enício Mendelerr
Uma sexta-feira para mudar todo o rumo da minha vida, viúvo há seis anos e mergulhado integralmente nos assuntos de Culla del Crimine. Até essa mulher aparecer e encher nossas mentes com dúvidas e receios, eu não podia permitir que ela saísse daqui levando nossos segredos e tudo o que lutamos para esconder do mundo.
Seu olhar é um enigma, hora acredito em sua fala e outras vezes sinto que sua beleza e doçura são uma armadilha mesmo para um coração sombrio. Desperto após o primeiro dia de casados, Tony saiu daqui, deixando-me ainda mais irritado com suas insinuações sobre a inexistente vida íntima desse matrimônio. Passo na frente do quarto dele, tenho a chave e posso entrar e sair quando quiser...
Ela ainda está acuada, mas se tentar fugir novamente, não terei a mesma misericórdia de antes. Elisa está furiosa. Não preciso que ela diga nada; o jeito como entra no escritório, batendo os saltos no chão e cruzando os braços, já diz tudo.
Mas, quando Paulah chegou, eu sabia que seria assim. Elisa nunca aceitou dividir nada, muito menos a atenção que acha que é só dela.
Paulah já está na sala de estar e certamente pediu ajuda à empregada, sentada no sofá, tentando parecer menor do que é. Ela evita me olhar diretamente, mas eu percebo o medo nos olhos dela. Não posso culpá-la. Foi arrancada da vida que conhecia e jogada no meu mundo, um lugar que não tem espaço para suavidade ou consolo.
— Bom dia! — digo a ela, que responde quase inaudível.
— Elisa o espera no escritório. — diz a empregada.
Ao mesmo tempo, a presença dela me inquieta. Paulah me faz lembrar de coisas que eu não quero lembrar. Família. Lar. Palavras que há muito tempo deixaram de ter significado para mim. E agora, só o fato de ela estar aqui traz de volta fantasmas que eu preferia deixar enterrados.
— Então é isso? — Elisa dispara, sua voz cortando o silêncio como uma lâmina. Ela me encara, os olhos cheios de ódio. — Você trouxe ela para cá, se casou e já nem me olha na cara como antes!
Respiro fundo. Já esperava por isso.
— Elisa, não começa! Ainda não esqueci o que aprontou antes, você sabe que eu não perdoo quem me faz perder dinheiro.
— Não começa? — Ela dá um passo à frente, a voz carregada de ironia. — Você acha que eu vou ficar calada enquanto essa mulher entra na sua casa e ocupa um espaço que deveria ser meu? Tantos anos pedindo para você me assumir...
— Nunca te prometi nada. Sou e sempre serei livre!
— Livre?
Eu encaro Elisa, tentando manter a calma. Sempre soube que ela era possessiva, mas agora está indo longe demais.
— Paulah está aqui porque eu não tinha escolha. Se não fosse por mim, ela estaria morta.
— E o que eu tenho a ver com isso? f**a-se ela! Tony e Eloi queriam se casar com ela e disputaram nas cartas, bastava jogar o problema nas mãos deles! — Elisa retruca, a voz cheia de amargura. — Desde quando você se importa em salvar alguém?
Ela está tentando me provocar, mas não vou morder a isca. Olho para ela, mas não digo nada ainda... A espero sair do controle.
— Deixa ela ir embora daqui. Essa i****a está com medo, ela não dirá nada!
— Ninguém sai daqui, você conhece as regras Elisa. Pare de cobrar, nunca fomos um casal e quero que me deixe em paz! Não volte a essa casa, exceto se eu mandar buscá-la, já não confio em você sequer para uma missão simples!
— Você se apaixonou por ela? — perguntou incrédula.
— Claro que não!
Me viro de costas, Elisa continua a perder o amor-próprio e me fazer odiar ainda mais essa conversa.
— Pode me chutar da sua vida como tem feito há tanto tempo, isso eu posso superar... Mas te ver encantado com essa desgraçada...
— Saia da minha casa! — exigi com firmeza.
— Ela nunca te dará prazer como eu, porque não te quer... Sabe onde me encontrar...
Encosto na mesa, tentando acalmar o ódio dentro de mim. As palavras dela ficam voltando na minha cabeça, mesmo que eu queira ignorá-las. "Ela não te quer."
Claro que não quer. E por que eu deveria querer algo com ela? Paulah é só um peso que aceitei carregar e um problema que salvei de algo pior.
Mas, ao mesmo tempo, não consigo ignorar a sensação que ela provoca em mim. O jeito como ela evita me olhar diretamente, como se estivesse sempre pronta para fugir. É misterioso, desconcertante. Assustado, mas... meigo.
Isso me irrita ainda mais.
Eu não a quero. Não posso querer. Essa situação já é complicada o suficiente sem eu deixar que esses pensamentos me desviem... Sou o líder desse lugar e estou me sentindo um fraco por quase tê-la deixado fugir no dia do casamento.
Mas é como se a presença dela puxasse algo em mim que eu não sabia que ainda existia. Um desejo de proteger, de entender o que está por trás daquele olhar.
Balanço a cabeça, negando sozinho nessa sala, tentando afastar esses pensamentos. Não posso me dar ao luxo de ser humano. Não agora. Não com Elisa ficará observando cada movimento meu, esperando que eu cometa o erro...
— Me apaixonar por essa mulher!