Beaumont& McGoldrick Grup- NY
25/11/2022 18:30
Theodore passou o resto da tarde tentando se concentrar em relatórios e reuniões, mas a imagem de Sophie ajustando a gravata dele com aquele olhar firme e o toque breve demais simplesmente não saía da cabeça.
Ele já tinha se acostumado à maneira autoritária dela, às farpas e ao controle constante, mas naquela sala... algo tinha mudado.
Por um instante, ela parecia mais próxima. Humana. Quase vulnerável.
Quando percebeu, já tinha perdido completamente o foco.
O relógio marcava mais de seis da tarde, e ele ainda não havia assinado metade dos documentos.
Levantou-se da mesa, impaciente.
— Genevieve? — chamou, mas foi Felicity, a secretária de Sophie, quem apareceu à porta.
— Senhor Beaumont? A Genevieve saiu há pouco. Posso ajudar em algo?
Theodore hesitou, passando a mão pelo cabelo.
— Você viu a senhorita McGoldrick hoje?
Felicity sorriu, como quem sabe mais do que deveria.
— Ela saiu há uns quarenta minutos, senhor. Foi fazer a prova do vestido de noiva.
Ele franziu o cenho.
— Hoje ?
— Sim, na Maison Élise, na avenida principal. — disse ela, animada. — Disse que queria resolver tudo hoje, antes que o senhor resolvesse “decidir por ela de novo”. — completou com uma risadinha.
Theodore reprimiu um suspiro, entre irritado e intrigado.
— Obrigado, Felicity. — respondeu seco, já pegando o paletó.
Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, ele já estava fora da sala.
A Maison Élise era uma das lojas de alta costura mais exclusivas da cidade discreta, sofisticada, com vitrines que exibiam vestidos de noiva como se fossem obras de arte.
Theodore entrou, e o ambiente pareceu silenciar à sua volta.
A recepcionista se aproximou imediatamente.
— Boa tarde, senhor. Posso ajudá-lo?
— Estou procurando Sophie McGoldrick. — respondeu, direto.
Ela assentiu, surpresa, mas educada
— Claro, senhor Beaumont. A senhorita McGoldrick está no andar de cima, sala de prova principal.
Ele subiu as escadas de madeira polida e, ao se aproximar da porta entreaberta, ouviu risadas femininas e a voz da estilista elogiando o modelo.
— Está perfeito em você, senhorita Sophie. O caimento é impecável.
A voz de Sophie veio logo em seguida, suave, mas firme como sempre:
— Está lindo, mas eu ainda não tenho certeza sobre o decote nas costas.
Theodore encostou na moldura da porta, observando por alguns segundos.
Sophie estava de costas, diante do espelho, o vestido branco ajustado perfeitamente ao corpo.
Era elegante, clássico, com um brilho sutil que parecia se misturar à pele dela.
O cabelo preso de forma simples deixava o rosto em evidência e, por um momento, Theodore esqueceu por que tinha ido até ali.
A estilista notou a presença dele primeiro e sorriu, discretamente.
— Senhorita McGoldrick... acho que tem uma visita.
Sophie se virou e, por um instante, ficou completamente imóvel.
Os olhos dela se arregalaram levemente.
— Theodore?
Ele deu um passo à frente, as mãos entrelaçadas atrás do corpo, um sorriso contido no canto dos lábios.
— Parece justo. Você invadiu minha prova de terno... achei que devia retribuir o favor.
Sophie cruzou os braços, tentando disfarçar o embaraço.
— Você não tinha nada melhor pra fazer na empresa?
— Nada mais interessante que isso. — respondeu, tranquilo.
Ela bufou, desviando o olhar para o espelho.
— Está invadindo território, Beaumont.
Ele caminhou lentamente até ficar atrás dela, a poucos passos de distância.
No reflexo, seus olhares se encontraram e, por um instante, o tempo pareceu parar.
— Só vim ver como está ficando o vestido. — disse, com a voz baixa. — Afinal, é o da minha noiva.
Sophie tentou responder, mas a voz falhou por um segundo.
— Não começa, Beaumont
Ele ainda olhando o reflexo dela no espelho.
— É impossível não olhar — Respondeu baixo, seus olhos presos nos dela através do espelho.
O silêncio se instalou entre eles, pesado, intenso, com algo que nenhum dos dois queria admitir.
A estilista pigarreou discretamente, quebrando o clima.
— Vou... deixar vocês à vontade por um momento. — disse, saindo da sala.
Assim que ficaram sozinhos, Sophie respirou fundo, voltando a cruzar os braços.
— Satisfeito agora?
— Não exatamente. — ele respondeu, com um leve sorriso. — Achei que ia gostar de te ver irritada de novo... mas acho que prefiro assim.
Ela virou o rosto, o coração acelerado demais.
— Você está completamente impossível hoje.
— Só estou sendo justo — disse, dando um passo à frente. — Agora estamos quites.
Sophie tentou sustentar o olhar, mas acabou desviando.
Porque, no fundo, sabia que Theodore tinha razão e que aquele jogo perigoso entre eles já estava deixando de ser apenas encenação.