Mansão Beaumont- New York
15/06/2022- A noite
Theodore estava reclinado em uma poltrona de veludo verde-escuro, o queixo apoiado na mão, os olhos verdes fixos na enorme cristaleira no meio do sala, mas sem realmente vê-la. A arrogância que sempre o caracterizava permanecia, mas agora parecia apenas uma máscara sobre a dor que ele se recusava a admitir.
— Está me ouvindo, Theodore — a voz de Elizabeth Beaumont soou atrás dele, calma, mas tensa.
Theodore não respondeu de imediato. Um suspiro longo escapou de seus lábios antes que ele virasse o olhar, cheio de desprezo contido, para a mulher que ainda tentava manter a casa intacta.
— Ouvi sim — murmurou, quase sem força. — Mas não tenho nada a dizer. Tudo foi destruído… e ainda assim você age como se nada tivesse acontecido.
Elizabeth franziu o cenho. — Theodore… não podemos mudar o que seu pai fez. Só podemos… sobreviver.
— Sobreviver? — Theodore repetiu, a voz cortante. — Sobreviver não é suficiente. Não para nós. E enquanto papai… — ele engoliu em seco, a garganta apertada — …enquanto ele está lá, sabe onde, gastando o dinheiro que eu ajudei a conseguir… eu… — Ele desviou o olhar, incapaz de terminar a frase. Um silêncio pesado caiu sobre a sala.
Ele se levantou de repente, a elegância natural de um Beaumont ainda presente, mas com um toque de frustração que quase o fazia parecer humano. Caminhou até a janela, olhando para os jardins que agora pareciam tão vazios quanto sua alma.
— Todos me olham como se eu fosse… um coitado, sobrevivente, mas ninguém vê que estou quebrado. Que eu… — ele fechou os olhos, tentando controlar a voz que tremia — …que eu odeio cada lembrança do meu próprio pai.
Elizabeth se aproximou devagar, mas Theodore levantou a mão em sinal de recusa. Sua arrogância, mesmo ferida, ainda era uma armadura que ele não estava pronto para baixar.
— Fique aí, mãe. Só fique aí e veja. Porque eu vou me reconstruir… do meu jeito, e vou reconstruir o império Beaumont.
O silêncio voltou a tomar conta da mansão. Mas dentro de Theodore, havia algo mais sombrio: raiva, dor… e uma determinação fria que ninguém ousaria desafiar.