Bastidores — minutos após o anúncio
O som dos aplausos ainda ecoava no Grand Palais quando Sophie saiu da passarela, andando firme e com o olhar fulminante.
O vestido branco perolado de corte minimalista balançava ao redor de suas pernas enquanto ela passava apressada por maquiadores, modelos e fotógrafos curiosos.
— Ninguém entra. — ela ordenou secamente ao segurança, ao atravessar a cortina de veludo que levava à sala reservada.
A porta m*l havia se fechado quando Theodore entrou logo atrás dela, o mesmo sorriso tranquilo no rosto.
— Você enlouqueceu? — ela disparou, virando-se para ele. — O que foi aquilo, Theodore?!
Ele parou a poucos passos, ainda com as luzes da passarela refletindo nos olhos
— Um beijo. — respondeu, como se fosse óbvio. — E um excelente, diga-se de passagem.
Sophie cerrou os punhos.
— Era pra ser um anúncio, não uma cena de filme romântico! Você tinha que dizer as palavras certas, não… — ela fez um gesto indignado — …me beijar diante do mundo inteiro!
Theodore deu de ombros, como se o escândalo fosse um detalhe.
— A imprensa acreditou, não acreditou?
— Não é sobre a imprensa! — ela rebateu, a voz subindo um tom. — Você passou dos limites, Beaumont!
Ele deu um passo à frente, com aquela calma irritante que só o tornava mais provocador.
— Passei do limite… ou apenas te tirei da sua zona de controle?
Sophie estreitou os olhos, o coração acelerado.
— Eu não sou uma das suas conquistas de gala.
— Eu sei. — disse ele, a voz mais baixa. — É isso que te torna tudo mais desafiador para mim.
Ela ficou em silêncio por um instante. O olhar dele era firme, intenso demais para ser apenas encenação.
Sophie desviou o olhar, tentando recuperar o controle.
— Isso foi um erro, Theodore.
— Foi estratégia. — corrigiu ele, sem hesitar. — O mundo inteiro acreditou no que viu. As ações subiram, os investidores já estão ligando. O contrato exige “aparência de união verdadeira”. Eu apenas garanti que ninguém duvidasse.
Sophie bufou, andando até a penteadeira e tirando os brincos com força.
— Sempre tem uma justificativa perfeita, não é?
— Só quando estou certo, e você sabe que estou.— ele respondeu, se encostando à parede.
Ela se virou lentamente, encarando-o pelo espelho.
— Você gosta disso, não é? De me provocar, de ver até onde pode ir antes que eu exploda.
Theodore se aproximou mais, até estar atrás dela, refletido no mesmo espelho, colocando aos mãos na penteadeira, sem encostar nela, mas a prendendo ali, fazendo-a encara-lo pelo espelho.
— Eu gosto quando você deixa de ser a McGoldrick fria e perfeita. — sussurrou. — Quando você reage, assim.
Sophie virou-se de repente, o olhar firme.
— Cuidado, Beaumont. Um dia você vai ver até onde posso ir, e talvez não goste tanto quanto imagina que vai.
Ele inclinou levemente a cabeça, o sorriso nos lábios, a poucos centímetros dela.
— E talvez seja exatamente isso que eu quero.
O silêncio entre eles se estendeu por longos segundos, pesado, elétrico.
Do lado de fora, flashes ainda piscavam e jornalistas gritavam seus nomes.
Mas ali dentro, o ar parecia preso como se qualquer palavra m*l colocada pudesse incendiar tudo.
— Aproveite seus cinco minutos de glória— Sophie diz empurrando Theodore levemente— Amanhã, isso volta a ser apenas um contrato.
E antes que ele pudesse responder, ela passou por ele e saiu, deixando o perfume leve de jasmim no ar.
Theodore permaneceu parado, observando a porta se fechar, e soltou um meio sorriso.
— Amanhã talvez… mas hoje, McGoldrick, você sentiu, e eu também— murmurou para si mesmo.