Vicky: Amiga, eu estou louca?

1093 Words
Me aproximo do computador, ligo-o e me sento na cadeira. Quando o sistema inicializa, o jogo ainda está aberto, e YaoWei está sentado no chão. — Ai, meu Deus! Isso não foi uma alucinação? — digo, assustada, quase caindo na real de que aquilo está realmente acontecendo. — Claro que não. Estou tão desacreditado quanto você. Eu estava vivendo uma ótima vida até você começar a aparecer em todos os reflexos que vejo. — diz YaoWei, calmo e sereno. — Ok! O que vamos fazer? Como isso é possível? Vou apagar esse jogo do meu computador. Adeus! — Espera, como assim apagar? Jogo? Olha, garota, eu quero minha vida de volta. Você me tirou de lá. Agora, me ajude a voltar para minha vila com minha família. — O tom de voz de YaoWei se torna um pouco mais sério enquanto ele se aproxima da tela e me encara. — Você é só um personagem de um jogo. Se eu apagar, tenho certeza de que você voltará a ter sua vida de volta. Eu ia contar ao chat, mas acho que seria perigoso... — Não, você se desconectou do meu reflexo por um tempo e algo me impediu de sair daqui enquanto você não voltou. Por isso me viu sentado. — diz YaoWei, com fúria. — Isso é surreal. Só pode ser um pesadelo! — grito, mas logo me lembro de que meus pais estão no quarto ao lado e tento me recompor. Por sorte, parece que eles não ouviram. — Pesadelo é o que eu estou vivendo. Minha mãe e minhas irmãs precisam de mim. — Eu preciso pensar. Tchau, YaoWei. Antes que ele possa me responder, desligo o computador e deito na cama. Fico um bom tempo deitada, pensando sobre a situação enquanto olho para o teto. Permaneço assim durante a tarde inteira. Quando anoitece, me levanto e fico encarando o computador por longos minutos, em dúvida se o que aconteceu foi um pesadelo ou realidade. Antes de ligar o computador, decido pegar meu celular e ligo para minha amiga, que atende imediatamente. — Oi, amiga, eu preciso te contar algo louco que aconteceu comigo. Você pode vir aqui em casa? — falo, eufórica e ansiosa. — Calma, fala devagar e com cuidado. — Eu preciso te mostrar uma coisa. Vem aqui em casa. — digo com mais calma, tentando me recompor. Minha amiga concorda e diz que vai vir o mais rápido possível. Então, desço para tomar café da manhã, tentando não pensar no jogo, mas é inevitável; aquele acontecimento fixou-se em minha mente. Meio pensativa, tomo meu café e vou ao banheiro fazer minha higiene. Antes de terminar as tarefas do dia a dia, ouço a campainha e vou correndo atender. Abro a porta e vejo minha amiga, que sorri de orelha a orelha. — Oi! Que saudades. — ela diz, empolgada, pronta para me abraçar. — Finalmente. A puxo pelo braço sem mais nem menos, levo-a para o meu quarto e tranco a porta. — Ontem aconteceu algo sinistro comigo. É sério, você não vai acreditar! — sussurro para ela. — Como assim, amiga? — Lembra que eu gravei uma live do novo jogo de sucesso ontem? Então, o meu personagem ganhou vida logo após eu encerrar a live. — continuo sussurrando, mas com um tom mais sério. — Que? Como assim? Você está bem? Bateu com a cabeça? — Ela diz incrédula e solta uma risada sarcástica. — Rita, estou falando sério! Está me vendo rir? — respondo com fúria. — Calma, me explica direito. Como assim ganhou vida? Isso é possível? Não respondo imediatamente. Apenas levanto, sento-me na cadeira do computador e ligo-o. Quando o jogo inicia, ele está aberto e YaoWei ainda está lá, desta vez dormindo no chão, perto do rio, com sua mochila usada como travesseiro. — Olha, eu ligo o jogo e ele já está aberto, e ele está dormindo por conta própria. Após eu dizer isso, minha amiga olha para o computador, desacreditada. Ela se aproxima, pega meu fone e grita no microfone: — Ei! Acorda, hora de levantar! YaoWei acorda assustado, levanta-se e nos encara. Ele suspira e fecha a cara, parecendo não ter gostado muito do jeito que foi acordado. Rita também se assusta; ela não esperava que ele realmente acordasse com seu grito. — Quem é você? E por que está gritando essa hora da manhã? — grita YaoWei. Rita continua surpresa, travada, encarando o computador. Parece tão desacreditada quanto eu na noite passada. — Amiga, você está bem? — sussurro no ouvido de Rita. — Eu... eu não consigo acreditar. — Ela diz, virando-se para mim com uma expressão de surpresa. — Eu sei, eu fiquei exatamente assim. O que eu faço? — Sinceramente, eu não sei. Isso é inacreditável, mas talvez tenha um propósito. — Ele me pediu para ajudá-lo a encontrar sua família novamente. Será que é isso? — pergunto curiosa. — Não sei, realmente não sei, mas talvez seja isso. Ajude-o; quem sabe ele possa te ajudar de alguma forma também. Após ouvir isso, concordo com a cabeça. Rita sai do meu quarto, se despede e vai embora. Fico sem coragem para iniciar a live. Para algumas pessoas, ter um personagem ganhando vida própria deve ser incrível, mas para mim é bizarro. Me dá medo saber que há um universo paralelo em meu computador. Olho para o computador e vejo YaoWei sentado, comendo cogumelos ao seu redor. Fico o observando, tentando superar o medo que me aflige. Percebo que ele não parece ser alguém r**m e que ajudá-lo talvez seja necessário e bom. Aproximo-me da cadeira do computador e coloco meus fones de ouvido. — Eu vou fazer uma live. Não aja como se tivesse vida própria, ok? Eu vou te ajudar. YaoWei concorda com a cabeça e volta à posição que estava antes de seu mundo se conectar ao meu, levemente curvado e de costas para a tela. Nesse momento, começo minha live e sigo minha rotina diária, embora com um pouco de ansiedade e medo de que ele possa revelar a todos que tem vida própria. Enquanto falo com o chat e jogo, reparo que em um momento ele mexeu o dedo mindinho e espero que ninguém tenha reparado. Por sorte, ninguém comentou sobre esse deslize; aparentemente, ninguém percebeu. Pude encerrar minha live tranquila e também planejar um esquema com YaoWei, onde ele apenas age como um personagem 3D normal durante as lives, mas depois pode agir como quiser, sem sair do último local em que terminei uma nova missão ao vivo.
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