Capítulo 15 - Photoshoot

2660 Words
Narradora POV [Anos atrás] - É melhor se mandar logo daqui antes que meus pais cheguem. O adolescente disse acendendo um cigarro e subiu suas calças rapidamente como se nem tivesse gostado do fato de ter tido que tirá-las. A garota, deitada sobre o sofá daquele porão meio insalubre não entendeu o motivo de ele estar expulsando ela agora. Ele não disse que a amava? Que queria ela por perto? Que somente andar de mãos dadas e beijinhos não eram suficientes para mostrar seu amor? Ele não tinha dito que a apresentaria para os pais? - Mas você disse- Antes que ela pudesse contestar, ele riu. - p***a, você é muito burra mesmo! Era uma aposta, tá legal? Eu e o Jones apostamos para ver quem conseguia comer a garota gorda primeiro... Seus ouvidos pareciam ter pressurizado naquele momento. Não sabia se era porque estava em negação ou se porque no fundo ela já deveria saber que era tudo bom demais para ser verdade. - Você nunca gostou de mim? Mesmo assim Sophie perguntou, não sabia o motivo mas queria ouvir com todas as letras. O garoto riu apagando o cigarro no batente da janela. - Quem gostaria de alguém como você? Se enxerga. Mas não fique triste, sua virgindade me rendeu cem pratas! Sua gargalhada ficou tatuada na mente da garota que passou os próximos anos se sentindo tão enojada de si que m*l podia se encarar no espelho. [Dias atuais] Sophie POV - Sophie! Voltei! Escutava a voz alta e animada de Eros mesmo da entrada do quarto de hotel. Estava deitada, enrolada sob os edredons, TV desligada, celular e computador desligados, apenas meus olhos abertos em direção a janela grande daquela suíte. Eu estava em choque. - Sophie? Sua voz se tornou mais terna ao que ele colocou o rosto para dentro do quarto e eu fechei meus olhos de súbito ouvindo ele bufar e rir. - Vai, não finge que tá dormindo... olha só! Eu ganhei! Sua exclamação e um tilintar insistente me fez abrir os olhos dando de cara com uma enorme medalha em frente aos meus olhos. Ele venceu, novamente. - Sim, eu vi na TV. Parabéns... Minha voz saiu quase como um fiapo, estava sob a influência de dois ansiolíticos para que minha mente ansiosa e depressiva não colapsasse diante de tantos, tantos, tantos detalhes da vida pessoal daquele cara. O relatório não terminava alí, falava sobre tudo. Sobre a doença de Linux, a aparente perda de memória de Daphne e sobre o vício de Eros em metanfetamina. Ele também sustentou um vício longínquo por LSD mas principalmente metanfetamina. Não conseguia olhar para o rosto dele. Não conseguia deixar de me sentir suja por saber tanto daquela parte de sua vida sem seu consentimento e também não conseguia deixar de me sentir devedora a justiça por não usar isso de prova para prendê-lo imediatamente. O que me garante que Eros realmente não estava com aqueles traficantes? - O que houve? Tá se sentindo m*l? O sorriso dele murchou e eu pisquei rapidamente. Precisava dizer algo, qualquer coisa! - Não eu... tô com cólica, só isso. Menti, no máximo eu estava com dor de cabeça, mas nada a mais. E ao finalmente encarar seu rosto, vi que ele tinha um hematoma em sua bochecha esquerda, provavelmente da luta. - Ah, minha irmã também tem bastante disso. Quer que eu compre algum remédio ou alguma coisa específica pra comer? Ele abaixou a medalha colocando sobre a mesinha de cabeceira e eu continuei encarando seus olhos verdes, o hematoma arroxeado, seu cabelo preto, me concentrando em qualquer coisa para não voltar meus pensamentos à sua ficha. - Não, não. Tá tudo bem, obrigada Eros. Tentei sorrir e vi ele franzir as sobrancelhas se afastando um pouco. - Okay... você tá estranha. Vou te dar um desconto porque você está com dor, mas você definitivamente tá estranha. Apontou para mim e eu me senti tendo meus pensamentos expostos para ele como se ele pudesse lê-los. - Apenas as preocupações do trabalho, só isso. Tentei desconversar e isso pareceu bastar para ele, já que ele pendeu a cabeça de lado e espremeu os lábios em um sorriso de pena. - E você tá trabalhando até agora? São quase três da manhã, relaxa um pouco! Se aproximou passando a mão destra or meus cabelos e eu fechei meus olhos me deixando ser acariciada. Não queria que Eros fosse culpado. - Olha só quem fala... Comentei baixinho e ouvi sua risada. - Mas meu trabalho é nesse horário, não tem muito o que fazer, engraçadinha. Ele continuava acariciando meus cabelos e eu abri meus olhos novamente para acabar dando de cara com um Eros bem mais perto do que eu esperava que ele estivesse. - Aquilo que você falou na TV é verdade? Sabe... quando você ganhou. Não pude deixar essa dúvida em meu peito, a pedra que pesava no lado emocional da balança do meu coração. - Eu posso ser muitas coisas, Sophie. Mas mentiroso não é uma delas. Sua voz era séria, seu olhar cansado mas suave, sua mão descendo dos meus cabelos para o meu rosto, alisando minha bochecha com seus dedos calejados. - Você está mentindo agora mesmo. Como pode achar alguém como eu bonita? Não sabia se eram os remédios, a provável TPM que estava começando após tantos altos e baixos emocionais ou apenas meu eu e******o falando, mas aqui estávamos nós naquela conversa que eu definitivamente não queria sustentar. Eros me encarou por três exatos segundos e riu. - O que foi? Eu pareço uma piada para você? Digna de pena?! Me assentei com raiva afastando sua mão e ele negou ainda rindo. - Não estou rindo de você, princesa. Estou rindo porque sei que o cara que te falou isso deve ter um p*u minúsculo... A maneira relaxada como suas palavras saíram por seus lábios me fez petrificar onde eu estava. Certamente eu estava bem mais parecida com um tomate do que com uma pessoa agora. - O que foi? Acertei, não é? Um sorriso sacana cresceu no rosto bonito e agora levemente maculado em sua bochecha. - Pessoas amarguradas adoram injetar suas amarguras em outras pessoas, é o jeito deles de se sentirem melhor com suas vidinhas de merda. Eros agora estava agachado de frente para mim suas mãos apoiadas na cama traçando um caminho rápido até minhas coxas desnudas por causa da camisola. - Agora me deixe te dizer uma coisa, eu não sou amargurado, nem tenho p*u pequeno e muito menos sou pobre ou feio, então... Seus joelhos encostaram no chão ao que seu rosto se aproximou dos meus. - ... acredite quando eu digo que você é linda, Sophie. Não sabia como reagir a aquele discurso extremamente egocêntrico, mas de alguma forma estranha e desconhecida aquilo me convenceu. E não, não era porque agora Eros beijava minhas coxas como se eu fosse uma deusa e ele me devesse sua adoração. - Nem posso acreditar que você caiu de bandeja na minha vida. Eu devo ter salvado o mundo na vida passada... Disse ele sorrindo contra a pele de minhas coxas grossas que tremiam a cada toque que recebiam dele. Minhas mãos foram direto para a barra da camisola a prendendo bem no lugar dela, deixando bem claros os limites para Eros. Esse que continuava sorrindo e beijando a pele das minhas pernas. - Pode se esconder o quanto quiser de mim, me contentaria com qualquer minúscula parte sua. Disse beliscando a parte interna de minhas pernas com seus incisivos e eu fiz menção em chutá-lo mas ele me segurou. - Calma... não se irrite. Já entendi que você tem limites, não vou ultrapassá-los. Deixou um selar em cada um dos meus joelhos e depois ergueu seu torso colocando uma de suas pernas na cama avançando sobre mim. Arregalei meus olhos, nenhum som escapava de minha garganta. Isso era respeitar meus limites?! - O que você quer jantar, hm? Seu rosto estava logo acima do meu, sua franja fazendo cócegas em minha testa e seu fôlego esquentando minhas bochechas. - Jantar às 3 da manhã? Rebati me lembrando de que horas eram e vi ele dar de ombros. - Alguma ideia melhor? [...] - Xeque-mate. Disse após o que deveria ser a sétima rodada de xadrez que eu ganhava de Eros e ele me encarava com aquelas sobrancelhas franzidas de quem não tinha nem ao menos entendido minha jogada - Como você consegue fazer isso?! Me perguntou enquanto eu passava a pomada que ele disse que era para hematomas em sua bochecha. - Você move muito cedo seus bispos e espalha demais seus peões. Expliquei terminando de passar a pomada em seu rosto e logo em seguida beliscões uma batata frita do balde que estava ao lado do tabuleiro. - Não, você não vai me convencer que ganhou isso pelos métodos convencionais! Apontou quase que ofendido e eu ri dando de ombros. Eu era boa em jogos de tabuleiro desde pequena, já que cresci na roça com meu avô e meu irmão e periodicamente meu pai nos visitava. Então das poucas distrações que tínhamos, jogos de tabuleiro eram os nossos favoritos. - Podemos jogar outra coisa se quiser. Sugeri e ele topou. Vimos o dia nascer e Eros não ganhou nenhuma única vez contra mim. Nem em damas, jogo da velha, poker, paciência, sudoku, buraco, nada. Rimos bastante toda vez que ele perdia, levantamos a questão de que talvez toda a sua sorte ficava nos octógonos e por isso ele era tão r**m em tabuleiros. Não sei quando eu peguei no sono e também não sei como sem minhas gotinhas rotineiras para dormir, mas sei que dormi pesado e acordei deitada em algo macio e quente com algo mais quente ainda me envolvendo. Minha cabeça estava sobre o braço de Eros, estávamos os dois deitados no chão da sala de uma suíte de um hotel 5 estrelas abraçados e aconchegados como se aquele fosse o lugar mais confortável daquela suíte. Isso não é certo. Minha consciência ditou e eu afastei aquele pensamento. Não queria saber nada sobre certo e errado agora. Havia dormido como um bebê como não tinha feito em anos e ainda por cima sem remédio algum e no chão. Eros para mim agora estava sendo como um veneno de uma cobra. Letal, mas que ia deixando meu corpo dormente e fraco ao ponto de eu não sentir mas nada quando ele de fato decidisse me matar. Eu estava tomando esse veneno por vontade própria, caminhando para o abismo com os meus próprios pés. Ele pode ser o culpado. Martelava minha consciência. E se ele só for uma vítima? Me aconcheguei melhor contra o seu peito sentindo seus braços me acolherem em resposta. [...] - Divas pop, Simon. Sabe o que todas elas tem em comum? Via Eros questionar seu agente enquanto ele supervisionava o barbeiro que cortava o cabelo do lutador. Enquanto isso minha mente funcionava como uma fábrica de pensamentos. Levam vinte e quatro horas para a droga sair da corrente sanguínea, mas levam meses e muitos cortes para deixar o cabelo... A porcaria da minha consciência ainda gritava a cada tufo de cabelo que eu via cair no chão. - A excentricidade, Simon! As pessoas amam pessoas excêntricas, tudo o que foge do rotineiro, o extravagante! Expressou Eros como se o que ele estivesse dizendo fosse algo visionário. E talvez fosse, mas do ponto de vista dele. Para mim, uma vida comum já bastava. - E é por isso que o senhor quer fazer uma tatuagem? Simon rebateu e eu pisquei confusa. O quê? Que parte da conversa eu perdi para que agora Eros estivesse cogitando fazer uma tatuagem? - Não necessariamente precisa ser uma tatuagem, eu preciso de algo novo. Depois da notícia do namoro eu fiquei taxado de certinho e não é isso que eu quero. Reclamou ele e eu tive que rir. - Uma investigação sobre tráfico de drogas já não é excentricidade suficiente para você? Zombei e vi ele revirar os olhos. - Não nesse sentido, Sophie. Rebateu ele fazendo bico e Simon suspirou dispensando o barbeiro ao que o homem terminou o trabalho dele - ótimo, diga-se de passagem - e o pagando. - O senhor não precisa exatamente fazer algo, podemos apenas soltar um rumor. O agente disse simplista e Eros fez uma careta desgostosa tirando a capa que estava usando para se proteger dos cabelos que caíram. - Você sabe que eu detesto esse tipo de coisa! Vamos, me dê uma ideia! Balançou as mãos como se fosse fácil assim conseguir uma ideia do mais absoluto nada. Eu nunca fui famosa, como eu poderia saber o que ajudaria ele ou não? - Tem que ser algo permanente? Simon perguntou chamando a atenção de Eros que brincava com os cabelos ainda esparramados no chão. - Não necessariamente. Respondeu o lutador. - Então que tal uma sessão de fotos? O agente sugeriu com um sorriso educado mas sua sugestão foi recebida com uma careta desgostosa. - Simon, você não sabe bem quantas sessões de fotos eu já tenho?! Eros reclamou exagerando nos gestos como se fossem milhões e bilhões de sessões de fotos. Talvez todo esse exagero fosse de família, já que eu havia visto seu pai e seu tio gesticulando da mesma forma antes. - Mas dessa vez com a senhorita Welsh, senhor. Simon emendou apontando para mim e ambos, eu e Eros, arregalamos os olhos por motivos completamente opostos. - Ótima ideia! - Péssima ideia. Dissemos em uníssono. [...] - Eros isso é uma ideia terrível, eu não deveria estar aqui, você deveria estar treinando e- Dizia nervosa enquanto alguém tentava a todo custo me maquiar mesmo comigo falando. - Relaxa, Sophie. São apenas algumas fotos, se você não aprovar, não postamos nenhuma! Me assegurou enquanto tinha suas roupas ajeitadas por outro profissional e mais uma dezena de pessoas trabalhavam no cenário, câmeras, iluminação, edição, cabelo, maquiagem, roupas e tudo mais. Aquilo parecia a produção de um álbum de algum cantor e não apenas algumas fotos tiradas para postar em redes sociais. - Sr. Zervas, chegaram as amostras de roupas para a Srta. Welsh. Existe alguma preferência de marca? Uma garota, bem jovem mas muito bem vestida, perguntou e ele deu de ombros enquanto mascava chiclete. - Ela é quem tem que dizer. Apontou para mim e eu arregalei meus olhos atrapalhando a maquiadora mais uma vez. - Srta. Welsh, entre essas marcas qual a senhorita prefere? Temos pelo menos três de cada uma aqui... A garota me mostrou um catálogo com marcas cujos os nomes eu nem nunca tinha ouvido falar, que dirá vestir. Gucci, Fendi, Yves Saint Laurent, Diesel, Supreme, Chanel, Celine, Jacquemus, Burberry, Dior, Versace, Hermès... Eu olhava para tudo, nomes fotos, tudo era confuso em minha mente. Nós meros mortais somos acostumados a comprar roupas confortáveis e aceitáveis pela sociedade dentro de uma faixa razoável de preço, então eu nunca tive que passar por isso na vida. - Três peças? Perguntei pensando que se fossem por peças seria mais fácil mas ela riu. Ela literalmente riu. - Claro que não, senhorita. Três coleções, assim a senhorita pode escolher à vontade. Olhei para Eros e ele sorriu amplamente para mim. Aquilo estava parecendo mais uma de suas peripécias. Bem, mas eu era a esperta da situação. - Me diga, o que Eros está usando hoje? Faz mais sentido se eu acompanhá-lo, já que é um photoshoot de casal, certo? Comentei baixinho e os olhos da garota pareceram se iluminar. - Oh, a senhorita tem toda razão! No primeiro set o senhor Zervas estará usando Burberry, no segundo, Saint Laurent e no terceiro algumas peças esportivas da... O discurso da menina ficou em segundo plano ao que eu vi Eros conversando com os fotógrafos sorrindo e planejando tudo como se fosse o melhor dia de sua vida. Ah Eros, como eu desejo que você seja inocente...
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