Quando minha vida virou de ponta cabeça

4998 Words
O meu nome é Kumiko, sou uma jovem de 18 anos, moro na cidade de Lian. Desde pequena, sempre gostei da minha cidade, a cidade de Lian é dividida em duas áreas, a zona urbana e a zona rural, eu estou atualmente na zona urbana, já a minha avó Yan Yan está na zona rural. Meus pais estão desaparecidos desde quando eu era uma recém-nascida, e quando pergunto sobre os meus pais para minha avó, ela acaba mudando de assunto, o que me deixa triste, porém percebo no olhar dela que ela se sente ainda mais triste que eu. Estamos no mês de maio, ainda é outono, as folhas das figueiras já caíram, a única coisa bonita do outono são as folhas secas caídas no chão, dando a visão de um longo caminho enfeitado de pura beleza. Este é o mês do meu aniversário, um mês bonito, que traz reflexão de como a natureza é esplêndida, de como as estações do ano podem ser comparadas ao humor de uma pessoa. Passarei o final de semana com a minha avó para comemorar o meu aniversário, mas por hoje preciso ir estudar e descansar para amanhã. Eu estou estabelecida em um dormitório da universidade, concedidos para alunos da zona rural ou para pessoas de outros países, para a minha sorte consegui um quarto na universidade. Estou cansada, os dias são repetitivos, nada de novo ou interessante. Já eu não tenho amigos próximos, prefiro ser uma pessoa reservada. Estou sentada na cama do dormitório, estudando e preparando-me para a matéria de amanhã, lembro de como os meus colegas dizem-me que sou uma aluna muito inteligente e legal, além de eu sempre tirar as melhores notas da sala, gosto de ajudar os meus colegas nas suas dúvidas, o que me deixa feliz é saber que posso ter orgulho de mim mesma. De repente vejo-me pegando no sono enquanto estudo, estou exausta demais para me levantar, então apenas me deito na cama com o livro sobre o peito e durmo. Dormindo de forma tranquila eu acordei assustada com o barulho do despertador na cômoda ao lado da minha cama. Já são seis horas da manhã, parece que apenas fechei e abri os olhos, ainda sonolenta me sento na cama e vejo o livro no qual estava a usar noite passada caído no chão. Levanto-me pego o meu livro e observo as garotas onde divido um quarto no dormitório da universidade se levantarem também de forma sonolenta. Começou novamente a correria, uma disputa para ver quem usará o banheiro primeiro, garotas tropeçando umas nas outras enquanto andam de um lado para o outro para conseguirem se trocar e arrumar as suas bolsas. Enquanto isso eu estou me misturando a elas, limpando os olhos e bocejando, pego a minha escova de dente e vou para o banheiro. Depois de alguns minutos é minha vez de usar o banheiro, logo após escovar os dentes, jogo um pouco da água fria que está saindo da torneira no meu rosto, para me despertar, observando as olheiras no meu rosto no reflexo do espelho dou-me um pequeno sorriso de boa sorte. Saindo do banheiro, uma garota entra logo atrás e vai lavar os seus cabelos na pia, pois os chuveiros estão todos ocupados. Como eu disse, correria diariamente. Após eu me vestir, junto todos os meus materiais, coloco na minha mochila e desço do segundo andar do dormitório, e vou em direção a universidade, são cerca de quinze minutos de caminhada até lá. As aulas se iniciam às oito horas então restam-me trinta minutos. Andando a caminho da universidade encosto na cafeteria que fica próximo da universidade, compro um latte, e sigo o meu caminho às pressas, sou uma estudante de biologia, desde pequena sempre gostei de ciências da natureza, então decidi o que eu quero para minha vida, graças a minha avó Yan Yan e o seu apoio, consegui ir atrás dos meus sonhos. Mesmo não tendo o meu pai ou a minha mãe presente, sei que sempre poderei contar com a minha vovó, para os piores e melhores momentos, também sei que sempre a terei ao meu lado. Chego à universidade com o meu copo de latte, vazio. Ótimo! Será uma dor de cabeça a menos, pois existem dias que são tão corridos que não consigo beber, nem um simples copo de café expresso. Entro na sala, jogo o copo descartável na lixeira de recicláveis que fica ao lado da porta, e sento-me em uma das mesas da frente, logo vem atrás outros alunos acompanhando o professor. Sim, ele resolveu com todo o seu amor por nós, nos entregar uma avaliação surpresa. Ele não é um professor de conduta má, pelo contrário, sempre nos tratou de boa forma, e sempre nos ensinou que devemos estar sempre preparados para o imprevisível, porém, isso foi imprevisível até demais. Para a minha sorte o conteúdo da prova era o mesmo que eu estudei na noite passada, parece que para mim nem tudo é azar afinal. Ao sair da universidade de volta para o dormitório, observo os galhos secos das figueiras balançando e as suas folhas no chão, acredito que as árvores sentem saudades das suas antigas folhas, mais, com certeza, ficarão felizes quando surgir novas folhas mais verdes e bonitas do que as que caíram. Perdida em pensamentos chegou ao meu dormitório, ao olhar meu celular percebo que hoje não é quinta, e sim sexta. —d***a! Como pude ser tão desleixada? Tenho que me apressar para pegar o ônibus! Esbravejando comigo mesma, arrumei todas as coisas que precisava para passar o final de semana mais minha avó Yan Yan, sem pensar duas vezes saí do dormitório apenas com uma pequena bolsa. Para a minha sorte, havia um táxi deixando uma aluna na frente, então aproveitei para pegar esse táxi e ir para a estação de metrô, chegando lá, já estavam a embarcar os passageiros. — Que sorte não ter ficado para trás! Entrei no metrô muito contente, afinal não saberia quanto tempo demoraria para pegar o próximo metrô, além disso, eu já havia comprado a passagem, então posso dizer que realmente tive sorte. A minha bolsa era de pequeno porte, então a levei comigo nos braços, peguei os meus fones de dentro da bolsa e acomodei-me na poltrona, são quatro horas de viagem, quatro horas para ver a minha linda e amada vovó. Dormi a viagem praticamente inteira, acordei com o barulho das pessoas levantando para descerem na estação, eu fiz o mesmo. Entrando no empurra aqui e ali, finalmente consegui descer. Logo avisto a minha avó acenando com a sua mão para cima, eu aceno de volta par dizer que eu a estou vendo. Sim, aquele sorriso que ela me dá me transmite conforto, é aquele sorriso que me transmite alegria. Chegando perto da minha vovó eu abraço-a como se fosse à primeira vez. Eu realmente senti muita falta dela, todos esses dias na universidade longe dela partem-me o coração. Yan Yan: — Como você cresceu meu anjo! Está cada dia mais bonita. Levantando as mãos ela aperta as minhas bochechas, assim como ela fazia quando eu era criança. Kumiko: —Vovó, para está todo mundo olhando… Eu abaixo a minha cabeça envergonhada, alisando as minhas bochechas, porém feliz em saber que a minha avó sempre me vai ver como a sua neta querida. Com o coração quente e reconfortado por minha avó pego a minha bolsa, coloco nas costas enquanto a minha avó segura em um dos meus braços, só então nós nos direcionamos para nossa casa. A estação de metrô não fica longe de casa, então decidimos ir caminhando. Conversamos sobre muitas coisas, o que ela fez no tempo em que estive fora e de como são seus dias aqui na zona rural. Observo tudo enquanto caminhamos. Até que aqui se desenvolveu bastante no tempo em que estive longe, está mais organizado e bonito, e tem mais pessoas morando nessa região. Chegando a nossa casa, eu procuro o meu quarto. É como se eu nunca tivesse saído daqui. A casa continua igual. Paredes verdes com flores de lótus desenhadas em todas as partes lembram-me de como eu adorava observar as flores de lótus na minha infância. Apenas me jogo na cama, exausta tanto da universidade quanto da viagem, meu desejo é apenas descansar. Deitada sinto todos meus músculos rígidos irem relaxando pouco a pouco. Sinto as tensões das minhas costas desaparecerem. Não me lembro qual foi à última vez que me deitei numa cama tão confortável assim, quase sempre durmo sentada devido aos estudos, e o colchão da universidade não é muito confortável, mais acabei me acostumando a ele. Eu acabo pegando no sono, sem me preocupar sobre não ter comido nada durante todo o dia. Quero apenas ficar nesse cantinho maravilhoso e descansar. Enquanto estou dormindo, tenho um sonho incomum, escuto uma voz suave e encantadora, mas não consigo descrever o que ela fala totalmente, apenas que me diz para ter cuidado. Eu abro os olhos, um pouco assustada, mas não foi nada impactante o suficiente para me fazer perder o sono, logo volto a dormir. Finalmente quando eu acordo, já é manhã de sábado, me sento espreguiçando-me na cama escutando meus ossos se estalarem, um atrás do outro, consecutivamente. Sem sombras de dúvidas, essa foi uma das melhores noites da minha vida, porém esse sonho me perturbou um pouco. Me levanto, arrumo a minha cama, pego as minhas roupas de dentro da bolsa que eu havia trago, separo um vestido azul com girassóis amarelos, pego minha escova de dente, minha escova de cabelos de dentro da bolsa e uma toalha macia que estava em uma cômoda localizada próxima a porta do meu quarto. Direciono-me para ir ao banheiro, que fica no corredor do meu quarto. Minha avó passa por mim sem dizer nada, o que foi realmente estranho, porém eu não falei nada e continuei em direção ao banheiro, pois estava me sentindo realmente muito imunda. Tomei meu banho, escovei meus dentes, me vesti e escovei meus cabelos. Volto para o quarto para guardar minha escova de dente e minha escova de cabelo, pego minhas roupas do dia anterior, dobro e a coloco em um cesto de roupas sujas em um canto do quarto. Então desço para tomar meu café da manhã, com certeza minha avó preparou algo gostoso. Acertei! Ela fez meu bolo preferido, eu simplesmente amo bolo de milho com calda de chocolate, e para complementar um chá de hortelã, dando uma sensação suave, doce e refrescante. Yan Yan: — Aqui Kumiko, venha comer. Preparei o seu favorito. Pensei em te acordar na noite passada para jantarmos, mas você parecia tão cansada, não quis incomodar. Por sinal, esse vestido ficou lindo em você minha netinha adorável. Kumiko: — Vovó, você está bem? Passei por você mais cedo no corredor e você não me deu nem bom dia. Yan Yan: — Como isso é possível meu anjo? Eu passei a manhã toda na cozinha, preparando o seu café e escrevendo uma lista de compras, para saber o que está faltando. Vamos, coma, foi apenas uma impressão, não se preocupe, além do mais, ainda devemos ir ao mercado, fazer umas compras. Então se apresse. Kumiko: — Está bem vovó! Acabei deixando o assunto de lado, pois como eu não tenho me alimentado bem ultimamente posso apenas ter imaginado isso. Após tomar café, peguei meu prato e minha xícara e os coloquei na pia e vou onde minha avó. Ela está no jardim regando suas plantas. Nossa! Esqueci como minha avó é linda. Cabelos pretos com alguns fios brancos, quase não aparentam sua idade, além de uma pele com poucas marcas de expressões. Quem me dera chegar aos meus sessenta e nove anos e parecer tão jovem. Apenas consigo soltar um leve suspiro, ao pensar como estariam meus pais hoje e qual seria a aparência deles. Kumiko: — Pronto! Vamos minha senhora, sua neta terminou de comer. Estou a sua espera para irmos fazer compras, para que assim eu possa degustar mais de sua deliciosa comida! Yan Yan: — Vamos, e, por favor, não me chame de senhora e sim de donzela. Kumiko: — Então vamos minha donzela? Yan Yan: — Vamos. Acabamos caindo na risada. Adoro como a minha avó e eu brincamos, dificilmente vejo jovens a dar valor a seus avós, e isso é uma coisa que me parte o coração, uma coisa que eu levarei para a vida toda é a forma carinhosa de como eu e ela nos tratamos. Então, após fecharmos portas e janelas, saímos em direção ao mercado. Havia várias barracas de frutas, verduras e legumes, que incrível sentir o cheiro dos alimentos frescos. Andando de barraca em barraca, já compramos bastantes coisas, porém ainda faltavam alguns itens da lista, minha avó me levou para um canto do mercado, me entregou as sacolas que estavam em suas mãos e me disse para esperá-la ali, enquanto ela compraria o que faltava. Enquanto vovó foi buscar os últimos itens da lista, comecei a me sentir observada de alguma forma, sentindo-me desconfortável olho de um lado para o outro, para ver se realmente tem alguém me observando, porém não havia ninguém ali prestando atenção em mim. O que eu esperava? Um príncipe encantado ou um louco? Por quais razões alguém ficaria observando alguém tão comum quanto eu? Às vezes acho que estou realmente começando a ficar paranóica, e que deveria começar a me alimentar melhor, pois do que adianta eu ter ótimas notas e acabar como uma lunática que não sabe nem diferenciar o que é coisa da minha cabeça com a realidade. Observo vovó vindo em minha direção, com mais sacolas, ela me entrega as que estão com ela. Finalmente compramos tudo, porém ela me manda ir à frente com as sacolas, que ela iria depois de resolver alguns assuntos pessoais. Sem pensar duas vezes eu me viro e vou para casa, afinal de contas as sacolas estão pesadas, e não é nada confortável sentir seus pulsos sendo apertado por tantas sacolas. Bem que seria ótimo se alguém se oferecesse para ajudar, porém as pessoas por qual eu passo estão bem mais ocupadas do que eu, seria uma falta de empatia esperar ajuda, além disso devo me virar sozinha, é muito perigoso confiar em estranhos. Chegando a casa percebo que não pedi a chave da casa para minha avó. Que cabeça dura! Sempre esquecendo algo. Para minha sorte, me lembrei de onde sempre guardamos a chave reserva para caso isso acontecesse. Sim, por mais incrível que pareça a gente esconde essa chave debaixo de um jarro de flor que fica ao lado da porta. Eu tiro todas as sacolas da mão e as coloco no chão para pode pegar a chave. Levanto um jarro de tulipas de pequeno porte e pego a chave, toda suja de terra e dou-lhe algumas batidinhas. — Bingo! Achei você. Destranco a porta, pego as sacolas e as levo para a cozinha. Na cozinha tiro todas as frutas, verduras e legumes da sacola e as coloco na pia para serem lavadas, então eu começo a lavar. Após terminar as guardo na geladeira. Demorei um pouco para lavar tudo, e para a minha surpresa vovó ainda não chegou o que é uma coisa realmente estranha, já que ela não gosta de se atrasar em nada. Foi com a vovó que eu aprendi a ser uma pessoa pontual, porém está quase na hora do almoço e eu estou faminta, mas resolvo esperar sentada na poltrona da sala, afinal de contas a pressa é inimiga da perfeição. Já se passaram quatro horas, e nenhum sinal de vovó, então eu resolvo me levantar e pegar uma fruta na geladeira. Pego uma maçã, ela parece realmente suculenta e crocante. Minha boca saliva, e quando eu a abro para dar a primeira mordida minha avó abre a porta de entrada, fazendo com que eu parasse e não concluísse o meu movimento. Com algumas sacolas e uma caixa bem enfeitada por fora que transmitia um cheiro agradável. Eu pego a maçã, coloco em cima do balcão e me direciono para ajudá-la. Kumiko: — Vovó, por que a senhora demorou tanto? Venha, me entregue essas sacolas. Estou faminta, e a senhora parece estar também. Yan Yan: — Calma! Como eu disse, fui resolver algumas coisas pessoais. Você não deveria se preocupar tanto com uma velha como eu. Pegue essas sacolas, e as coloque no balcão da cozinha, estou indo logo atrás para preparar algo para nós. Kumiko: — Vovó, claro que eu tenho que me preocupar! A senhora é a pessoa que eu mais amo no mundo. Vovó dá uma leve risada, enquanto entra, logo atrás de mim, com a caixa em seus braços. Coloco todas as sacolas no balcão, e dou alguns passos em rumo à vovó, para poder pegar aquela caixa que é muito bonita por sinal, porém ela disfarçadamente desvia a caixa de minhas mãos. Yan Yan: — Também amo muito você minha querida, porém não precisa se preocupar com nada. Kumiko: — Está bem vovó. Por sinal, o que tem na caixa vovó? Yan Yan: — É uma surpresa, não quero que você abra antes de anoitecer, está bem? Kumiko: — Está bem, eu prometo. Estou curiosa sobre o que tem na caixa, porém, não vou abrir até o anoitecer, e estou faminta demais para me preocupar com isso. Vovó coloca a caixa sobre o armário, com muito cuidado para não derrubar, guarda as sacolas em um armário próximo à pia e se dirige a geladeira para tomar água, enquanto eu me sento em uma cadeira, apoiando os meus cotovelos sobre o balcão para observar vovó enquanto cozinha. Então ela lava suas mãos na pia e começa cortando os temperos. Uau! Ela realmente tem uma ótima habilidade com facas. Jogando um fio de azeite e os temperos logo depois em uma panela, o cheiro maravilhoso faz com que meu estômago ronque tão alto que escuto minha avó soltando uma risadinha quase inaudível. Após esperar algum tempo, finalmente está pronto. Vovó fez uma sopa de cogumelos. Nós nos direcionamos a mesa, sirvo o meu prato, aquela sopa com cheiro maravilhoso e começo a comer. Cada dia os dotes culinários de vovó parecem ficar cada vez melhor. Após comermos, eu pego os pratos e os levo para serem lavados. Enquanto eu os lavo, vovó sem dizer nenhuma palavra sobe para o seu quarto. Acho que ela está exausta, ela já fez bastantes coisas por hoje, ela merece descansar. Já eu me direciono a varanda com meu celular na mão, sentando em um banco, vou assistir a alguns vídeos de entretenimento e observar as pessoas passarem pela rua. Já faz algum tempo que observei essa vizinhança, quero apenas aproveitar. Enquanto assisto a alguns vídeos, os pássaros pousam sobre as árvores próximas a nossa casa, sinto a brisa refrescante daquele lugar, a comodidade a suavidade. Sinto-me em um paraíso repleto de paz. Crianças da vizinhança brincam do outro lado da rua de pique esconde, correndo de um lado para o outro. Então, uma única criança aguarda de olhos fechados contando até dez de forma paciente, enquanto seus colegas se escondem. Isso me faz perceber que desde muito nova sempre fui reservada e não gostava muito de brincar com outras crianças. Me perco no tempo. Já são cinco horas da tarde e o sol está se pondo, então resolvo entrar de para dentro e ir tomar um banho, afinal eu mereço. Entrando em casa, vou direto para o quarto, tiro o vestido no qual passei o dia inteiro e me enrolo em uma toalha, pego minha bolsa para pegar uma blusa branca e uma saia jeans, porém confortável. Vou para o banheiro e resolvo usar a banheira. Abri a torneira e peguei alguns óleos e essências, fico em dúvida sobre o que usar, porém peguei uma essência de rosas e a despejei na banheira. Entrando dentro da banheira, me sinto relaxada, a água estava morna, fazendo com que eu me sentisse confortável. Meus vasos sanguíneos se dilatavam por causa da temperatura, e o cansaço se instalava lentamente, aos poucos sentir minhas pálpebras pesarem tanto ao ponto de me fazerem piscar os olhos constantemente. Por fim, sem conseguir resistir, acabei fechando os olhos e caindo em sono profundo… De repente sinto alguém tocar meu ombro, abro os olhos assustada. Olhando para o lado vejo que é minha avó, ela está expressando preocupação, porém conversa comigo de forma suave. Yan Yan: — Kumiko se deseja dormir, não faça isso na banheira, por favor, você pode acabar se afogando. Kumiko: — Desculpe vovó. Yan Yan: — Tudo bem meu anjo, mais você realmente tem que sair daí. Já tem quase uma hora que você está nesse banheiro. Kumiko: — Tudo isso?! Yan Yan: — Sim meu anjo. Sua pele já está toda enrugada. Vamos… Saia daí e se vista, está quase na hora de abrir sua caixa surpresa. Kumiko: — Já estou saindo. Vovó sai do banheiro fechando a porta logo atrás dela enquanto me levanto da banheira totalmente sonolenta sentindo uma brisa fria por causa da porta, então saio da banheira para me vestir, após me vestir, desço as escadas e vejo vovó sentada e a caixa em cima da mesa de jantar. Com muita curiosidade, me direciono rapidamente até a mesa. Não consigo conter a emoção expressada no meu rosto. Kumiko: — Posso abrir vovó? Yan Yan: — Pode sim meu anjo, mas abra com cuidado. Kumiko: — Está bem! Abro a caixa cuidadosamente, e de dentro tiro um bolo de morango, com velinhas coloridas em cima, eu me viro e dou abraço vovó com um sorriso aberto mostrando toda a minha alegria, não consigo conter minha felicidade. Kumiko: — Obrigada vovó! Muito obrigada. Yan Yan: — De nada minha netinha. Carinhosamente vovó me afasta de seus braços para acender as velas. Então elas canta os meus parabéns, enquanto eu sigo o ritmo batendo palma. Yan Yan: — Vamos! Faça um desejo e apague as velas. Então como vovó falou eu fiz… Desejei que meus pais retornassem para casa para sermos uma família completa e feliz, e assoprei as velas. Yan Yan: — O que você desejou Kumiko? Kumiko: — Não posso dizer, ou não irá se realizar vovó. Yan Yan: — Está bem… Agora que virou adulta não quer mais contar seus segredos para essa velha. Eu entendo. Kumiko: — Vovó não é isso… É que se contarmos o que desejamos o desejo não irá se realizar. Yan Yan: — Eu sei sua bobinha, estou apenas provocando você. Ela passa seu dedo indicador no bolo pegando um pouco do glacê e o levando em direção ao meu nariz, me sujando. Yan Yan: — Vamos comer? Esse bolo está com uma cara ótima. Sorrindo, eu limpo o meu nariz e respondo: — Vamos! Comemos um pouco do bolo, e eu percebo a expressão de felicidade de vovó se transformar em angustia, antes que eu diga algo, ela fala: — Kumiko tem algo… algo sobre seus pais que você não sabe, e antes que você diga qualquer coisa apenas observe e escute com muita atenção. Vovó, sobe no andar de cima entrando no seu quarto e em seguida descendo com uma pequena caixa nas mãos. Era uma caixinha dourada com uma flor de lótus desenhada em cima. Yan Yan: — Essa foi à única coisa que restou de sua mãe e seu pai, depois deles desaparecerem. Ela me entrega a caixinha, já eu relutantemente pego e abro. Tem uma pulseira de jade dentro, tão delicada que eu não ouso tocá-la com medo de quebrá-la. Ainda assim eu esperava que tivesse uma foto dos meus pais, já que eu nunca os vi. Yan Yan: — Kumiko, apenas escute. Está bem? Você é filha de uma deusa e de um mundano. Quando você foi gerada no ventre de sua mãe, ela já sabia que viriam atrás dela, então ela me fez prometer que eu esconderia você e te protegeria até você ter capacidade de se defender sozinha. Hoje você completa 19 anos e não é mais uma criança. Ouça Kumiko, seus pais foram raptados por um grupo de assassinos, depois de sua mãe dar a luz a você, você foi abençoada durante o seu parto por um dragão, foi aí que sua mãe percebeu que deveria proteger mais do que nunca. Para que eles não te achassem eu escondi você enrolada em uma manta dentro de um pequeno baú no sótão. Eles te procuraram e não encontraram, e quando ameaçaram sua mãe, ela disse que você havia nascido morta e como qualquer filho de uma deusa que nasce sem vida se transforma em **, pois se eles te achassem te assassinariam. Então eles levaram seus pais como reféns me deixando para trás. E a única coisa que eu sei dizer sobre eles, é que são pessoas ruins. Então por favor, tenha cuidado, pois sua mãe tentou se comunicar comigo através de um sonho, dizendo para que eu avisasse você para ter cuidado. De alguma forma acho que eles descobriram sobre seu “falso falecimento”. Kumiko: — Vovó estou cansada, vamos nos deitar, assim posso pensar um pouco sobre essa história criativa, e a senhora pode deixar de imaginar coisas. Yan Yan: — Kumiko, não estou brincado! Kumiko: — O que você espera que aconteça depois de eu escutar essa história maluca?! Que eu simplesmente acredite em tudo? Ou que eu fique louca? Eu só não sei o que dizer! E nem sei como devo reagir! E nem se devo realmente acreditar! Sabe quantas vezes eu já me perguntei se eles já não haviam morrido? Você deveria ter me dito antes, para que eu pudesse pensar em uma forma de ajudá-los. Eu passei a vida inteira achando que você não sabia o que tinha acontecido com eles, e você sabia o tempo todo! Yan Yan: — Eu sei que eu errei! Mas foi sua mãe que me pediu para que guardasse segredo. Perdoe-me! Mais eu não pude fazer nada. Sinto uma dor aguda no peito, enquanto meus olhos começam a arder, para que as lágrimas caiam. É uma mistura de sentimentos. Sinto uma grande falta de ar, e quando vejo vovó se derramar em prantos acabo ficando tonta, minha vista começa a escurecer lentamente. Vovó percebe na hora que não estou bem e me senta na cadeira que está ao seu lado, indo rapidamente enquanto secava suas lágrimas na manta de seu casaco, buscar um copo de água. Eu tenho que me recompor, secando algumas lágrimas que escorreram de meus olhos, recuperando o fôlego, tomei uma rápida atitude de não preocupar minha avó, vou apenas fingir que não escutei nada disso, conheço ela o suficiente para saber que ela não esconderia isso se não fosse necessário. Então após alguns minutos vovó volta com um copo de água. Yan Yan: — Kumiko tome esta água e se acalme, por favor. Kumiko: — Vovó não se preocupe, eu estou bem, foi apenas um choque, saber de tudo assim tão de repente. Yan Yan: — Me desculpe… Eu não… Perdoe-me Kumiko. Kumiko: — Vovó está tudo bem eu juro, eu entendo que você fez isso para me proteger. E eu prometo tomar cuidado, pela senhora, não vou me meter em problemas e ser cautelosa. Jamais descobrirão quem eu sou, eu prometo. Vovó suspira aliviada, e eu tomo um longo gole de água do meu copo. Vovó parece cansada fisicamente e mentalmente, então eu a levo para se deitar, subindo degraus, um por um eu penso sobre o que ela falou. Não… não posso demonstrar preocupação à vovó, para não a deixar ainda mais abalada. Entro no quarto de vovó e a deito na cama, sentada em seu lado observo ela, quase instantaneamente dormir. Após ela dormir eu desço os degraus para guardar o que sobrou do bolo. Ficando eufórica eu vou à geladeira e tomo um pouco de água, para me acalmar. Olho minhas mãos e elas estão trêmulas. Preciso me deitar, e tentar dormir, todo o meu corpo dói. Uma noite que era para ser tranquila se transforma em uma noite um pouco perturbadora e sem sentido nenhum. Subo para meu quarto, e me deito em minha cama, rolando de um lado para o outro, essa história martela minha cabeça, parece até uma história que saiu dos dramas para a vida real. Olho meu celular e já são três horas da madrugada, e mesmo me sentindo exausta eu não consigo dormir. Então eu decido ir dar uma caminhada, nada melhor que isso para aliviar o estresse. Sem pensar duas vezes, coloco uma calça moletom e um casaco, e desço as escadas sem fazer barulho, para não acordar vovó. Então saio de casa, apenas encostando a porta, para caso de alguém me seguir e eu precisar entrar rapidamente. Pego a rua em frente a minha casa e a sigo, não como se eu andasse nela, mais como se ela me levasse, lentamente, vagarosamente. A brisa fria me deixa com arrepios, é uma noite estrelada, a lua está cheia e mesmo de madrugada está claro. De longe avisto um banco e vou em direção para me sentar nele. Chego perto do banco, ele fica embaixo de uma árvore em frente a um lago, então eu me sento observando o reflexo da lua sobre o lago. A brisa muda e meus sentimentos de calma se vão com ela, meus olhos começam a arder, e as lágrimas começam a escorrer e um turbilhão de sentimentos acumulados despencam sobre mim. Estou chorando como uma criança, soluçando, sem saber qual rumo tomar, sem saber o que fazer e o que pensar, eu apenas só sei chorar. Após chorar muito minha vista ficou um pouco embaçada, com minhas lágrimas quentes. Estou olhando para o chão enquanto as lágrimas escorrem. De repente vejo uma sombra se aproximando de mim. O que será que essa pessoa está fazendo aqui há essa hora? E porque está se aproximando de mim?
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