Capítulo 13 - Avião

2524 Words
Sophie POV – LSD? Tipo... a droga? Minha cabeça já estava doendo antes mesmo que a bebida pudesse contribuir com aquilo. O que Eros queria dizer com aquilo? – Sim, Sophie. A droga. Disse limpando a garganta após tomar mais um shot da bebida alcoólica cuja a garrafa repousava entre nós. Fiz uma careta por osmose, odiava sentir a ardência desse tipo de bebida, mas amava a maneira simples como ela me anestesiava sem eu precisar tomar remédio algum. – Mas é claro, já vi muitos casos de tráfico e algumas agressões cometidas por usuários. Franzi a testa enquanto meus pés se esquentavam sobre o carpete chique do quarto de hotel. Eros encheu o pulmão de ar e logo em seguida soltou um grande suspiro. – Aquelas pessoas... as que sequestraram a gente, eles tinham uma carga grande de drogas com eles. Gesticulou tentando me fazer imaginar a proporção do que ele havia visto e eu queria muito poder acreditar ou ao menos visualizar o que ele dizia. – De tudo o que você pode imaginar, cocaína, maconha, heroína, LSD, MDMA e muitas outras coisas que eu só fui entender depois de adulto. Disse sério bebendo mais um pouco e depois me oferecendo mas eu neguei ao perceber que rumo aquela conversa estava tomando. – Espera, você tá me dizendo que os caras que te sequestraram eram traficantes de drogas? Semicerrei os olhos, não era bem isso que eu estava esperando ouvir dele. Se bem que eu nem mesmo sabia o que eu queria ouvir dele. Talvez um: "Eles me bateram muito, chantagearam meus pais e pediram dinheiro." Mas não parecia ser esse tipo de sequestro. Na verdade parecia que o objetivo daquele sequestro nem mesmo era devolver as crianças após um acordo. – Aquele inimigo dos meus pais tinha uns amigos bem barra pesada, né? Ele riu parecendo um pouco bêbado agora, bem inconveniente para o momento em que eu mais queria interrogá-lo. – Mas isso ainda não explica muita coisa. Reiterei e ele deu de ombros pegando a garrafa de bebida e bebendo direto do gargalo. Meus olhos se arregalaram mas eu não o impedi. Meu pai dizia que "quanto pior é a história, maior é a dose a ser tomada" então deixei Eros beber para que pudesse me contar. E depois de tossir um pouco e deixar sua cabeça tombar para trás ele me encarou de bochechas avermelhadas pelo álcool. – Eu era o mais velho na situação então aqueles caras achavam que eu tinha uma informação que meus pais guardam apenas com eles até hoje. Sorriu como se a história que ele estava contando fosse um conto de fadas, mas em minha mente tudo estava tecendo uma conexão bizarra da qual eu não queria acreditar. – Você não tá me dizendo o que eu acho que está, não é? Suspendi as sobrancelhas e puxei a garrafa quase vazia da mão dele, mas ele se colocou de pé impressionantemente firme para quem havia bebido tanto. – Pode pensar o que quiser, delegada. Eu vou dormir, não quero falar sobre isso agora. Abanou a mão se jogando em um dos lados da cama, ao menos se dando ao trabalho de lembrar que eu também dormiria alí. Contudo eu estava ávida por informações, ele não podia me deixar sem respostas! – Não, não... Eros, espera! Isso pode te inocentar! Puxei uma das pernas dele tentando mantê-lo acordado e ele esfregou a cara no travesseiro resmungando antes de me encarar ainda deitado. Cheguei mais perto dele tendo a certeza de que não deixaria nada escapar, nenhuma informação sequer. – Eu nem te contei a história toda, delegada. Como tem tanta certeza de que pode me inocentar? Murmurou abrindo seus olhos e sorrindo ao perceber o quão perto eu estava dele. Sua mão direita brincou com a pontinha dos meus cabelos que pendia para frente e eu quis me estapear. Concentre-se Sophie. – Você é tão linda, Sophie. Ele riu baixinho e eu tive que piscar algumas vezes para me concentrar na conversa que estávamos tendo antes dessa besteira. – Você mesmo não vive dizendo que é inocente? Eu deveria suspeitar de você? Perguntei chacoalhando seus ombros ao vê-lo lentamente fechar os olhos, mas aquele sorrisinho pretensioso continuar em seu rosto mesmo caindo no sono. – Hey... Eros? Ah, qual é... Bufei irritada percebendo que havia deixado mais uma oportunidade escapar. [...] Acordei ao som do despertador de Eros que tocava, ironicamente ou não, Eye of the Tiger e eu me mantive quieta e ainda fingindo dormir em meu lado da cama. Dormi tranquilamente sabendo que ele havia desmaiado de bêbado, mas mesmo assim me protegi com uma barreira de travesseiros entre nós, os quais tive que pedir extra no meio da madrugada junto com um hambúrguer para eu processar tudo o que tinha ouvido. Tráfico de drogas. Sequestro. Acidente de carro. Ayaan Gupta. Três crianças. Algo que eles queriam. O que fizeram? O que queriam? Droga, minha mente estava uma bagunça. – Sabe, eu não mordo. E mesmo se fosse o caso, acha que travesseiros iriam me impedir? A voz tão próxima de meu ouvido e tão absurdamente rouca fez eu saltar da cama quase me machucando na queda. – Wow... isso foi bem ágil da sua parte, delegada. Bom dia. O sorriso estampado na face daquele canalha não mostrava vestígio algum de ressaca ou da tristeza que o corroía ontem. Ele estava deitado de lado, uma mão na cintura e seus cabelos completamente desgrenhados. A luz do sol batia levemente em seu rosto e seus olhos brilhavam como duas esmeraldas caríssimas. Era quase um pecado aqueles olhos pertencerem a alguém como Eros. – Bom dia pra quem? Rosnei irritada me colocando de pé e ele me analisou dos pés à cabeça como sempre fazia. – Novo modelito? Perguntou apontando para meu pijama - ainda da Hello Kitty - mas de calça e mangas longas. Revirei os olhos e fui direto para o banheiro lavar o rosto. Não seria um dia fácil, mas pelo menos poderia ter começado um pouquinho melhor. – Por que gosta tanto da Hello Kitty? Me assustando mais uma vez enquanto eu escovava os dentes, Eros perguntou aparado no batente da porta com os braços cruzados sobre o peitoral nu. Quando foi que ele tirou a camisa? – Porque ela não tem boca. Fuzilei ele com o olhar através do espelho e ele riu parecendo completamente contente com a minha resposta. – Que ótimo humor você está, querida namorada! Riu debochado e baguncou meus cabelos enquanto fazia o seu caminho até o vaso sanitário. Quis matá-lo, mas respirei fundo e apenas enxaguei minha boca me resignando a ficar quieta. Ou quase. – Não está vendo que eu estou usando o banheiro? Questionei o vendo descer um pouco suas calças e me encarar por cima do ombro enquanto mijava sem nem mesmo ligar se eu o encarava ou não. – Somos um casal agora, qual o problema em dividir o banheiro? Desviei meu olhar, não queria ver nada acidentalmente, então foquei em fazer do meu cabelo algo mais apresentável e fui até o quarto para pegar algumas roupas confortáveis para a viagem. Isso se na minha mala de "roupas de sair" estivessem minhas roupas. Ontem ao tomar banho para ir dormir, apenas peguei um pijama em minha mala onde eu guardava as roupas de dormir, remédios e roupas de ficar em casa, então nem mesmo tive tempo para verificar essa mala. – Eros Zervas! Onde estão as minhas roupas?! Gritei ao ver que as roupas que estavam naquela mala não eram minhas e estavam todas com etiqueta ainda. Pareciam bonitas, mas definitivamente não eram minhas! – Alguém deve ter trocado sua mala por engano, ou sei lá... Ele saiu do banheiro dando de ombros e se sentando na cama com aquela porcaria de sorrisinho. Ninguém trocou mala nenhuma, aquela era sem sombra de dúvidas a minha mala mas sem as minhas roupas! – Ah, e parece que são todas do seu tamanho também, não é? Que coisa... Ele fingiu olhar por cima da mala mas estava me encarando o tempo todo. – O que você quer com isso, Eros? O que fez com as minhas roupas?! Revirei aquelas roupas caras e novinhas com raiva. Ele pode me dar roupas, claro que eu iria aceitar, quem é que recusa roupa cara? Mas por que fazer isso sem me consultar antes? – Se acalma, elas estão todas seguras lá no Grécia. Essas aí são para você me acompanhar durante a turnê. Explicou mais sério e eu murchei em alívio. Eu gostava das minhas roupas antigas, cada uma tinha um significado importante para mim e saber que ele me respeitou ao ponto de guardá-las foi o suficiente para abaixar minha guarda. – Você precisa se acostumar com a fama, ela exige de nós muito mais do que fotos e autógrafos. Após ouvi-lo dizer isso alguém bateu em nossa porta. Era o café da manhã. Fomos servidos e eu não conseguia manter meus pensamentos quietos sobre tudo. Eros sabia bem disso, então apenas colocou café em minha xícara e me deu duas torradas com geleia. – Puro e forte. Ele apontou para a xícara e eu quis rir. Provavelmente ele iria me provocar com isso pelo resto da vida. Olhei para ele. Resto da vida? Como eu poderia considerar que ele estaria comigo pelo resto da vida? As bochechas dele se ergueram em um sorriso genuíno, aquele que raramente eu consigo ver, seus olhos sorrindo junto, seus cabelos levemente encaracolados me fazendo perceber que ele me encarava assim desde que eu acordei. Ele era tão transparente e ao mesmo tempo tão fechado concernente aos seus segredos. Eu o invejava naquele sentido. Queria ser tão simples quanto ele. – Aposto que tá pensando muita merda nessa sua cabecinha depressiva. Apontou ele para mim me arrancando de meus devaneios enquanto comia uma mistura nojenta de whey, aveia, banana e iogurte. – E você daria um bom adivinho. Suspirei fazendo uma careta. [...] Quando se pensa em um voo fretado, você logo pensa em um jatinho com ricos descendo de uma escadinha com a ajuda de seus mordomos, mas Eros não. Aquele era literalmente um avião. Tipo, não um jatinho, um avião. E após - vocês sabem - passar pela multidão de paparazzi, chegamos até onde seria o embarque e encontramos com a família dele e, para a minha surpresa, meu pai. Quis me matar, matar Eros, matar todo mundo e sumir. Mas nada disso em ordem nenhuma daria certo, então me mantive o mais firme possível para não passar a vergonha que sabia que era inevitável. – Quando soube o que estava acontecendo vim correndo. Meu pai disse com um sorriso amigável por trás daquela barba ruiva e Dimitri apertou a mão dele como os velhos amigos que eram. Na verdade, meu pai nunca falou muito sobre Dimitri ou sobre a equipe Omni, apenas dizia que eles eram bons amigos e que se eu precisasse de ajuda com algo um dia, poderia ligar para eles. – Nem acredito que meus netos vão ser netos do Gideon também! Dimitri riu e eu encarei Eros alarmada. Ele não tinha avisado aos pais dele até agora que nosso relacionamento não era de verdade?! Meu pai gargalhou junto como se aquela realidade fosse de fato uma realidade. O lutador sorriu para mim - tendo a plena consciência da merda que estava acontecendo - e abraçou meus ombros como se tivesse pleno costume naquilo. – Não acha um pouco cedo para falar de netos baba? Perguntou um pouco nervoso e eu podia sentir apenas pelo tremor em suas mãos. Um pouco tarde pra isso né, babaca? – Não mesmo! Vamos ensinar eles a atirar e quebrar pescoços! Meu pai disse piorando a situação e Dimitri apontou para o próprio peito orgulhoso. – Ele vai ser um Omni, com certeza. Disse cheio de euforia como se esse neto hipotético realmente existisse, e meu pai discordou rindo. – Omni? Ele vai ser um Abutre isso sim! Apontou e os dois já estavam prestes a iniciar uma discussão de porque o neto deles seria um militar e de qual equipe ele faria parte, mas Marie se meteu no meio da conversa. – Acho que agora não é o momento para isso, meninos. O Linux já embarcou com a equipe médica, Eros e Sophie precisam ir. Ela explicou nos ajudando a sair daquela enrascada e algo em seus olhos me dizia que ela sabia um pouco mais do que deixava escapar, mas meus pensamentos foram interrompidos por Eros pegando em minha mão. – Obrigado por tudo. Vou ligar assim que chegarmos. Disse ele me puxando para o portão de embarque e eu só tive tempo de acenar para os três que ficaram para trás. – Cara, mas que merda! Por que você não contou aos nossos pais que é tudo mentira?! Questionei enquanto andávamos pela plataforma que ligava o aeroporto ao avião e o lutador bufou como se ele era quem estivesse na razão. – E correr o risco da informação vazar? Nem pensar. Disse ele sendo o primeiro a embarcar na aeronave onde um comissário de bordo já nos esperava na porta. Ao entrar, vi que alguns assentos foram retirados para que o leito hospitalar de Linux fosse colocado e também percebi que nossas bagagens de mão já estavam nos compartimentos sobre nossos assentos. – Todos os assentos são do tipo leito, então se quiser ir dormir... Eros explicou e foi até onde a equipe médica ainda ajeitava os aparelhos que monitoravam Linux. – Você não vai descansar? Tem uma luta importante hoje. Perguntei vendo ele acariciar os cabelos escuros do irmão que dormia calmamente como se nem mesmo estivesse preocupado com a própria saúde. Eros não se virou para me responder, mas suas costas estavam tensas. – Mesmo que eu me deite eu não vou conseguir descansar. Sabia bem o que ele quis dizer com aquelas palavras. Não era nada fácil ver alguém que amamos definhar em nossa frente sem que pudéssemos fazer nada a respeito. – Pelo menos fica aqui do meu lado até eu dormir. Mesmo a contragosto, pedi vendo finalmente ele me encarar como se eu tivesse ficado doida, mas ele sorriu. Como sempre. – Sophie? É você mesma que está aí? Não te trocaram por engano? Ele se aproximou e se sentou no assento ao meu lado e eu virei meu rosto para a janelinha à minha esquerda. O avião ainda não estava em movimento. De certa forma eu tinha um motivo para pedir que ele ficasse ao meu lado. Eu nunca tinha viajado de avião e a ideia não me agradava muito, então me sentia um tantinho nervosa a respeito daquilo. E pareceu que ele logo entendeu o motivo, já que ouvi sua risadinha e senti seus lábios entrarem em contato com a minha bochecha rapidamente produzindo um som estalado. – Não tenha medo. Estamos juntos nessa, okay? Olhei para ele alarmada, minhas bochechas queimando em vergonha mas não consegui dizer nada e nem mesmo repelir a mão dele que segurou a minha até eu pegar no sono.
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