direto para a rua. Ele saiu da cozinha. Kassandra começou a chorar e a separar a louça para a mesa de jantar. Ligou para um restaurante, pediu. Eles estavam na sala, e a mesa de jantar era separada, em outro cômodo. Enquanto levava as louças para a mesa, Kassandra cruzou com a moça no corredor. Sorriu forçadamente para ela e disse, cabisbaixa: — Olá precisa de alguma coisa? Posso ajudar? A moça sorriu e respondeu, olhando Kassandra intrigada: — Não, obrigada. Posso espiar a sala de jantar? Kassandra respondeu, continuando a andar: — Claro, fique à vontade. Eu só vou arrumar a mesa aqui, tá? A moça ficou reparando na sala, em tudo. Kassandra colocou três lugares à mesa. Então, a moça perguntou intrigada: — Você não vai comer conosco, querida? Kassandra respondeu sem jeito: — Não. Eu trabalho aqui. A senhora me dá licença? Ela voltou para a cozinha e, quando retornou, a moça já havia voltado para a sala com eles. A comida chegou. Kassandra foi à porta pegar, e Andy também foi. Ele pagou e a acompanhou para dentro. Ela percebeu que ele estava nervoso, querendo impressionar o casal. — Me dá dinheiro para eu sair hoje, Andy? — ela perguntou. Ele respondeu que não, porque ela tinha que ajudá-lo. Ela ficou séria e disse, largando tudo: — Se você não der, eu vou fazer você passar vergonha. Eu espero eles irem embora, se você faz tanta questão, mas quero um dinheiro. Ele a encostou na pia e disse, muito próximo: — Você fica linda brava assim! Kassandra ia responder quando ouviu passos se aproximando. Ela se afastou dele no susto e quebrou um prato. Assim que se afastaram, o casal chegou à cozinha. A moça disse que queria mostrar para o marido o design do balcão. Ela ainda disse, toda simpática: — Desculpa a falta de educação, Andy! Ele, muito simpático, respondeu que não tinha problema, que só tinha ido pôr as bebidas para gelar. Kassandra estava um pouco alterada por causa dele. Abaixou-se para pegar os cacos do copo e se cortou. Andy continuou conversando com a moça e ainda a olhou com reprovação. O homem estava parado, olhando-a sério. Ele tinha olhos azuis, um olhar profundo, uma cara de má pessoa. Kassandra foi à pia lavar a mão. Ele estava encostado perto, aproximou-se e disse: — Posso ver? Ela balançou a cabeça que sim. Ele pegou na mão dela. Ela estava trêmula, com as mãos geladas. — Qual o seu nome? — ele perguntou baixinho. — Kassandra — ela respondeu em voz baixa. Ele disse, segurando a mão dela na água: — Você vai desmaiar? Ela balançou a cabeça que não. Ele disse que não foi muito fundo e se afastou. Ela lavou a mão e colocou papel toalha. Eles foram para a sala de jantar e Andy disse que já voltava para ajudá-la a fazer um curativo. Kassandra já estava quase chorando. Ele voltou e começou a brigar com ela, falando que ela não fazia nada direito e que o estava envergonhando, disse que ela fez de propósito para chamar atenção. Kassandra não respondeu nada. Foi para os fundos, no seu atual quarto, tirou os sapatos, sentou na cama e começou a chorar. Tomou banho e foi dormir, trancou a porta e não voltou mais para lá. Estava exausta de tudo. O jantar correu bem, apesar de tudo. De manhã, levantou cedo. Andy estava dormindo ainda. Ela limpou toda a bagunça do jantar e ficou na sala assistindo televisão. Quando ele levantou, não falou com ela, logo se arrumou para sair e deixou uma nota de cem reais na mesa. Disse que iria demorar para voltar e que talvez não fosse dormir em casa. Kassandra deu graças a Deus por ele a deixar sozinha. Ela ficou deitada assistindo o dia todo. O interfone tocou. Ela abriu a porta surpresa, não estava esperando ninguém. Era Yágilla, a moça que havia ido em casa na noite anterior. Kassandra estava de camisola de renda e pantufa, bem à vontade. Abriu a porta sem jeito. Yágilla a cumprimentou com beijo no rosto e falou que havia esquecido o carregador de celular la. Kassandra respondeu toda desconcertada: Kassandra respondeu, ainda sem jeito: — Ah sim, entra, fica à vontade. O Andy não está, ele deu uma saída! Yágilla entrou, sentou-se na sala e disse, encarando Kassandra: — Nem pude me despedir de você ontem... O Andy disse que você estava indisposta! Kassandra respondeu, sem graça: — Desculpa, eu tive um dia corrido, tenho enxaqueca às vezes. Yágilla respondeu com um tom irônico: — Também imagino, trabalhar de salto alto e bico fino deve ser muito cansativo mesmo. Kassandra disse que tinha tido um compromisso à tarde e que não pôde se trocar. Yágilla rebateu: — Fiquei muito intrigada com você, Kassandra, não é? Sabe que não pude deixar de notar, ao ir no banheiro, a quantidade de produtos para mulher que tem lá, duas escovas de dentes, maquiagens de ótima qualidade. Kassandra ficou muda, ouvindo. Yágilla continuou: — Você quer me contar o que vocês são? Estou muito curiosa. Desculpa a minha ousadia! Kassandra respondeu que ele tinha alguém, mas que não era ela. Yágilla pontuou: — Uma esposa, não é? Vi a aliança dele! Kassandra confirmou que sim. Yágilla sorriu e disse: — E você tem uma marca de aliança que, pelo que vejo, deixou de usar há pouco tempo. Kassandra respondeu irritada, sentindo-se acuada: — Olha, não é por nada não, mas eu não posso falar da vida pessoal do Andy. Yágilla pegou o carregador, levantou-se e disse que só queria saber mais sobre Andy, que ele e o marido dela estavam para fechar um negócio muito importante e de grande investimento, confessou ser um pouco curiosa. Kassandra reafirmou que não podia ajudar, porque Andy era um pouco rígido e não seria certo expor a vida pessoal dele.
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