Mansão Beaumont-NY
Elizabeth Beaumont - 16/06/2022 - A tarde
O antigo escritório de Arthur Beaumont cheirava a madeira antiga, papéis esquecidos sobre a mesa. Elizabeth, meticulosa como sempre, revisava caixas e arquivos esquecidos desde a fuga de seu marido. Cada documento trazia lembranças de um passado poderoso que, agora, parecia tão distante.
Entre cartas de credores e acordos comerciais, um envelope amarelado chamou sua atenção, estava jogado sobre a última gaveta, com várias coisas por cima, como se fosse algo sem valor algum. Com dedos elegantes, ela abriu o conteúdo e encontrou um contrato antigo, assinado com a precisão e frieza, nos nomes de Charles McGoldrick e Victor Beaumont.
Aliança de negócios.
Era um acordo com a família McGoldrick , uma das famílias mais tradicionais e influentes do mundo empresarial, a McGoldrick Corporation. Seu prestígio e fortuna eram indiscutíveis. A última cláusula do contrato, escrita com tinta escura e firme, destacava-se: “A intenção é garantir o império que as famílias Beaumont e McGoldrick construíram, mediante casamento quando necessário"
Elizabeth deixou o envelope escapar por um instante entre os dedos, seu olhar percorrendo a sala como se tentasse sentir a presença seu avô Victor ali. Então, um pensamento afiado e rápido passou por sua mente: essa poderia ser a chance de reerguer a família Beaumont, de restaurar a influência e segurança que tinham perdido.
— É agora ou nunca — murmurou para si mesma, o tom de voz firme, carregado de determinação. — Se existirem oportunidades, é preciso agarrá-las antes que o mundo perceba que estamos… vulneráveis.
Sem perder tempo, Elizabeth deixou o escritório e desceu até o a sala de estar, onde Theodore estava parado olhando para o nada, com um copo de whisky na mão.
— Theodore — disse ela, colocando as pastas sobre a mesa com um leve estalo — encontrei algumas coisas que seu pai guardou sobre a empresa. Documentos, contratos, acordos… coisas que talvez possam nos ajudar a entender melhor a situação e, quem sabe, reverter parte do que ele fez.
Theodore franziu o cenho, hesitando antes de encará-la.
— Mãe… eu não quero mais lidar com nada que tenha o nome dele. — Ele gesticulou para as pastas. — Não quero assinar nenhum contrato, não quero continuar nenhum acordo. Isso… tudo isso me lembra exatamente do que deu errado.
Ela bufou, cruzando os braços, e seu olhar endureceu.
— Theodore, não seja criança — disse ela, sem rodeios. — Isso não é sobre ele! É sobre você, sobre salvar o que é nosso! Você acha que ficar parado vai consertar alguma coisa?
Ele se encostou na cadeira, irritado, e pegou os documentos que sua mãe deixou sobre a mesa.
— Não é assim tão simples, mãe… — murmurou, tentando manter a calma. — Cada passo que eu der, cada contrato que eu assinar… eles vão me esmagar.
Ela suspirou profundamente e se aproximou, inclinando-se sobre a mesa para falar diretamente com ele, a determinação estampada em cada linha do rosto.
— Escute, Theodore… se você continuar se escondendo atrás da raiva, da frustração, você vai perder tudo de vez. Esses contratos, essas pastas… são a chance de você virar o jogo. Não a desperdice por orgulho ou medo. E, por favor, olhe o envelope que está na pasta preta.
Theodore olhou para os papéis, sentindo o peso da decisão sobre seus ombros. A raiva do dia anterior ainda queimava, mas as palavras da mãe deixaram uma fagulha de clareza em sua mente. Ele sabia que ela estava certa — o jogo ainda não estava perdido, mas seria preciso coragem e inteligência para enfrentá-lo.
— Tá… — disse finalmente, quase sem acreditar em si mesmo. — Vou olhar os documentos. Mas isso não significa que estou pronto para assinar nada.
Ela sorriu, meio aliviada, meio irritada com o jeito teimoso do filho.
— Bom… pelo menos é um começo — disse, balançando a cabeça, mas deixando escapar um pequeno riso. — Agora, analise tudo com cuidado. Não podemos nos dar ao luxo de errar novamente.
Theodore suspirou, pegando a primeira pasta, ciente de que aquele seria o primeiro passo de uma batalha que exigiria muito mais do que apenas força — exigiria inteligência, estratégia e, acima de tudo, controle sobre si mesmo.
Ele olhou, revisou atentamente, até que chegou na pasta preta que sua mãe disse. Abriu e viu o envelope amarelado, o que viu fez seus olhos se estreitarem.
— Mas, que merda é essa?— Murmurou baixo lendo o contrato.