Coelho narrando
Minha espinha gelou. Era o sinal. A invasão começou. Me levantei de um pulo.
Beijei a testa dela e saí sem olhar para trás.
Eu tinha que ir pra guerra. Mas antes, tinha que fazer uma coisa. Peguei minha moto e deixei escondida no lugar de sempre.
Jade ia precisar dela para subir quando chegasse. Eu não ia deixar minha irmã desprotegida no meio da invasão. Quando terminei de esconder a chave, saí andando pelas vielas, indo direto pra boca buscar meu colete e meu fuzil.
Mas foi no meio do caminho que eu vi uma cena que me fez travar.
Um dos vapores do Falcão estava conversando com um grupo de policiais.
Na cara dura. No meio do morro. Ele estava entregando algo.
Talvez um trajeto, uma entrada, algum esquema da nossa segurança.
Mas eu não conseguia ver quem era. O filho da p**a estava de costas. Minha primeira reação foi me esconder. Não podia ser visto ali. Mas antes que eu pudesse pensar em agir, um morador passou rasgando de moto na mesma rua onde eu tava escondido.
Foi o suficiente. Os policiais se viraram na minha direção. O vapor saiu correndo sem eu conseguir ver quem era ele.
E os caveiras vieram direto pra cima de mim. A gente não esperava esses doidão aqui, a Pm sim, agora a core e o bope ? p***a, isso era uma mega operação
Naquele instante, só tive tempo de reagir no instinto.
Joguei minha pistola por cima do muro de um morador.
Se eles não me pegassem armado, eu podia tentar me safar.
Podia me passar por morador. Podia e precisava sair vivo dessa.
Eles chegaram me cercando, com as armas apontadas.
E eu comecei a gritar.
— Eu sou morador, p***a! Tão maluco?! Eu sou morador!
Os policiais não caíram na minha.
Um deles já veio me dando um tapa na cara.
Outro segurou meu braço, torcendo com força.
— Tá de s*******m? Acha que a gente é o****o?
Eu gritava mais alto, tentava chamar atenção dos moradores.
Mas não adiantava.
— Cadê a p***a da tua arma, hein, arrombado?! Tá achando que engana quem?!
Eu tava sozinho.
Sem fuzil.
Sem colete.
E com três policiais bem armados na minha frente.
Minha mente gritava pra eu fazer alguma coisa, pra eu sair dali, pra correr.
Mas foi quando olhei para a viela da frente que o mundo parou.
O som de um impacto. O barulho de um motor.
Minha moto. Jade. Ela estava ali. Ela viu tudo.
E antes que eu pudesse reagir, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, antes que eu pudesse avisar pra ela correr…
Dois tiros foram disparados, Só senti o ar sair do meu peito, como se tivessem arrancado minha alma no meio da viela.
A moto da Jade tombou.
Eu ouvi o grito dela.
Mas minha visão já estava escurecendo.
Meu corpo caiu no chão pesado, sem controle, sem força.
O frio tomou conta.
O barulho da rua ficou distante.
A última coisa que vi antes de tudo sumir foi a Jade correndo na minha direção, os olhos cheios de desespero.
Uma rajada de tiros, e então, veio o silêncio enquanto tudo ia ficando escuro na minha frente… e o desespero tomava conta de mim
- irmão, olha pra mim, coelho, não me abandona, p***a - ela gritava nervosa e eu tentava tirar a mão dela de cima de mim
- bora tirar ele daqui, vem- ouvi a voz do falcão e me desesperei - estão mortos, p***a, por que tu tava aqui sozinho c*****o ?- ele grita comigo e sinto ele me levantar do chão
Ele segura de um lado e a jade de outro e eles vão me arrastando para o carro dele. Jade estava em silêncio mas ela parecia mais em alerta do que o normal. Ela tirou uma roupa da bolsa e começou a me amarrar inteiro por onde eu tinha tomado os tiros
- por que você não pegou seu colete primeiro ? Por que ? Eu te conheço, você foi deixar a p***a da moto pra eu subir, e não pensou em você, de novo, e agora ? Como que eu fico ? Que inferno, você não pode me abandonar, não fecha os olhos, Matheus, p***a - ela me xingava dando tapas que pareciam carinhos no meu rosto enquanto seu rosto estava sendo lavado por suas lágrimas e desespero
- te amo irmã, cuida da mãe - eu peço e ela grita desesperada, e pressiona os ferimentos enquanto o carro chacoalhava de um lado para o outro me fazendo sentir ainda mais dor e desespero
Eu ouvia a jade gritar em desespero, os tiros batendo no carro, e ela pressionando cada tiro que eu tomei tentando me proteger
- chegamos, me ajuda a tirar ele daqui - o falcão fala e eu encaro ele
- patrão, tão atrás de tu, eu vi alguém, eu não consegui ver quem era, mas era um soldado, ele tava dando os caminho do morro, sai daqui, ele vai falar do teu carro, sai do hospital - foi eu fechar a boca e uma chuva de tiros começar de novo na entrada do hospital, e mais uma vez nos deixar encurralado
- eu vou sair, eu vou tirar você daqui, confia em mim e não fecha esses olhos - a jade fala e quando os policiais recuam os tiros de forma estratégica ela pulou do banco de trás e foi pra fora do carro com as mãos para o alto, só deu tempo de o falcão gritar ela com um nome diferente e eu apaguei sem conseguir me segurar mais com a dor que atravessava a minha alma