Ele deu um solavanco quando uma dor súbita envolveu seu peito. Não. Não podia ser. Não isso... qualquer coisa menos isso.
Naturalmente, sua execução foi diminuindo após o ápice. Lentamente, a garota se endireitou, relaxando enquanto a melodia desacelerava. Retirando a mão esquerda, ela terminou com a direita, tocando suavemente as mesmas notas iniciais, deixando-as pairar no ar como uma pergunta.
Satisfeita, ela pegou sua bengala e se moveu para a ponta do banco. Levantou-se, curvou-se uma vez para a plateia antes de estender a bengala e sair da mesma maneira que entrou.
Por vários momentos, a multidão assistiu em estado de puro espanto, até que um assobio estridente e aplausos eclodiram de um canto escuro, "Sim, Lexi!"
"Viva! Viva! Viva!"
A multidão se agitou, levantando-se e aplaudindo na primeira e única ovação em pé da noite. Saindo quietamente do palco, a garota não parou, mas sorriu amplamente.
"Umm... Chefe? Silas?"
"A garota. Encontre-a. Traga-a aqui."
"C-como? Quero dizer, não é como se ela fosse me reconhecer."
"Não me importa como. Traga-a!" Silas respondeu rude.
"Certo." Thomas se virou e deixou rapidamente a cabine privada.
Quando ele chegou ao saguão de entrada, pelo menos metade dos competidores e seus pais estavam se misturando enquanto tomavam os refrescos fornecidos. Thomas não era tão reconhecível quanto Silas, e a multidão reunida o ignorou enquanto ele se abria caminho por entre eles. Ele vasculhou o grupo, mas encontrar uma única garota entre tantas era impossível, e ainda não sabia o que diria a ela.
"Oi Lexi!"
"Aqui, irmã!"
Thomas parou, seus olhos voltados para as vozes. Em um canto relativamente calmo, ele viu um par de meninos jovens, idênticos até nos sapatos. Ambos tinham cabelos pretos e olhos azuis, uma combinação rara. Ambos vestiam uma camisa branca comum, calças pretas e tênis, mesmo que devessem estar vestidos formalmente. Seus cabelos curtos estavam um pouco bagunçados, caindo em seus olhos, mas isso não parecia incomodá-los.
Thomas ficou paralisado, os meninos pareciam tanto com outra pessoa que ele pensou ter voltado no tempo. Mesmo chocado, ele pegou seu telefone e tirou rapidamente fotos dos dois, enquanto uma loira alta ao lado deles tentava mantê-los quietos.
"Vocês dois são tão bobos!", declarou uma nova voz quando a garota que Thomas havia sido enviado para buscar alcançou o trio.
"Você nos ouviu torcendo?", perguntou um dos meninos.
"Claro que ouvi. Todo o Brooklyn ouviu vocês.", Alexis riu enquanto os meninos a envolviam em um abraço. "E aí, tia Tracy? Fui boa?"
"Querida, você jogou exatamente como sua mãe.", disse a loira. "Ela ficaria tão orgulhosa! É uma pena que ela tenha que trabalhar até tarde hoje."
"Tudo bem. Acho que ela não gostaria dessa multidão, e você sabe o que ela diz sobre música... Não coloca comida na mesa.", suspirou Alexis.
A tia fez uma careta em resposta: "Ela não costumava ser assim, sabe... É por isso que você me fez jurar segredo sobre onde estávamos indo hoje à noite?"
"Foi ideia da Srta. Johnson tentar conseguir dinheiro para o programa de música da escola.", explicou Alexis. "Minha mãe nunca concordaria, então Sean falsificou a assinatura dela no termo de permissão."
"O que também é segredo.", declarou um dos meninos.
"Juro por meu juramento como advogada de não revelar nada que meu cliente me diga em confidência.", disse Tracy, "Mas se sua mãe descobrir, ela vai me matar."
"Então vamos ter certeza de que ela não descubra.", Alexis estendeu seu mindinho. Os dois meninos e a tia entrelaçaram seus mindinhos com o dela. "Nós nunca falamos dessa noite... nunca."
"Promessa de mindinho.", declararam os outros.
"Vocês estão com fome?", Tracy perguntou.
"Não de nada daqui.", Alexis balançou a cabeça. "Devemos voltar antes que todos os outros. Já é difícil navegar por este lugar sem a multidão."
"Tudo bem, vamos.", concordou Tracy.
Cada menino agarrou um dos braços de sua irmã. Desde que se lembravam, eles sempre fizeram isso e sempre na mesma ordem: Sean à esquerda dela e Theo à direita. No meio, Alexis não precisava usar sua bengala, mas também não precisava. Ela sabia que seus irmãos não permitiriam que nada lhe acontecesse. Com a tia seguindo-os, eles voltaram para o auditório, sem saberem do observador tirando fotos.
Thomas voltou para o amigo que o esperava ansiosamente. Silas quase saltou da cadeira, exigindo: "Onde ela está?"
Abanando a cabeça, Thomas respondeu: "Havia pessoas esperando por ela. Eu não conseguia tirá-la de lá."
"Pessoas esperando... Quem?"
"Seus irmãos e tia, eu acho."
"Tia? Não sua mãe?"
"Não. Tirei fotos."
Thomas pegou seu telefone e mostrou a primeira imagem antes de entregá-lo. Ao ver os dois meninos, Silas prendeu a respiração. Cabelos pretos, olhos azuis, até mesmo a inclinação do nariz e o ângulo da mandíbula combinavam com os seus. A semelhança era mais do que surpreendente. Não seria possível negar sua parentesco. Ele não precisava de um teste de DNA para provar isso, ninguém precisaria.
"O diretor disse que eram trigêmeos, e a garota disse que tinha dez anos.", disse Thomas. Ele não era um especialista, mas trigêmeos certamente não eram eventos comuns, especialmente com dois gêmeos idênticos e uma irmã fraterna.
Silas folheou as fotos, observando os meninos saudando sua irmã em um abraço duplo que mais parecia um abraço coletivo. Era óbvio que havia fortes laços entre eles. Seu olhar eventualmente se fixou na loira que os acompanhava de perto.
"Quem é ela?"
"A tia deles.", disse Thomas. "Pelo menos, eles a chamaram de tia Tracy."
"Tracy", repetiu Silas. Ele forçou a mente tentando lembrar de seus colegas de classe. Havia uma Tracy?
"Acho que ela é advogada."
"Advogada?"
"Sim, algo que ela disse, sobre seu juramento de nunca revelar os segredos de seus clientes", disse Thomas. "Acho que ela estava falando a verdade."
"Advogada... Tracy..." murmurou Silas. Algo sobre isso soava familiar, mas sua mente havia sofrido tantos choques que não conseguia conectar os pontos.
As luzes se apagaram e o anfitrião da noite apareceu no palco, enquanto os últimos retardatários retornavam para seus assentos. Batendo no microfone, o anunciante disse: "E agora chegamos ao momento que todos vocês esperavam. O terceiro lugar vai para..."
Silas não estava ouvindo. Sua atenção estava nas fotos que Thomas havia tirado. Ele não conseguia parar de olhar para elas. Como? Como isso poderia ser? A não ser... não... isso era impossível.
"E o grande prêmio da noite vai para a Banda Pep de Riverdale!"
Silas olhou para cima ao ouvir o nome de sua alma mater. Sua mente estava entorpecida, mas mesmo ele sabia o equívoco no anúncio. Como eles puderam vencer a incrível performance de Alexis? Ele não era o único confuso, se o aplauso esporádico servia de indicador.
"Como trazer mais pessoas pode ser considerado uma vitória?" murmurou Thomas. Eles não eram os únicos insatisfeitos.
* * *
"Vaias! Vaias!"
"Exijo uma recontagem!"
"Sim! Alguém atire nos juízes!"
"Eles são surdos ou apenas burros?"
"Ei! Os juízes foram subornados!"
"Vaias!"
"Sean, Theo." Tracy tentou acalmá-los. "Vamos lá, vocês dois."
"Mas tia, isso é uma farsa!" insistiu Theo. "Lexi foi claramente a melhor. Certo, irmã?"
"Está tudo bem. Sabíamos que era uma chance distante.", sacudiu a cabeça Alexis. "Vamos lá. Vamos sair antes da multidão."
Ainda insatisfeitos, os meninos, no entanto, aceitaram a ajuda da irmã para levantá-la do assento e seguir pela fileira. Felizmente, eles haviam escolhido assentos na ponta e perto da porta. Eles saíram do auditório enquanto este explodia com murmúrios e fofocas. Ninguém poderia negar que eles haviam presenciado algo mágico, além de um crime de favoritismo. Quer soubessem ou não, o trio havia deixado uma impressão duradoura e iniciado uma investigação que iria derrubar a direção da competição.
Nada disso significava algo para o trio, mas outra investigação certamente significaria, como Silas se virou para seu amigo. "Quero saber tudo sobre esses três e quero isso ontem."