Setembro 2021...
Não sei exatamente onde eu estou. Apenas sinto meu corpo doer e ouço vozes ao meu redor. Sirenes ao longe e chamados em um megafone, me fazem pensar na rotina de um hospital, o que provavelmente deve ser um seriado médico na TV. Mas e quanto às dores no corpo? Devem ser pelo fato de eu ter cochilado no sofá da sala.
Não consigo abrir meus olhos, pois parecem que eles não me obedecem. É como se eu tivesse hibernado por um longo tempo em uma viagem. Tento me mover, mas cada músculo e cada uma de minhas articulações doem. As vozes começam a aumentar e forço meus olhos a abrirem.
Não reconheço este lugar e ao que tudo indica, estou em um quarto de hospital. Mas o que estou fazendo aqui? A última coisa que me lembro era de estar deitado em minha cama. Tento me lembrar do dia de ontem.
A formatura, o baile, Claire, a gravidez... A gravidez! Claire estava grávida!
Começo a recordar a noite anterior, e percebo que devo estar de ressaca no quarto de algum amigo. Bebi todas depois que descobri a gravidez, que por sinal é inviável nesta fase da minha vida. Acabo de ser aceito em Stanford e uma criança iria atrapalhar meus planos. E essa TV ligada só piora minha dor de cabeça.
Minha visão tenta se adaptar à luz quando novamente tento abrir os olhos. Sinto cada músculo do meu corpo se contorcer de dor, mas ainda assim tenho que levantar e se estiver em qualquer outro lugar que não seja minha cama, preciso ir para casa.
Se fosse só a dor eu ainda estaria bem, mas noto que há alguns fios em meu peito e estou com um vestido ou sei lá o que é aquele pedaço de pano, o que confirma minha suspeita de estar em um hospital.
A única pergunta era o que eu estava fazendo ali. E como cheguei ali.
- Ei! O que acha que está fazendo? - Era a voz de Claire. Eu reconheceria sua voz doce e suave de longe. Mesmo se ela estivesse brava, conseguia exalar calma e suavidade em sua voz.
- Estou indo embora. Preciso ir para casa. Aliás, não sei o que estou fazendo aqui. E que roupas são essas? Por que você está vestida assim? - Eu quis saber a razão de ela estar usando roupas que pareciam da minha mãe e o cabelo preso num coque. Ela sempre detestou cabelos presos.
- Que tipo de pergunta é essa? São minhas roupas. Agora por favor, volte para a cama. - Claire parecia brava, embora fosse impossível achar que era de verdade. Fico imaginando, que pulso firme ela teria com esse bebê!
- Meu pai, por favor Claire, chame meu pai. Ele precisa me tirar daqui.
- Por acaso você bateu a cabeça no avião? - Do que ela estava falando, e que avião?
- Sua mãe está vindo para cá. Agora por favor, permaneça deitado. - Até o modo de falar de Claire estava diferente e por sinal ela devia estar com raiva a ponto de não querer nunca mais olhar na minha cara e com razão, porém ela não estava.
- Claire me desculpe por ontem e por ter gritado com você e dito aquelas coisas horríveis. Mas ainda assim não podemos ter essa criança.
- Ontem? Por acaso anda sonhando comigo? Mas já aviso que se estiver sua namorada não vai ficar nada feliz. - Namorada? Ela é minha namorada. Claire é minha namorada e não outra. Será algum tipo de peça que ela quer me pregar?
- Não sonhei com você. Mas estou falando sério em r*****o à criança. - Eu insisti no assunto e sua fisionomia mudou na mesma hora.
- Tem certeza que quer falar sobre o passado? Ótimo então, por que eu tenho muitas coisas para dizer. E não, eu nunca vou te perdoar pelas coisas horríveis que você me disse aquela noite.
- Está tudo bem aqui? - Minha mãe entrou no quarto antes que Claire alterasse a voz.
- Diane! Está tudo ótimo, minha querida. Bem, eu já estava de saída. Depois nos falamos. - Ela beijou minha mãe com muito carinho e saiu do quarto. A minha pergunta era saber em qual momento as duas haviam se tornado tão íntimas? Na verdade eu tinha muitas perguntas.
- Meu filho, que susto você me deu! Se não fosse o apoio de Claire eu nem sei o que faria. - Disse minha mãe se aproximando e tentando localizar qualquer tipo de hematoma.
- Eu estou bem mãe e não tenho nenhum hematoma. Afinal o que estou fazendo aqui? E onde está o papai? - Finalmente consegui perguntar.
- Querido, tente ficar calmo. Sabemos que seu pai não está mais entre nós. - O que ela queria dizer com "não está mais entre nós."? Nada estava fazendo sentido. Claire e agora meu pai.
- Que ver um pouco de TV? Sei que gosta do noticiário da manhã. Assim passamos o tempo enquanto esperamos o médico. - Desde quando eu gostava de noticiários? Eu adorava mesmo era ver programas de musculação e fisiculturismo, às vezes um bom jogo de baseball mas nunca noticiários. Bem, antes que eu pudesse contestar alguma coisa ela ligou a TV.
Passava algo sobre furacões em algum lugar, e logo depois algo sobre inteligência artificial em robôs. Mas eu não entendia nada daquilo, era tudo estranho. No canto da tela marcava 1° de Setembro de 2021, e o horário 8h da manhã.
Que diabos estava acontecendo?
Eu estava sonhando só podia ser isso. Eu entrei em desespero sem saber exatamente o por quê.
- Mãe, me diga que estamos em Setembro e que ontem foi o baile da minha formatura. - Ela sorriu de uma forma tranquila indicando que estava tudo bem.
- Sim querido, estamos começando setembro, mas o baile da sua formatura foi há 25 anos atrás.