Sophie POV
- Aonde você pensa que vai?
Ao que estava prestes a sair daquela cobertura com meu notebook embaixo do braço e as chaves do meu carro, sou interrompida pela figura reluzente em suor do lutador que parece ter se transfigurado em minha frente.
Parece que ele tinha lido os meus pensamentos sobre ir até a casa dos pais dele e fazer algumas perguntas, já que ele me encarava de maneira quase que angustiada se não fosse irritada.
- Primeiramente, o investigado é você, não eu. E depois, desde quando isso é da sua conta?
Deixei bem claro a distância emocional que tínhamos suspendendo minhas sobrancelhas e ele descansou as mãos na cintura rindo cansado.
- Olha... Eu sei que saí daqui irritado e tudo mais, mas você tem que acreditar em mim quando eu digo que não vale à pena sair agora.
Gesticulou exagerado usando apenas a mão esquerda, coisa que eu sempre me questionava, já que nunca conseguia adivinhar se ele era destro ou canhoto.
Claro que isso não vinha ao caso, mas isso era muito esquisito.
- O quê? Por quê?
Franzi o cenho não entendendo a repentina censura.
Até a poucas horas atrás ele era o descolado e liberal Eros que pulava na piscina às cinco da manhã flertando com Deus e o mundo, mas agora estava rígido como um militar.
- Confie em mim, não saia.
Mesmo um pouco assombrada pela sobriedade com que ele dizia aquilo, eu precisei inquirir ele um pouco mais.
- Eros, você precisa me dizer o que está acontecendo.
Deixei as coisas que tinha em mãos sobre um aparador que ficava atrás do sofá e pisquei algumas vezes ao vê-lo revirar os olhos.
- Você não vai gostar de saber, vai por mim.
Insistiu mais um pouco mas eu não conseguia me sentir em paz enquanto ele não me dissesse o que exatamente eu não poderia presenciar lá fora.
- Se você não me contar eu vou sair!
Ditei irritada fazendo pirraça como uma criança, algo que eu não fazia nem mesmo quando era uma.
Ele me encarou por alguns segundos, seus olhos verdes alternando entre meu rosto e a própria casa até que ele bufou se dando por vencido e apontando para a televisão.
- Ligue a TV, só não diga que eu não avisei.
Apontou severo e eu não demorei em fazer aquilo, dando a volta no sofá e ligando a enorme TV da sala que logo no primeiro canal de notícia estava uma enorme foto de nós dois arrumados para aquele jantar de gala estampada ao lado de um repórter.
Segundo fontes, o lutador Eros Zervas, mundialmente conhecido como Hades o invicto, tem se relacionado secretamente com uma delegada envolvida na investigação do seu caso envolvendo tráfico de drogas.
A defesa do Sr. Zervas reitera sua inocência e não afirma nada sobre seu relacionamento com a delegada.
Eu não poderia estar mais chocada.
Mas que diabos era aquilo?
Isso era uma mentira tão grande que chegava quase a ser uma realidade distópica.
- Mas o quê...- Isso não é verdade! Nada disso é verdade!
Gritei me virando para Eros, apontando para a TV como se o aparelho tivesse culpa por estar transmitindo aquelas inverdades.
E, contrariando minhas expectativas, Eros me encarava de bracos cruzados como se estivesse tentando - e estava - me avisar daquilo desde o início.
- O nome disso é fama, querida. Acostume-se com ela agora.
Disse ele com um sorrisinho presunçoso, mas eu joguei o controle da televisão no sofá com raiva assustando Nora que dormia em uma das poltronas por perto.
- Mas eu não sou famosa, você que é!
Continuava gritando com raiva.
Que direito eles tinham de fazer isso?
Com base em quê?
Eu iria perder meu emprego! Assim que um de meus superiores colocassem os olhos naquela inverdade eles não pensariam duas vezes em fazer isso!
Eros, parecendo muito calmo para quem estava sendo alvo de fake news, se aproximou de mim e colocou um braço sobre meus ombros apontando para a tela da TV agora mutada.
- Tá vendo aquela gordinha bem alí de braços dados comigo no jantar? Como pretende explicar isso ao público?
Murmurou ele, ou eu que estava gritando demais para perceber que ele estava apenas falando normalmente.
- Que eu estava te investigando, que eu não tenho laços com você e... e...
Enfiei minhas mãos em meus cabelos e por um momento quis arrancá-los.
Não tinha uma única explicação plausível para aquilo.
Pelo menos nenhuma que o público fosse aceitar.
- E? Sophie, ninguém acredita na verdade. As pessoas só veem o que querem ver.
Comentou completamente acostumado com aquele fato que agora me indignava.
- Mas o que nós vamos fazer agora? Eu vou acabar sendo retirada do seu caso e justo agora que eu precisava de dinheiro!
Choraminguei me deixando cair sentada sobre o sofá atraindo a presença de Nora para mim que veio miando impaciente com todo aquele escândalo.
Já Eros sorriu e passou uma de suas mãos pelos meus cabelos como se nós de fato fôssemos grandíssimos conhecidos.
- Relaxa, princesa. Nós vamos fazer o que eu sei fazer de melhor.
Disse ele sorrindo charmoso com uma daquelas covinhas aparecendo e eu até mesmo senti meu coração descompassar em um claro sinal de traição à própria dona.
- O quê? Ficar chapado e bater nos outros?
Suspendi uma de minhas sobrancelhas com minha resposta sarcástica.
- Não, i****a. Nós vamos aparecer.
Gesticulou como se fosse algo simples de entender, mas eu torci o rosto confusa.
- O que você quer dizer com isso, Eros?
[...]
- Você o quê?!
A voz de Simon nos alto-falantes da casa quase estourou meus tímpanos e Eros riu cruzando as pernas sobre a mesinha de centro.
- Eu quero que você marque uma coletiva de imprensa em meu nome, mas antes quero que minha defesa confirme os rumores de namoro.
Explicou enquanto mastigava preguiçosamente uma barrinha de proteína e eu me encolhi na poltrona em que eu estava sentada com Nora no colo em uma competição acirrada de quem encarava ele mais assustada.
Aquilo só podia ser um pesadelo.
- Senhor, uma notícia dessas se tratando da delegada responsável pelo seu caso... o senhor tem certeza?
Até mesmo Simon, que devia estar bem acostumado com as autenticidades de Eros, soou assustado.
Contudo, o lutador parecia confortável com aquela nova realidade.
Uma coisa era certa, Eros não possuía uma única gota de vergonha ou medo naquele corpo dele. Enquanto isso tudo o que ele não sentia eu parecia sentir.
Céus... imagine só o que a minha família vai pensar?
Imagine o que a família dele vai pensar!
- Já disse que sim. E me consiga um anel de compromisso... uh... que cor você quer, Sophie?
Ele divagou me perguntando e eu pisquei algumas vezes antes de responder confusa:
- Como assim?
Cor de anel? Isso por acaso seria tipo uma pulseira da amizade para ter cor? Pra mim anéis eram ou prata ou dourados.
Ele rolou os olhos e bufou.
- Esqueça, apenas me diga o tamanho do seu dedo!
Olhei para minhas mãos me lembrando de que uma vez precisei medir meu dedo para fazer um anel de formatura do ensino médio.
- Vinte e dois, eu acho.
Comentei baixinho e ele assentiu parecendo satisfeito com a resposta rápida dessa vez.
- Me consiga um anel de compromisso vinte e dois. Não os quilates, o tamanho.
Explicou calmamente como se estivesse acostumado com aquele tipo de situação.
Se todos os famosos fossem como Eros, certamente nunca seriam necessárias equipes de gerenciamento de crise.
- Sim, senhor. E concernente ao material?
Simon, mesmo ainda um pouco ressabiado com a ideia e deixando isso transparecer em seu tom de voz, perguntou e isso fez o lutador pensar.
Era apenas algo de mentirinha, por que ele estava colocando tanto esforço nisso?
Um anel prateado qualquer de uma lojinha online já seria o suficiente para isso.
- Ouro branco vinte e quatro quilates, você sabe bem que eu não gosto de nada menos que isso. E faça questão de ter um rubi, vermelho é a minha cor da sorte, meus fãs vão reconhecer...
Começou a ditar como se aquele planejamento já fosse algo que ele tinha em sua mente a tempos e eu arregalei meus olhos interrompendo ele.
- Você tá doido?! Isso vai custar uma fortuna só nesse anel!
Eros me encarou sério e afirmou parecendo pensar.
- Ela tem razão, é muito dinheiro apenas para um anel. Compre também brincos e um colar!
Ordenou ele e eu quis espancar aquele grego i****a.
Como pode ele simplesmente ser deixado levar pela maré dessa forma?
- Anotado. E para o senhor?
Simon perguntou provavelmente cansado de questionar.
- A mesma coisa, você já sabe o tamanho do meu dedo, mas eu quero que a minha seja um pouco mais grossa e que combine com o meu anel de família.
Explicou ele.
- Ah, e eu quero que brilhem bastante, me ouviu? Quero que cada flash que bater nelas reluza como uma estrela, entendeu, Simon?!
Ordenou bem certo do que queria e eu não conseguia entender toda essa fissura em fazer com que tudo fosse o mais chocante possível.
- Isso é completamente desnecessário, você é insano.
Balancei minha cabeça em descrença assim que a ligação se encerrou e ele riu.
- Nesse ramo ou você devora, ou você é devorado, princesa.
[...]
No dia seguinte os tabloides não falavam de outra coisa.
"Namorada secreta de lutador"
"Novo affair de Eros Zervas"
"Quem é a nova namorada do Invicto?"
"Namoro suspeito de Hades, o invicto."
Não havíamos nem mesmo colocado a cara para fora do apartamento, mas nossa vida já tinha virado um inferno.
E para melhorar, agora era estação de lutas, que para quem não sabe é tipo uma tour.
Eros tinha lutas marcadas por toda a Europa começando por hoje onde ele iria ter sua primeira luta na cidade onde nasceu, e adivinhem, eu teria que aparecer oficialmente como namorada dele.
Eu sinceramente não sei o que fiz a Deus para merecer aquilo, mas coisa boa não deve ter sido.
Logo pela manhã meu pai me mandou mensagem me perguntando se o que estava vendo nos jornais era verdade mesmo e eu precisei de muita força de vontade para afirmar e seguir com o plano de enganar a todos.
Nunca comentei sobre meu pai aqui, mas ele também era um militar, também servia as forças especiais e também esteve na operação carne humana.
Sim, eu era filha de Gideon Welsh, um dos Abutres.
Minha mãe era dona de casa já que sempre morou no campo com meu avô e decidiu que seria mãe em tempo integral de mim e do meu irmão, até que ela veio a falecer pouco tempo depois de eu completar doze anos.
Então éramos apenas eu, meu pai, meu irmão e meu avô.
E claro, a fazenda.
Eu amava a adrenalina de ter visto Dimitri na televisão e saber que meu pai havia participado ativamente daquela e de outras missões muito importantes, então decidi vir para cá e ser policial, só não contava com esse mundo minúsculo em que eu acabaria presa com o filho do parceiro de trabalho do meu pai.
Ao saber disso, meu pai teve uma crise de riso primeiro, depois me fez um milhão de perguntas sobre eu estar sendo corrupta ou conivente com o tráfico, mas depois me parabenizou pelo namoro com um famoso dizendo que eu estava em boas mãos concernente aos meus "sogros".
Queria vomitar, nunca tive que mentir para meus familiares e agora estava mentindo para todo o planeta!
Deus por favor me perdoe...
- Tá pronta aí?
Ouvi a voz de Eros me chamar pelo lado de fora do quarto e eu respirei fundo saindo do mesmo.
Ele me olhou da cabeça aos pés com um sorriso crescente.
- Você é de tirar o fôlego.
Disse ele ajeitando a blusa que eu usava que era a mesma que eu via toda a sua equipe usar.
Tinha a logomarca dele e da academia dele, mas aquela parecia ter sido feita exclusivamente para mim, com um tecido macio e um decote escandaloso.
Eu estava em uma saia curta jeans e ousei colocar um tênis como de costume, não pretendia mudar muita coisa em mim para ser aceita e Eros não pareceu desconfortável, muito pelo contrário.
Ele já estava naquele conjunto que ele sempre usava antes das lutas onde ele já usava o short de lycra que usaria para lutar por baixo e também usava uma camisa de compressão preta com sua logomarca.
- Gostei do que fez em seus olhos... não sei o que é, mas está incrível.
Disse ele provavelmente falando sobre meu delineado e eu senti minhas bochechas esquentarem não tão acostumada com elogios.
Na verdade, nada acostumada.
- Aqui, isso é seu. Use o tempo todo de agora em diante.
Ele me entregou uma caixinha retangular de veludo preto e abriu me fazendo encarar centenas de milhares de dólares naquelas peças que reluziam em minha frente.
O anel era magnífico, assim como as outras peças. Não tinha como ignorá-lo ao colocar os olhos nele, e chacoalhando sua mão direita, Eros me mostrou que já usava o grosso e escandaloso anel brilhante em seu anelar.
- Você parece estranhamente confortável com essa situação.
Confessei o que pensava e ele riu pegando o conjunto da caixinha e me ajudando a colocar cada peça.
- Você subestima muito seu valor, princesa. Verá quando saírmos por aquela porta.
Murmurou ele perto do meu ouvido enquanto colocava o colar em meu pescoço e eu senti todo o meu corpo se arrepiar em protesto.
E depois de encaixar aquele anel exuberante em meu anelar direito ele estendeu sua mão para mim.
- Podemos?
Hesitante, afirmei.