2| Essa Tal de Johnson.

1106 Words
Foi tudo tão rápido. Rápido demais. Eu não consegui nem explicar. Para ninguém. Não consegui nem negar. Para aquela mulher cheia de si, dona do mundo, que me olha como se eu fosse estranha demais - na verdade ela quem parece uma estátua, que anda em cima de um par de Prada que custa quase todo o salário do meu estágio. Quando me dou conta, estou dirigindo, sendo guiada pelo GPS do meu celular, morrendo de sono. Eu nem dormi a noite passada, fiquei acordada e quando cochilei, sempre me levantava no susto, como se acabara de ter atropelado de novo o Senhor Whitmore, como se tivesse dirigindo às pressas até o hospital pedindo pra ele não morrer, por favor. Como se ele tivesse escolha, 'há, fui atropelado e quero morrer, mas não vou por que uma estranha não cala a boca me pedindo para não fazer isso' Sem saber aonde deixar meu carrinho sujo de lama, por conta das possas que eu não consegui desviar pelo trajeto, estaciono em frente aos grandes portões, e assim que desço do carro, eles se abrem, e deduzo que é para eu entrar com o carro.  – Ótimo, é para entrar com o carro Jane – digo para mim mesma voltando a entrar no carro e dou a partida, mas o carro morre e eu respiro fundo tentando não pensar em nada, mas o carro pifa mesmo e eu solto um grunhido frustrada apertando o volante. Tiro a chave da ignição e saio do carro, deixando ele bem ali, entre o limite do portão que agora é impedido de se fechar. O segurança que abriu os portões da cabine, vem até mim. Ele é alto, forte, e sério. Me olha com seus olhos verdes como se quisesse saber o que estou fazendo ali vestida de amarelo em plena sete horas da manhã. Mas o que tem de errado? Pessoas se vestem de amarelo o tempo todo, será que é por causa das minhas mangas bufantes de bolinhas pretas?  – Algum problema? – Ele pergunta demonstrando na voz que é muito mais calmo do que a expressão séria que carrega no rosto. Eu sorrio. – O carro é o problema – digo nervosa e ele pede a chave, eu entrego caminhando até lá e dá a partida no carro confirmado que o carro está mesmo com problemas.  – Vou tirar ele daqui. O Senhor Whitmore está esperando – assim que ele me diz, assinto engolindo o seco – Pode entrar lá – ele diz e eu assinto novamente dando as costas, mas dou meia volta para ele.  – Pode dar a minha bolsa? – peço e ele assente pegando a mesma no banco de trás, porém ele hesita arqueando a sobrancelha.  – Isso é sangue no banco de trás do seu carro da senhorita? – ele pergunta e eu arregalo os olhos.  – Oh sim, eu esqueci de limpar... É do Senhor Whitmore, eu atropelei ele ontem, mas devo ressaltar que eu prestei socorro – explico e ele assente surpreso.  – Você é a senhorita Johnson? – Sim.  Ele se cala e por algum motivo sinto um mau pressentimento com o silêncio dele.  – Bom, eu... Vou entrar – anúncio apontando para a casa e ele assente. Dou duas batidas na porta de cinco metros de altura. Literalmente, isso passa longe de ser uma porta, parece mais um portal que pode te levar para outra dimensão. Dimensão da vida de alguém que tem muito dinheiro. Não demora muito para Joanna, a governanta dos cabelos cor de marsala que conheci no hospital, abrir a porta para que eu entre. Ela sorri como se fosse treinada para isso, e não porque realmente ficou feliz em me ver.  – Que bom revê-la senhorita Johnson, me acompanhe, por favor – ela dá as costas acompanhada pelo som de seu par de saltos, caminhando até o centro da grande sala forrada por um grande tapete persa. Joanna hoje usa um vestido vinho com abotoamento frontal num tecido que não é desse mundo, digo, que não é da minha classe. Com certeza não.  – Fico feliz que tenha aceitado o convite.  Convite? Como se eu tivesse tido escolha de estar aqui, ela praticamente me intimidou.  – Lya está no colégio agora, enquanto isso vou explicar tudo o que o Senhor Whitmore solicita para o dia da garota – mordo o maxilar e assinto.  – Ela tinha uma babá antes? – pergunto.  – Não. Nunca tivemos uma babá aqui. A senhora Whitmore sempre cuidou mas infelizmente, faleceu – e aí ela se cala e dá as costas – Fique a vontade, eu vou ver se o Senhor Whitmore precisa de algo – antes que eu possa assentir, Joanna sobe as escadas. Caminho pelo casarão dando passos suaves como se a qualquer momento eu fosse escorregar no piso de mármore limpo sem qualquer tipo de sujeira - eu deveria ter tirado os sapatos? Sim eu deveria. Decido me sentar no sofá que parece me abraçar de tão confortável que é. Checo as mensagens em meu celular e me arrependo. Addam não desistiu de me mandar mensagens pedindo perdão pela traição, como se tivesse esperança de me convencer com um dos seus textos que para falar verdade, não li nenhum. Joanna demora para voltar, então decido explorar a casa e na esperança de encontrá-la, subo as escadas. O corrimão de madeira branca envernizada brilha e eu imagino a garotinha descendo a escada usando ele como escorregador, esse pensamento me faz rir, porém me calo assim que caminho pelo corredor de três portas e hesito antes de b*******a só vez na porta, de onde vem uma voz feminina desgastada e uma rouca que deduzo ser do Senhor Whitmore.  – Eu não quero essa tal de Johnson aqui Joanna, qual o seu problema? Eu sempre cuidei da minha filha. Eu posso muito bem cuidar da minha filha sozinho, você não pode simplesmente colocá-la na minha casa e a deixar ela cuidar da minha filha. Ela é uma estranha!  – Eu entendo senhor, mas você está inválido por enquanto, e a senhorita Johnson irá auxiliar com os cuidados com Lya.  – Cuidados? Ela quase me matou, eu não a quero perto da minha filha nem do meu quarto. Mordo o maxilar, cerrando os punhos.  – Mabel, minha supervisora lá na empresa, disse que a senhorita Johnson era estagiária da WTM, eu quero que ela seja a primeira a ser cortada de lá, eu não faço questão dela aqui, nem arcando com remédio algum.  – Pois bem, eu não queria mesmo estar aqui e já que o SENHOR WHITMORE não precisará de mim, eu mesma me demito – interrompo o diálogo dos dois abrindo a porta bruscamente.
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