Capítulo 1 - Ressaca

2767 Words
Sophie POV Argh... Aquela dor de cabeça... Tinha bebido tanto ontem que nem mesmo sabia como tinha ido parar em casa. E antes que você me pergunte, não eu não estava comemorando nada. Era mais pelo luto da minha carreira que eu pensava que seria eterna como uma policial interna que apenas trabalhava diariamente em um cargo apenas burocrático. Posso jurar para você que eu nem mesmo lembro como se usa uma arma ou qual é o nome que se dá aos direitos de uma pessoa quando ela está sendo presa. Se é que eu também me lembro quais são esses direitos. Mas aqui estava eu, com um novo distintivo pendendo sobre o meu peito e uma dor de cabeça eletromagnética. E para completar, aqueles que se diziam a minha equipe estavam todos assistindo uma maldita luta de MMA. – Aposto cinquenta no Hades, quem dá mais?! Um dos garotos, um gordinho de cabelos cacheados, bateu com a nota de cinquenta sobre a mesa e logo todos se juntaram a ele apostando em seu favorito. De alguma maneira aquilo estava chamando toda a atenção dos policiais daquela delegacia, então eu precisei parar para ver o que estava acontecendo. E deste lado, no corner vermelho temos ele, de Andover Inglaterra, aos 25 anos, 1,93 de altura, 27 vitórias e nenhuma derrota... o invicto, Hades! O apresentador da luta berrava e cada palavra dita por ele me fazia cada vez mais me arrepender por ter bebido tanto ontem a noite. – Alguém pode por favor diminuir o volume da TV? Pedi encarecidamente mas todo mundo parecia hipnotizado por aquela luta que agora atraía meus olhos. Ers uma disputa importante por um cinturão, pelo menos isso foi o que eu entendi, e tinha um estrangeiro lutando contra o cara que tinha o nome de Hades. Não me leve a m*l, eu sempre assisti lutas desde pequena por meu avô gostar bastante desse esporte e consequentemente me fazendo entender um pouco, mas o que havia de tão interessante assim em ver duas pessoas se batendo? Foi quando eu notei algo, o homem que carregava o pseudônimo de Hades era completamente estonteante. Possuía olhos verdes brilhantes, um cabelo denso e preto todo jogado para trás, um sorriso amplo e impecável e duas covinhas profundas. Sem contar com o físico de invejar. O tipo de homem que nós garotas acima do peso nem nos atrevemos a sonhar sobre. Para a alegria de uns e tristeza de outros, naquele dia Hades foi campeão, carregou o cinturão no ombro enquanto mandava beijos em direção a câmera e todos berravam o nome dele. Contudo, dois dias apenas foram necessários para que a carreira dele começasse a maior de suas crises. E bem, m*l sabia eu, mas eu estaria envolvida nisso até o pescoço. Eros POV – Calma... acalmem-se, meninas! Um dos meus seguranças dizia enquanto me conduzia até o meu carro, mas eu parei para dar alguns autógrafos e tirar algumas fotos. Até mesmo dei a minha camisa para uma delas, a mais feia e histérica, normalmente isso ajudava a manter minha fama de bom moço. – Senhor Zervas, o motorista está a sua espera. Disse o meu agente que carregava algumas das minhas bolsas de equipamentos e eu me despedi daqueles fãs com acenos despretensiosos. A fama precisava de manutenção e bastante trabalho duro. Talento e marketing são bons, mas um verdadeiro famoso é aquele que sabe sustentar sua fama com suas próprias mãos. E por isso eu, Hades o invicto, era tão famoso. – Que dia interminável! Reclamei assim que a porta da van se fechou e meu agente me passou uma garrafa d'água. – O senhor ainda tem o jantar com a sua família, Sr.Eros. Disse ele me lembrando do compromisso que firmei com minha mãe e eu quase arranquei meus olhos fora ao lembrar disso. Eu nunca deixava de sair após uma luta, era a minha maneira de me parabenizar por continuar invicto. Até mesmo meus amigos já sabiam onde me esperar para isso, mas agora eu precisava comparecer a um jantar de família. – Que horas é isso? Perguntei a contragosto vendo o meu agente, cujo o nome era Smith e ele era careca, olhar para o ipad em mãos e depois para o próprio relógio que com toda certeza foi comprado com o dinheiro absurdo que eu pago ele. Vai pensando que ser paparicado assim é barato! Só de pensar nisso me dava desgosto. – Em duas horas, senhor. Ao ouvir aquilo eu sorri ladino e já logo fiz os cálculos de cabeça. Era tempo o suficiente para curtir um pouco e ir direto para o jantar. – Trouxe as roupas que eu te pedi? Perguntei deixando a água de lado e jâ tirando a roupa que eu havia vestido após tomar banho em um dos vestiários do local onde ocorreu a luta. – Sim, senhor. Disse entregando uma sacola de papel em minhas mãos. – Ótimo. Avise a minha mãe que eu vou chegar meia hora atrasado. Sophie POV – A situação é a seguinte... Estava de pé explicando para os policiais que me acompanhariam naquela busca toda a situação. Eles me olhavam ainda com um pouco de descrédito e eu não os culpava muito. Seu superior havia acabado de ser substituído por uma gordinha escocesa que nem ao menos gosta do próprio trabalho. – Recebemos uma denúncia de que uma boate famosinha de Andover está sendo usada como ponto de tráfico de drogas. Expliquei apontando no mapa e depois mostrando uma foto para eles da fachada da boate e todos pareciam prestar bastante atenção agora. – Nosso trabalho hoje é ir até lá e revirar o lugar atrás de provas e de um possível culpado. Depois de explicar tudo e todos se ajeitarem em suas próprias viaturas, eu abotoei meu colete e pendurei meu distintivo com um suspiro. – Delegada Welsh? Uma voz tranquila me chamou e eu olhei para o lado vendo um rapaz n***o e um pouco maior que eu sorrir para mim. Se não me engano, aquele era Tyler Reed. Era um bom policial e um cara muito gente boa. – Tem problema se eu e a Sammy formos na sua viatura? Ele perguntou apontando para uma garota ao seu lado. Seus cabelos ruivos presos em um coque já logo me chamaram atenção e a garota apenas acenou para mim tímida. – Claro que não, me sigam. Respondi até que um pouco feliz por não ter que ir sozinha como ultimamente eu estava tendo que fazer. Digamos que os policiais ingleses não eram os mais receptivos do mundo. Por todo o caminho eles conversaram comigo me perguntando de onde eu vim e elogiando o meu trabalho até agora e isso até me fez sentir bem. Por mais que eu não gostasse muito da ideia de ser líder, até que eu estava lidando muito bem com a coisa toda. E ao chegarmos no local da ocorrência, descemos todos das viaturas jâ chamando uma boa atenção das pessoas que estavam na fila para entrar. Alguns até mesmo pareciam mudar de ideia e quererem ir embora. – Vocês, revistem as pessoas da fila. Nós vamos entrar. Ordenei para um grupo e chamei o outro grupo de policiais para me seguirem boate a dentro. O segurança do local fez menção em me barrar, mas eu mostrei meu distintivo e meu mandato e ele não pode fazer nada além de nos deixar passar. Não era sempre que nos respeitavam, mas quando isso acontecia a sensação era quase que entorpecente. Ao entrar, o local era como uma boate qualquer. Escuro, levemente abafado, com um som ensurdecedor e um cheiro suspeito. As luzes coloridas piscavam e as pessoas dançavam já bem pouco cientes do que estavam fazendo. A primeira coisa a se fazer naquela busca era ir até a administração, apresentar o mandato e depois verificar o local. E passando pelo povo que não parecia se importar tanto assim com a nossa presença, logo estávamos subindo as escadas. – p**a merda, aquele alí é o Hades?! Escutei Sammy dizer e olhando para dentro de uma das salas VIPs que eram todas revestidas de vidro, eu vi o lutador de olhos verdes que havia visto na TV, e na mesa na frente dele estavam blocos de droga prensada. Em seu olhar tinha algo que eu não sabia decifrar e existiam pessoas ao redor dele, mas aquilo já era o suficiente para mim. – Polícia, mãos na cabeça! Bradei ao abrir a porta e todos pareciam ter levado um choque ao me verem, mas principalmente o lutador. Apontei com o queixo para as algemas em meu cinto e Tyler entendeu o recado já pegando as que ele carregava e algemando algumas das pessoas que estavam naquele lugar. Aos poucos percebendo que seu destino seria o mesmo, o único famoso em meio aos demais disse: – Espera, eu não posso sair daqui algemado, isso vai acabar com a minha imagem! Foi a primeira coisa que aquele cara - que era bem maior do que na TV - falou e eu apontei a arma para ele sendo bem mais incisiva que antes. – Mãos para trás agora! Reed, algema ele. Ordenei a Tyler que logo me obedeceu indo até o lutador que me encarava com tanta raiva que parecia que ele era quem portava a arma e não eu. – Você não me ouviu? Eu tenho uma imagem a zelar, não posso sair daqui assim! Repetiu mas agora me encarando diretamente com suas orbes verdes, como se finalmente se desse conta de quem realmente estava no comando alí. – Pensasse nisso antes de virar traficante. Respondi fazendo um aceno com os dedos para levarem ele para a viaturas e ele tentou se debater fazendo com que mais homens tivessem que segurá-lo por ele ser extremamente forte. Não era atoa que ele era campeão mundial. – Eu não sou traficante! Gritou ele e mesmo por cima daquela música alta, ele conseguiu chamar a atenção de algumas pessoas com seu timbre de voz grosso e logo todos estavam olhando e comentando sobre o famoso lutador Hades sendo preso. – Diga isso para o juiz. Comentei seguindo os policiais até a minha viatura onde colocaram o tal lutador preso no banco de trás. – Recolham toda a droga e terminem de vasculhar a área, nós vamos levar esse bonitinho para a delegacia. Alertei ao grupo que ainda revistava o pessoal da fila e eles acenaram enquanto todas as pessoas se amontoavam para ver o famoso que estava preso na viatura. [...] Eros POV – Alô? Respirei fundo ao ouvir a voz entediada de meu irmão, o único que poderia me entender e me ajudar naquele momento. – Linux, é o Eros. Me identifiquei já que estava usando o telefone da mesa daquela delegada rechonchuda que ainda me encarava como se eu fosse um marginal. – Eros? Você sabe que a mamãe vai te esfaquear por você não ter vindo no jantar, né?! Claro, a porcaria do jantar. Aquilo era quase que a religião da nossa família. Todo final do mês precisava ter o jantar de família ou algo r**m aconteceria. – f**a-se esse jantar, eu tô preso! Preciso de um advogado e de dinheiro de fiança! Expliquei irritado e quase pude ouvir ele rindo, mas escutei sua respiração pesada. – Cara você tá morto... Zombou ele sabendo bem que apenas uma palavra deles com relação a isso para nossos pais e eu seria decapitado. Nossos pais eram militares. Não do tipo bonzinhos e aposentados, e sim do tipo que torturam pessoas e cortam cabeças. Minha mãe era coronel, tinha deixado o campo para a área administrativa faziam apenas alguns meses e já estava reclamando da falta de ação. E meu pai era um major doido da cabeça. O cara simplesmente fazia de tudo para matar pessoas ruins. E se eles ao menos suspeitarem que seu filho está preso por tráfico de drogas eles vão me matar antes mesmo que o juiz possa ver o meu rosto. Mas aí é que está, eu não trafiquei coisa nenhuma! Aquilo foi uma armadilha, armaram para mim! – Linux, por favor... Tentei pedir mas já era tarde, ele já tinha desligado a ligação e só sobrara eu e a delegada nos encarando naquele silêncio desgraçado. Sophie POV – Vamos, me diga o que você estava fazendo com... Verifiquei no relatório da busca e suspendi minhas sobrancelhas um pouco surpresa. – ...quinze quilos de pasta base de cocaína em seu camarote? Questionei e vi aquele homem incrivelmente bonito e robusto passar as mãos pelo rosto como se eu estivesse falando um absurdo. – Olha moça, eu sei que você já me viu na TV. Eu sou lutador, não sou traficante! Se defendeu como se aquilo fosse o suficiente para limpar sua barra e eu respirei fundo. – Isso ainda não explica essa quantidade absurda de matéria prima de cocaína em seu camarote. Tentei ser o mais calma possível naquela situação, mas ele era claramente o tipo de riquinho mimado que tira qualquer um do sério. – Armaram para mim! Aposto que foi coisa da equipe rival da minha, eles querem me desclassificar de qualquer forma! Bateu com o indicador sobre a minha mesa e eu dei uma risada incrédula. Era incrivel como esse tipo de pessoa vivia tão no mundo da lua que tudo automaticamente se tornava sobre eles ou que sempre tinha alguém perseguindo eles. – A única coisa que eu vejo aqui é um famoso mau caráter tentando burlar a lei. Você não é o primeiro e nem último a tentar fazer isso! Respondi sabendo bem que ele provavelmente estava mentindo e que parte de sua fortuna foi arrecadada com o dinheiro do tráfico. Ele me olhou com raiva, com os olhos de quem me esganaria se pudesse. – Eu já disse que eu sou inocente! Gritou com raiva batendo os punhos na mesa e fazendo a mesma trepidar. – Acho bom abaixar esse tom de voz antes que eu te prenda por desacato! Ameacei apontando para ele que certamente diria alguma coisa a altura quando uma figura de farda preta apareceu em meu campo de visão. Era um homem alto de meia idade, cabelos levemente grisalhos, uma cicatriz bizarra na boca e olhos escuros. Evidentemente que aquele cara era pai do marginal em minha frente, era inegável. – Sinto muito por isso, delegada. Eu sou pai do Eros. Ele estendeu a mão para mim e eu a apertei percebendo que aquele cara com toda certeza não tinha nada a ver com aquele seu filho insolente que revirou os olhos assim que o viu chegando. – Então o senhor é o Sr. Zervas? Olha, ele não está preso, mas para liberá-lo hoje será necessário um valor em fiança e... Antes que eu explicasse todo o resto sobre ele ainda ser investigado pela polícia pelos próximos dias, os julgamentos, o recolhimento de provas e etc eu fui interrompida. – Está tudo bem, ele vai pagar e também vai cooperar com o que for necessário para a investigação, certo Eros?! O homem mais velho segurava o filho pela nuca e aquilo parecia estar doendo bastante, já que o playboy estava ficando vermelho e desesperado a medida que o pai falava. – Sim! Sim, o que for necessário! Respondeu rapidamente e logo suspirando aliviado ao ter o aperto do pai cessado ao dizer aquelas palavras. – Ótimo. O comissário quer uma busca em suas propriedades e que você seja escoltado em seus afazeres por pelo menos um mês. Li o que o comissário havia digitado para mim e me mandado pelo e-mail e vi os olhos verdes daquele cara se arregalarem. – O quê?! Eu não posso ter policiais na minha cola, eu tenho as minhas lutas! Disse ele completamente desesperado e tanto eu quanto a figura imponente de seu pai cruzamos nossos braços. – Se o senhor se recusar precisaremos te deter novamente. Pontuei e ele cerrou os dentes com raiva. – Isso tudo é culpa sua! Você estava lá, viu que a droga não era minha! Disse ele me culpando por não estar do lado dele. Típico comportamento narcisista. – Tudo o que eu vi está nesse relatório, Sr. Zervas. Reiterei e vi ele sendo erguido pelo pai que parecia estar ainda mais raivoso do que quando chegou. – Não se preocupe, delegada, você e sua equipe serão muito bem vindos em qualquer uma de nossas propriedades a qualquer momento! O mais velho disse obrigando o lutador a concordar e Eros me lançou um olhar feio antes dos dois partirem. Que cara insuportável!
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