A quinta-feira amanheceu ensolarada, com um céu limpo que parecia ter sido escolhido especialmente para a ocasião o ensaio pré-wedding de Theodore e Sophie.
Sophie chegou primeiro, como sempre.
Usava um vestido de seda em tom marfim, o cabelo preso de forma delicada com pequenas pérolas decorativas, e uma maquiagem suave que destacava o olhar castanho escuro. Tudo perfeitamente planejado.
Ela observava o cenário do jardim onde fariam as fotos: flores recém-arranjadas, uma mesa de piquenique sofisticada e uma equipe de fotógrafos se movimentando com eficiência.
Quando Theodore chegou, de terno bege e camisa branca aberta no colarinho, Sophie virou o rosto mas não rápido o suficiente para esconder o olhar que percorreu a figura dele.
— Você chegou no horário. Milagre. — ela disse, ajustando a pulseira, o tom levemente provocador.
— Eu aprendi que irritar você logo cedo estraga o resto do meu dia. — respondeu Theodore com um meio sorriso.
Ela arqueou uma sobrancelha, mordendo a língua para não rir.
O fotógrafo, um homem animado e direto, interrompeu a troca de olhares com entusiasmo.
— Perfeito, os noivos estão lindos! Vamos começar com algo natural, como se estivessem passeando. Segurem as mãos, olhem um para o outro, riam…
Sophie lançou um olhar curto para Theodore, que parecia se divertir mais do que deveria.
— Lembre-se: natural. — ela sussurrou entre os dentes, apertando a mão dele.
— E sorrir é permitido, certo? — ele provocou.
Eles começaram a andar pelo jardim. O toque das mãos, ainda que parte do teatro, parecia mais real do que antes. Sophie mantinha o rosto sereno, mas o coração acelerado a traía a cada vez que Theodore se inclinava um pouco mais, fingindo cochichar algo.
— Você está tensa. — ele murmurou, com o tom baixo o bastante para não ser captado pelas câmeras.
— Estou focada. — retrucou ela, rígida.
— Claro. E seu pé balançando discretamente não é nada, né?
Ela engoliu a resposta e manteve o olhar firme.
As fotos seguintes exigiam mais proximidade.
Em uma delas, Theodore ficou atrás dela, as mãos em sua cintura enquanto o fotógrafo pedia que ele se inclinasse ligeiramente, como se fosse beijá-la.
Sophie manteve o queixo erguido, os lábios entreabertos, mas o olhar vacilou quando sentiu a respiração dele perto demais da pele.
— Está tudo bem, senhorita McGoldrick? — perguntou o fotógrafo, animado. — Querem fazer mais uma pose assim?
Sophie piscou, voltando a si.
— Sim. — respondeu rápido, ajeitando o vestido. — Pode continuar.
Theodore manteve-se atrás dela, mas agora havia um ar diferente entre os dois.
O toque dele, antes profissional, tornara-se mais cuidadoso, mais demorado. E Sophie, por mais que tentasse, não conseguia ignorar a sensação de que aquele abraço não era apenas uma encenação.
Em certo momento, o fotógrafo pediu algo ainda mais ousado:
— Agora, por favor, encostem a testa um no outro, os narizes bem pertinho. Quero um olhar de ternura, deixem a paixão transbordar.
Sophie engoliu em seco. Theodore deu um passo à frente, o olhar fixo no dela.
O mundo pareceu se calar por um instante.
A distância entre os dois desapareceu.
— Ternura. — Theodore repetiu em tom baixo, com um sorriso que a fez perder o fôlego por um segundo. — Acho que consigo fingir isso.
Sophie respondeu quase num sussurro:
— Fingir é o que fazemos de melhor.
Mas quando as lentes captaram o instante, o fotógrafo sorriu satisfeito porque, por mais que ambos quisessem acreditar, não havia nada de falso naquele olhar.
Após o último clique, Sophie se afastou discretamente, retomando a postura de sempre, mas as bochechas ainda estavam coradas.
Ela agradeceu à equipe, pediu para ver algumas fotos, elogiou a composição.
Theodore apenas observava, as mãos no bolso, com aquele sorriso leve que sempre a deixava irritada e, ultimamente, perigosamente confusa.
Quando o fotógrafo anunciou o fim da sessão, Sophie se virou para ele:
— Pelo menos as fotos ficaram boas.
— Ficaram ótimas. — ele respondeu, sem desviar o olhar. — Mas o crédito é todo seu… noiva.
Sophie revirou os olhos, pegou sua bolsa e seguiu em direção ao carro.
Mas Theodore percebeu o pequeno sorriso que ela tentou esconder e soube, naquele momento, que aquela manhã tinha sido mais do que apenas um ensaio.
Tinha sido um vislumbre do que eles fingiam ser… e do que, cada vez mais, pareciam se tornar de verdade.