Uma camisa social branca de manga curta, saia preta e justa até acima dos joelhos, com um salto preto tamanho dez.
Cabelo preso em um coque frouxo que me deixava parecendo ser uma mulher séria.
O meu carro me aguardava na garagem, com o dinheiro que iria ganhar poderia abastecê-lo já que começaria a usá-lo mais.
A empresa ficava cerca de trinta minutos da minha casa. Havia muitos funcionários andando de um lado para o outro.
Uma senhora com o cabelo grisalho e óculos de lente, provavelmente ela precisava de muitos graus, era fundo.
— Pois não? — Perguntou assim que me viu entrar no local.
— Sou a nova secretária do senhor Alan Pereira. — Respondi.
— Ultimo andar. — Apontou para o elevador.
Como iria saber qual a sua sala? Ou será que o andar todo era apenas dele?
Aquele prédio tinha pelo menos oito andares, o meu breve medo de que tudo despencasse ficou na minha cabeça por um bom tempo.
Pense positivo.
— Primeiro dia de trabalho? — Não havia notado que mais alguém estava naquele elevador, era um homem.
— Sim. — Concordei.
Era um homem alto e jovem. Talvez tivesse a mesma idade que Alan. O seu cabelo era loiro, como se ele fosse um daqueles surfistas.
— Sou Breno Stuart. — Estendeu a não para que eu apertasse.
— Selena Moura. — Apresentei-me.
O andar dele era dois abaixo do meu, deixando claro que eu seria bem-vinda caso precisasse aparecer naquele setor.
Quando cheguei no último andar, que era enorme por sinal. Havia uma sala que provavelmente onde as pessoas esperavam por Alan. Logo a frente uma escrivaninha grande com um computador, impressora, telefone, calculadora e muitos papais em cima, imaginei que fosse o local onde eu ficaria.
A porta da grande sala estava fechada, era enorme. Não sabia se deveria ou não bater, mas assim fiz, mesmo sabendo que poderia estar interrompendo algo.
— Senhor Alan? — Esperei ouvir sua voz como resposta para que eu pudesse entrar.
— Entre! — Ordenou.
Ele estava sentado em uma cadeira que parecia ser muito confortável, provavelmente era feita de couro. O telefone estava em baixo da orelha, enquanto os olhos estavam focados em alguns papéis.
Ele apontou para que eu me sentasse em sua frente.
— Obrigado, até mais tarde. — Desligou o telefone e firmou o seu olhar em mim.
— Senhorita Selena, vejo que chegou no horário certo. — Certificou-se olhando em seu relógio de pulso.
— O senhor pode me passar as primeiras informações para que eu possa começar a trabalhar? — Pedi.
— A única coisa que preciso é que fique com a minha agenda, ela está disponível em seu computador e atenda todas as ligações, anotando cada uma. — Explicou.
— Caso alguém queira falar com o senhor? — Perguntei em dúvida, já que muitos preferem não atender ao telefone.
— Entre em uma chamada comigo, pelo computador, e se for importante eu atenderei. — Apontou para a porta, provavelmente me mandando sair:
Agi como o desejado, o meu primeiro dia de trabalho havia sido normal. Apesar de ter sido obrigada a atender e anotar a chamada da Giovanna. Alan não quis atendê-la alegando que estava cheio de coisas para fazer.
Uma janela piscou na tela do computador, estava escrito ALAN.
"O rosto está melhor?"
Alan
"Sim! Nada que um gelo não tenha resolvido."
Selena
"Espero que Giovanna não repita o ocorrido."
Alan
"Espero não vê-la mais."
Selena
Faltava apenas dez minutos para que o meu expediente acabasse. A não ser que o meu chefe não tivesse saído da sua sala, disposto a enfrentar uma reunião de duas horas, onde eu seria obrigada a frequentar.
— Você só precisará anotar o que for pedido e alguns lembretes, certo? — Explicou.
— Sim.
A sala de reunião que ficava um andar abaixo estava cheia. Muitos homens engravatados, alguns senhores e outros novos assim como Alan.
— Vamos começar, o que querem discutir? — O tom profissional e o olhar de Alan fazia com que qualquer pessoa, até mesmo um homem prestasse atenção no que seria dito.
— É sobre os apartamentos do novo prédio que estamos fazendo. — Um homem começou. — Não acho que o designer esteja bom.
— E como você acha que deveria ficar? — Alan estava sério, neste momento imagens de um possível apartamento estava na tela de uma televisão enorme.
O apartamento tinha uma cozinha, onde ao seu lado havia uma pequena lavanderia — onde caberia apenas um sexto de roupas e uma máquina — um balcão separava a cozinha da sala, onde do lado haveria espaço suficiente para uma mesa de quatro ou quem sabe seis lugares.
Por mais que fosse pequeno, haviam dois banheiros, um no corredor que ficava de frente para um dos quartos e o outro do lado direito. Por ultimo o quarto com suite, no mínimo, sendo dos donos da casa.
Havia algo distribuído de maneira incorreta naquele desenho.
— Não sei ao certo quais alterações podem ser feitas. — O senhor falou.
— Enquanto ninguém tiver uma ideia, esse trabalho não pode ser iniciado, vocês precisam ser mais rápidos. — Alan avisou.
Alan era o engenheiro civil, ou seja, responsável pelos desenhos. Porém, cada um dentro daquela empresa tinha uma função.
Uma delas era observar os problemas.
— Senhor Alan? — Chamei sua atenção, fazendo com que todos olhassem em minha direção.
Seu olhar encontrou o meu, ainda estava sério, mas havia curiosidade em seu olhar.
— Sim?
— Talvez vocês pudessem diminuir um dos quartos que provavelmente seria utilizado para quarto de hóspede — porque normalmente uma família grande não compra um apartamento pequeno — e aumentar o tamanho do banheiro da suíte. — Dei a minha opinião, mesmo sabendo que talvez isso iria atrapalhar com o meu cargo.
Todos ficaram chocados com o que havia terminado de falar.
— Isso ficará ótimo. — O homem jovem que transmitia as imagens começou a fazer algumas modificações, mudando o que eu havia sugerido.
— O que vocês acharam? — Alan perguntou olhando em meus olhos.
— Realmente ficou melhor dessa maneira. — Um senhor concordou.
Foram muitos os que concordaram comigo. Alan não deixou um minou sequer sem me encarar.
Estava esperando por uma bronca.
— Muito bem Selena, minha sala agora. — Não sabia dizer se ele estava bravo comigo, a única coisa que sabia era que eu já poderia estar em casa a duas horas atrás e que agora ficaria mais alguns minutos na sala do meu chefe.
— Fiz algo de errado? — Perguntei assim que entrei em sua sala, com ele logo atrás.
— Muito pelo contrário, devo lhe dar parabéns. — Foi a primeira vez que vi pequenas covinhas aparecerem em sua bochecha, juntas de um pequeno sorriso que ele estava querendo esboçar.
Fiquei em dúvida do que ele havia me falado.
— Obrigada. — Agradeci.
— Acho que depois dessa reunião exaustiva e de ter me ajudado com a questão do apartamento, nada mais justo lhe pagar uma bebida, o que você acha? — Ele estava me convidando para sair? Não poderia perder essa oportunidade.
— Aceitaria um bom vinho e um jantar, porque está tarde e com certeza não irei cozinhar agora. — Sugeri.
— Ótima opção. — Concordou. — Sei de um restaurante excelente.
— Você quer uma carona? — Ofereci.
— Na verdade estou com o meu carro, você me segue? — Perguntou.
Apenas assenti.
Por incrível que pareça nós fomos no mesmo restaurante em que me encontrei seu pai para iniciarmos o trabalho.
Gostei da sensação de estar em um restaurante com ele, isso tornava a situação mais como um encontro do que um fim de expediente com um "colega de trabalho".