Capítulo Um-2

1067 Words
Foi a primeira vez em quase quatro anos que Lynn desmoronou e chorou, mas não havia como ajudar sua filha. No entanto, se ela achou que a notícia causaria sofrimento a Alexis, estava enganada. Alexis tinha uma mente brilhante e um espírito indomável, recusando-se a se entregar ao desespero. Apesar da força de Alexis, não havia como vencer a doença que aos poucos lhe roubava a visão. Por um tempo, ela usou óculos, mas eventualmente seu mundo se tornou cinza. Ela dizia que ainda conseguia distinguir luz e escuridão, mas agora Alexis dependia de uma bengala e de seus irmãos para navegar pelo mundo. O trio sempre foi próximo, mas saber que sua irmã estava perdendo a visão os tornou ainda mais protetores. Agora eram inseparáveis e ninguém se atrevia a provocar Alexis com medo de irritar seus dedicados guardiões, não que alguém sequer cogitasse intimidá-la. As crianças frequentavam a Escola Pública Anna Silver, onde rapidamente se destacaram. Suas notas nos testes eram consistentemente acima da média. Embora alguns reclamassem que eles alteravam a curva, as personalidades extrovertidas dos trigêmeos os tornavam populares. Tanto Sean quanto Theo eram entusiastas do basquete, com Sean também tendo uma mente tecnológica. Mas Alexis era a verdadeira destaque. Assim como sua mãe, Alexis tinha cabelos castanhos ricos e olhos verdes, além de ser uma prodígio musical. Quando as crianças eram mais novas, Lynn costumava tocar piano e comprou um teclado bastante caro para praticar, mas gradualmente desistiu, antes de ensinar Alexis a tocar. Assim como sua mãe, Alexis se transportava para seu próprio mundo quando tocava, e todos que ouviam não podiam deixar de se emocionar. Enquanto sua mãe era uma pessoa tímida, Alexis era extrovertida e amigável, conquistando um grande número de seguidores. Lynn ficava feliz por seus filhos serem populares e bem ajustados. Ela não podia esperar mais, não ousava esperar mais. Agora estavam no quinto ano e logo entrariam em uma escola intermediária. Lynn esperava que eles se adaptassem à escola maior com sua familiar facilidade. * * * Com um suspiro, Lynn saiu da cama e se apressou em direção ao banheiro. Eram cinco e meia e as crianças acordariam em breve. Era melhor terminar seu ritual matinal antes deles, ou então eles se atrasariam.Depois de um banho, ela se vestiu com a blusa e saia rosa pastel que compunham o uniforme do restaurante. Assim como o próprio restaurante, era um estilo direto dos anos cinquenta. Amarrando seu cabelo ondulado natural em um penteado meio preso, Lynn se dirigiu para a cozinha, aquecendo os biscoitos de linguiça no microondas para o café da manhã. Os meninos teriam dois cada um, enquanto Lexi e sua mãe ficariam satisfeitas com apenas um. Ao pegar o leite, Lynn examinou o conteúdo escasso da geladeira. Além de itens básicos como leite, ovos e manteiga, a maior parte estava empilhada em recipientes de isopor da comida para viagem do restaurante. Gretchen era uma gerente gentil e Lynn se sentia enormemente sortuda. Quando os trigêmeos eram bebês e até começarem a pré-escola, Gretchen permitia que eles acompanhassem Lynn ao trabalho quando ela não conseguia encontrar uma babá. Gretchen até comprava brinquedos e jogos para mantê-los ocupados durante os longos turnos de sua mãe. Com frequência, a mulher mais velha cuidava dos bebês como uma avó protetora. Sabendo como era difícil cuidar de três crianças em crescimento, Gretchen muitas vezes dava a Lynn a comida que sobrava no final do dia. Ela afirmava que Lynn estava fazendo um favor ao evitar que a comida fosse jogada fora, mas Lynn ocasionalmente encontrava refeições inteiras: hambúrgueres, batatas fritas, hashbrowns e outros alimentos completamente intocados. Embora Lynn nunca conseguisse perguntar, ela suspeitava que Gretchen às vezes preparava algumas refeições com o propósito expresso de dá-las a ela e às crianças. Era um ato incrível de generosidade e caridade que só funcionava enquanto ambas as partes o ignorassem voluntariamente. Lynn aproveitava todas as instituições de caridade que podia, fazendo visitas regulares às despensas comunitárias, brechós, e suportava o ridículo silencioso dos Serviços Humanos para receber cupons de alimentos. Até hoje, ninguém, exceto Tracy, sabia a verdade sobre a paternidade das crianças. Gretchen só sabia que o pai delas não estava presente e até mesmo as certidões de nascimento deles o listavam como desconhecido. As pessoas tiravam suas próprias conclusões. A maioria presumia que ela era algum tipo de garota de programa ou extremamente promíscua por não conhecer o pai dos trigêmeos. Lynn não se importava em corrigi-los, pois isso significaria revelar a verdade. Em vez disso, ela suportava a vergonha. "Bom dia, mãe.", Alexis sempre a primeira a se levantar cumprimentou. "Bom dia, querida.", Lynn disse colocando um prato com seu café da manhã e um copo de suco de laranja. Com habilidade adquirida, Alexis chegou ao balcão e sentou-se sem precisar da sua bengala. Em ambientes familiares, ela conseguia se mover com base na memória. Contanto que os móveis permanecessem no lugar, ela não precisava se preocupar em esbarrar nas coisas acidentalmente. Pegando o seu sanduíche de café da manhã, Alexis comeu contente. Quanto mais velha ela ficava, mais sua semelhança com a mãe se tornava evidente. Mesmo agora Lynn tinha certeza de que qualquer um reconheceria seu cabelo castanho e olhos verdes. Felizmente, eles estavam bem longe dos círculos que Lynn costumava frequentar quando ainda usava o nome Carlisle. "Bom dia, mãe! Bom dia, Lexi!", Theo e Sean bocejaram quando finalmente apareceram. Assim como sua irmã se parecia com a mãe, os meninos eram versões em miniatura do pai. Se Lynn pensasse demais nisso, às vezes sentia dores de arrependimento e perda. Não querendo sobrecarregar seus filhos com suas próprias lutas, Lynn rapidamente sufocava tais pensamentos. Ela não permitiria que seu amor genuíno por seus bebês fosse manchado pela paixão de sua juventude. Se alguém do seu passado visse os meninos, certamente faria a conexão. Mesmo sabendo disso, ela achava remota a chance de seus caminhos se cruzarem. Ela não fazia mais parte da elite da sociedade e ninguém daquele círculo tinha motivo para explorar as camadas mais baixas da sociedade. "Bom dia, meninos", Lynn riu. "Vocês terminaram toda a lição de casa?" "Sim. Estamos prontos." "Ótimo. Ah, Lexi, temos uma consulta médica hoje. Não esqueça. Vou te buscar na escola." "Claro, mamãe." "Isso significa que Tracy vai buscá-los, tudo bem?" "Sim!" "Sem problemas." Eles responderam com a boca cheia de linguiça, ovo, queijo e biscoitos.
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