Tereza

1512 Words
Tereza era uma mulher bem simples, a vida não havia sido uma das mais generosas com ela então trabalhou desde cedo ajudando sua família. Os pais eram camponeses e mesmo assim Tereza quis se aventurar pela cidade grande. Era uma menina muito jovem procurando emprego e facilmente poderia ser seduzida, e foi isso que aconteceu. Tereza encontrou um garoto um pouco mais velho, trabalhador também e dono de muitos sonhos que para alguns era quase impossível, mas para ele seria uma grande aventura. Tereza dormia em uma pensão e em troca de moradia e comida ela ajudava a velha senhora e proprietária com os afazeres e limpeza. No fim do dia Tereza sempre dedicava um tempo aos estudos e assim conseguiu concluir a escola mais cedo. Algumas vezes, mesmo com os avisos de sua anfitriã ela saia escondida para se encontrar com o garoto que roubara seu coração. Quando Tereza completou seus 16 anos ela e Thiago resolveram tentar algo a mais que apenas alguns beijos roubados e carícias no telhado da pensão, decidiram então que tentariam uma vida juntos. Tereza conseguiu um emprego um pouco melhor e Thiago também. Foram morar em um pequeno apartamento de baixa renda e Tereza decidiu fazer cursos para sempre tentar algo melhor para os dois. Já Thiago não, o egoísmo sempre lhe falou mais alto e muitas vezes ele desviava dinheiro da renda para tentar conseguir as coisas de maneira mais fácil. Isso desencadeou muitas brigas entre o jovem casal, mas de alguma maneira Tereza sempre saia como errada. A briga se iniciava com algum erro e******o de Thiago e terminava com Tereza aos prantos pedindo desculpa. Talvez essa fosse a provação que deveriam passar até alcançarem uma boa estabilidade, talvez todo casal iria passar ou já tivessem passado por isso. Mas conforme o tempo passava Tereza descobriu que ela não estava errada, mas sim que Thiago tentava de todas as formas fazê-la se sentir culpada por algo inexistente ou de autoria dele mesmo. A menina do campo foi ficando esperta o suficiente para descobrir as traições e manipulação do homem que dividia com ela a cama e a vida. Decidida a dar um basta na situação Tereza conseguiu um emprego melhor, cursou um curso profissionalizante e ingressou em uma clínica de odontologia descobrindo ali sua maior paixão. Mas as coisas não seriam tão fáceis quanto parecia, Thiago era manipulador e insistente mas jamais demonstrou agressividade física, até o momento em que Tereza cruzara a porta. Perseguições e agressões pela rua já tinham se tornado algo comum para ela, nem mesmo os registros policiais a poupavam de aparecer hora ou outra com o braço ou olho roxo da raiva que ele emanava por ela. O único lugar em que se sentia realmente bem era enquanto trabalhava. Ao longo dos meses fez amizade com sua colega Laura. A mulher era forte e sempre a aconselhava da melhor maneira. Não a julgou quando ela disse que havia entregado seu amor e corpo ao homem que hoje tornara sua vida um verdadeiro inferno e nem virou a cara quando ela disse sua origem humilde. Laura era quase que um exemplo para Tereza, exemplo de mulher e de amiga. Tereza achou meio estranho o sumiço repentino de Laura, mas um tempo depois ela apareceu bem e casada. Laura nunca disse que tinha algum relacionamento ou qualquer coisa que envolvesse ela ou a família, mas para Tereza ela era somente uma mulher mais reservada, e tudo bem, nem todos tinham a língua tão solta quanto a dela. Os dias de trabalho às vezes se tornavam exaustivos. Chegar em casa e ainda ter que cuidar dos afazeres domésticos também não eram coisas fáceis, mas mesmo assim ela buscava forças. Precisava todos os meses enviar dinheiro aos seus pais, a lavoura já não dava tanto lucro e a época não era propícia para plantação. Isso era mais uma preocupação para Tereza, não que seus pais fossem um fardo mas ela os amava acima de tudo e todos. Por mais idosos que fossem, ela sempre dava um jeito de manter a comunicação com eles. Depois de um pequeno lanche ela se deixou levar pelo sono e cansaço. No sábado não trabalharia então teria a chance de dormir até mais tarde. Acordou quando passava das 11hrs, se esticou preguiçosamente pela pequena cama de solteiro que ocupava boa parte de seu quarto, ou melhor, de sua casa. Era um espaço extremamente pequeno, ocupado apenas pela cama de solteiro, um guarda roupas pequeno também, um fogão e uma geladeira, uma pequena porta levava ao banheiro que também era minúsculo. Ela nunca se importou em ter qualquer tipo de luxo e para ela qualquer coisa estava bom. Não ganhava m*l, muito pelo contrário, Laura sempre dava um jeito de lhe pagar a mais por saber da sua situação. Ela não era dona do consultório, mas sua lábia e autoconfiança era algo de outro mundo. Boa parte da renda de Tereza ia para uma poupança e outra para os pais. Eles sempre achavam um jeito de querer recusar mas o amor e a preocupação dela sempre os comovia, era uma menina de ouro, o anjo que lhes devolveu a vida. Era essa a descrição que eles davam dela quando lhes perguntavam se tinham filhos. Tereza era única e foi amada incondicionalmente enquanto esteve debaixo das asas de Eva e Antenor. Tereza tomou um banho demorado, lavou os cabelos com o restante de shampoo e condicionador mais barato que havia no mercado, mesmo assim eles ainda tinham um certo brilho. Quando abriu o armário para fazer café percebeu que precisava ir ao mercado, detestava gastar mas naquele ponto em que estava precisava de suprimentos. Colocou um conjunto de calça jeans e uma camiseta preta, o dia estava com uma leve brisa então colocou um casaco velho. Antes de descer pelas escadas olhou várias vezes, nem sinal do crápula. Fazia algum tempo que ele não aparecia e isso já estava lhe deixando assustada. Por mais que ela o odiasse, não lhe desejava o m*l, somente que ele se arrependesse por todos os atos de violência que havia cometido contra ela. Desceu as escadas com o celular velho e cartão na mão. Caminhou pelas ruas de Roma e observou a paisagem, poucas coisas a lembravam do campo, a cidade era barulhenta e suja, até o cheiro das vacas a agradava mais que o cheiro das vielas da cidade. Colocou no carrinho somente o necessário, como passava boa parte da semana longe de casa não comprou muitos mantimentos, o consultório pagava lanche para todas as funcionárias, era menos um gasto para Tereza. Passou no corredor de higiene e se deu ao luxo de comprar um kit de shampoo e condicionador um pouco mais caro, afinal ela também merecia. Percebeu que alguém a observava, logo o homem se aproximou. _ Bom dia mocinha. Era um homem velho, tinha idade para ser seu pai. Tereza não sabia suas intenções então decidiu ser cortês. _ Bom dia senhor, posso ajudar em algo? Perguntou curiosa. O homem a olhava dos pés a cabeça, a analisando. _ Bem, eu trabalho agenciando garotas novinhas como você, pago muito bem. Caso tenha interesse pode entrar em contato com esse número. Ele estendeu um cartão para Tereza. Ela se deu conta do que ele falava quando observou o cartão. Era uma casa noturna, conhecida pela cidade como uma das mais baratas com vários tipos de prostitutas. _ Não tenho interesse! Disse ela enquanto jogava o cartão no velho. Partiu dali com a cabeça aérea, com raiva e um pouco envergonhada. Será que ela tinha cara de mulher da vida ? Fez o caminho todo rapidamente. As sacolas pesavam e marcavam seus pulsos pálidos deixando suas mãos um tanto quanto dormentes. Quando passava por uma rua antes de seu apartamento sentiu seu cabelo ser puxado bruscamente a levando de encontro ao chão. Ela nem precisava virar o rosto para saber quem era o autor daquele ato tão repulsivo. _ v***a! _ O que você quer ? Tenho uma medida protetiva contra você ! _ Não importa, vou continuar perturbando você até perceber que não pode, que não tem o direito de viver longe de mim, sua p**a! Ele lhe deu as costas e partiu. Tereza recolheu as poucas sacolas do chão e seu restinho de dignidade. Sentiu o braço arder. As pessoas que passavam na rua permaneciam quietas e fingiram que nada aconteceu, que não viram nada. Ela não entendia como poderiam ser assim, se ela visse alguma mulher em apuros certamente interviria a seu favor. Quando entrou em casa não derramou nenhuma lágrima, já havia chorado de mais por uma pessoa que não merecia. Retirou os mantimentos e os guardou. Preparou comida suficiente para o dia e para o dia seguinte também, detestava cozinhar. Quando retirou a roupa percebeu que seu casaco surrado já não seria mais útil para o frio, o buraco que havia ficado nos cotovelos quando ela foi atirada contra o chão era enorme, o tecido havia cedido. Com isso a quantidade de roupas dela apenas diminuía.
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