Capítulo 04

2108 Words
Falcão narrando Duas semanas. Duas semanas desde que coloquei os pés naquela boate pela primeira vez. Duas semanas que essa mulher me faz perder a p***a da cabeça. Duas semanas que eu vivo de pó, b****a, e punheta, em uma busca incessante por alívio. Alívio esse que nunca chega, por mais que eu me desespere, eu não consigo chegar no meu alívio, e voltar a viver normalmente, desde a primeira vez que eu coloquei os meus pés naquela maldita boate Toda noite, eu sento na mesma mesa, peço a mesma bebida e fico ali, só observando. Eu não falo, não fodo, não me movimento além do necessário, as putas se jogam no meu colo, e eu não quero, e nem me interesso por nenhuma daquelas ali, enquanto vejo aquela deusa no palco. Então eu só observo. Só deixo meu olhar cravar nela e capturar cada detalhe. A forma como ela dança, como desliza naquele pole dance com a leveza de quem nasceu para isso. O jeito como joga o cabelo e morde os lábios, como se o próprio pecado fosse feito dela. Mas não é só isso. Se fosse só isso, eu já teria esquecido. Eu já teria saído dessa obsessão doentia que me mantém vindo aqui noite após noite, mesmo sabendo que eu não devia. Mesmo sabendo que eu estou arriscando minha identidade, meu nome, minha p***a de reputação. Mas não, essa mulher tem algo diferente. Ela é intocável. Ela não se vende. Ela não aceita ninguém. Isso me deixa maluco. Eu podia ter qualquer mulher naquele lugar. Podia pegar qualquer uma e levar pro quarto, fazer o que eu quisesse, do jeito que eu quisesse. Mas não, eu não quero nenhuma delas. Eu quero ela. Quero arrancar aquela máscara e ver o rosto por trás da “Angel” . Quero descobrir o nome que ela não revela. Quero sentir na pele se esse fogo que ela provoca nos outros é real, ou se é só um jogo que ela aprendeu a jogar bem demais. E o pior de tudo? Eu acho que ela sabe disso. Porque cada vez que os nossos olhares se cruzam, eu vejo o pânico nos olhos dela. Ela sente medo de mim. E eu gosto disso. Eu não sei o por quê dela ter esse medo, mas da pra ver o medo em seus olhos toda vez que ela me encara, mas também o desejo oculto ali Não porque eu sou um sádico. Não porque eu me divirto com o medo. Mas porque significa que ela tem algo a esconder. E tudo que alguém tenta esconder de mim, eu descubro. Eu saio da boate todas as noites com o corpo pegando fogo e a mente em caos. Tentei meter em outras putas, tentei aliviar essa tensão que me consome, mas nenhuma delas é suficiente. Nenhuma chega perto. Sarinha? Saiu machucada. A última que eu tentei meter? Teve que sair chorando, gritando e me chamando de monstro. Nenhuma delas entende que eu não tô ali por elas. Que eu não tô ali pra carinho, nem pra falsidade, nem pra sorrisos ensaiados. Eu tô ali porque não consigo parar de pensar naquela dançarina de merda. Que eu preciso gozar de verdade, que eu preciso parar de fechar os olhos e visualizar aqueles olhos cor de mel feito um letreiro na minha mente A Angel. Maldita “Angel”. Eu estou ficando alucinado, eu não aguento mais, estou me sentindo sufocado, e eu nunca me senti assim antes O Piloto tá numa guerra comigo, por causa dessa p***a das minhas saídas Desde que comecei essa sina de Angel, ele não para de me encher o saco. Quer saber onde eu tô indo todas as noites, quer entender que p***a de missão secreta é essa que virou minha obsessão. Eu nunca fui de sumir assim. Nunca fui de deixar o morro desacompanhado, de largar a responsa pro lado. Mas eu não tô largando p***a nenhuma. Tô fazendo tudo que sempre fiz durante o dia, cuidando da favela, mantendo a tropa alinhada, os negócios rodando. Só que minha noite é sagrada agora. Ninguém me tira daquela boate. E isso tá irritando ele. Porque ele sabe que tem alguma coisa errada. Piloto me conhece desde sempre. E ele sabe que eu nunca fui assim, mas é mais forte que eu, é impossível me controlar, eu sei que não estou no meu normal, eu reconheço isso plenamente Ele me vê voltando puto, toda madrugada, como se tivesse perdido uma guerra. Me vê comendo mulher atrás de mulher e não me satisfazendo. Me vê irritado, impaciente, encostado num canto tragando um baseado e fritando a mente. E ele sabe que tem mulher no meio disso. Mas o que ele não sabe é que não é só mulher. É uma mulher. Angel. A v***a que me fode sem nem encostar. Ele não fala logo de cara, não chega direto no assunto, mas eu sei o que ele quer dizer. Ele quer saber o que tem naquela boate. E, mais que isso, ele quer saber o que eu tenho lá dentro. Porque ele sabe que não sou homem de mudar rotina sem motivo. Não sou de abandonar o morro por qualquer coisa. Não sou de virar um fantasma durante as noites e reaparecer só quando o sol rasga o céu. Ele percebeu. Que há duas semanas, eu não durmo. Que há duas semanas, minha mente tá presa num único lugar, numa única coisa, numa única mulher. E por mais que ele jogue as indiretas, por mais que me provoque, eu não falo. Ele não tem que saber. Ele não pode saber. Porque se ele souber, vai querer ir comigo. E isso, eu não posso permitir. Primeiro, porque alguém tem que segurar o morro. Segundo, porque o Piloto não sabe ficar calado. Ele ia fazer piada, ia abrir a boca no meio do salão, ia tirar uma com a minha cara. Ele ia querer entender o que caralhos uma mulher tá fazendo comigo, que eu não tô conseguindo arrancar ela da minha cabeça. Mas ele nunca vai entender. Porque nem eu entendo. E isso tá me deixando louco. Mas hoje, a p***a explodiu. Eu cheguei no QG, de cabeça quente, com o corpo tenso, com aquela cena de ontem ainda cravada na mente. Ontem tinha um homem em cima dela, e ela saindo do cara, se esquivando como se já estivesse super acostumada com aquilo. Mas quando aquele homem ousou tocar na coxa dela, eu mandei meu segurança puxa-lo pra fora, eu saí logo que acabou o seu último show, eu não deixei ela perceber nada Quando eu cheguei do lado de fora eu bati tanto, mas tanto naquele velho nojento, que eu não sei nem se ele tá vivo ou morto, eu só parei porque uma viatura estava por perto, então eu acelerei de volta para o morro pra não me fuder. Me droguei a noite inteira e to numa ressaca moral do c*****o. Tudo por culpa dela, tudo ela. Eu já tava puto por isso. E o Piloto só precisou de meia palavra pra fazer meu sangue ferver de vez. — Esquece essa p***a de boate hoje. — ele soltou, me cortando no meio de um cigarro, jogado no sofá da sala. Eu levantei os olhos pra ele, estranhando a forma como falou. — Quem é que tá dando ordem aqui mesmo? — minha voz veio carregada de ameaça. Mas ele riu. Riu como se tivesse me esperando reagir exatamente assim. — O próprio filho da p**a que inventou um pagode pra peitar os cana. — ele rebateu, cruzando os braços. — E agora quer sumir da favela e me deixar na linha de frente sozinho. Eu não gostei do tom. Na verdade, eu não gostei de p***a nenhuma. A forma como ele me cobrou, como se tivesse o direito. A forma como ele jogou essa merda na minha cara, como se eu tivesse esquecido. Como se eu fosse um moleque qualquer, e não o dono dessa p***a toda. — Tô cagando pra pagode. — soltei, com frieza. E ele riu mais. — É? Porque até onde eu sei, essa foi a tua ideia. Quem decidiu desafiar os cana no meio da operação foi você. Quem fez questão de marcar esse evento de última hora foi você. Quem falou que ninguém mais ia ficar escondido nessa p***a de morro foi você. Ele se afastou um pouco, mas me encarou de lado, provocativo. — Agora tu vai sair e me largar aqui segurando a bucha sozinho? Eu me levantei, jogando o cigarro no chão e pisando em cima. — Se eu quiser sair, eu saio. A tensão ficou presa no ar. Piloto me encarou, e eu encarei de volta. E por mais que eu seja o chefe aqui, por mais que ele saiba quem manda nessa p***a, eu também sei que ele não vai baixar a cabeça tão fácil. Porque ele me conhece. Sabe que, se eu saio dessa favela todo santo dia e volto como um cão sem dono, então tem algo errado. E ele sabe que hoje, se eu sair de novo, é porque essa p***a já virou um vício. — Tu quer morrer, Falcão? — ele soltou, cruzando os braços. — Se eu quisesse, já tinha morrido há muito tempo. Ele riu de novo. Mas agora sem humor. — Então não vai, c*****o. A p***a toda ficou silenciosa. Eu saí batendo a porta pra fumar um cigarro e aliviar a mente, logo ele veio atrás com a cara fechada Eu estava sem camisa, a vontade, como sempre ando no morro mesmo, tranquilão. Estava passando as ordens para os vapores de como vai funcionar o dia hoje, de como vai fluir o bagulho todo pra nada dar errado, porque eu vou nessa boate hoje. Não vou falar nada com o piloto, mas tá pra nascer quem mande em mim. Principalmente ele. O dono daqui sou eu, e ninguém me impede de nada. Estava passando as ordens quando vi o coelho, meu melhor vapor, o cara é f**a pra c*****o. Ele estava no celular com uma mina, que vira e mexe eu vejo com ele, mas ela tá sempre correndo, nunca vi a cara dessa maluca, ela parece até fugitiva, só fala com ele, vive se escondendo, e é raro vê-la no morro. X9 eu sei que não é, eu já puxei a ficha dela com o coelho, mas que o jeito dela é esquisito, isso é… é muito… Mas uma coisa me chamou atenção naquela ligação, p***a. E ela, e ela c*****o, como assim é a Angel ? Eu surtei. Tentei vigiar a ligação, mas não conseguia ver muito, ela parecia se esconder até na ligação. Mas em um momento os nossos olhares se cruzaram, e eu tive a certeza de que era ela, a minha stripper misteriosa, p***a… - coe chefe, deixa eu levar minha irmã no ponto de ônibus ali ? Rapidão namoral - ele pede e eu já tinha xingado todos os vapores Geral sabe que ultimamente meu humor tá pior que de costume. Mas eu deixei porque queria ver, eu queria vê-la, eu precisava ter certeza, e eu não conseguia acreditar naquilo que acabei de descobrir - irmã ?- eu tiro a dúvida só pra provocar ele - e pô, irmã mesmo, ela tem que ir pro plantão dela no hospital, namoral po, ela tem mo medo de me perder, somos nós dois e minha madrinha só po - ele insiste e eu libero Chamei o piloto cara de cu, pra descer comigo e ir na barreira, só porque eu ia fingir dar ordens lá, mas eu queria mesmo era ter certeza de que era a minha Angel… Fomos pra barreira e quando o coelho passou com ela, eu estava gritando com os vapores dali que estavam fazendo merda, mas eu vi, eu tive a certeza… p***a… é a minha stripper Agora mesmo que eu vou nessa boate hoje e ninguém vai me impedir… Armei todo um plano, e quando falei pro piloto que ia me arrumar pro pagode eu fui em casa e me arrumei pra boate. Eu estava ansioso pra c*****o, não conseguia pensar direito, não conseguia raciocinar, eu estava ficando maluco, só de saber que eu havia descoberto que a minha Angel estava aqui o tempo todo, na minha favela, c*****o Hoje ela volta comigo, hoje nós vamos esclarecer essa p***a toda… Eu esqueci de polícia de tudo, eu só me concentrei quando ela travou ao me ver ali, a sua cara de surpresa entregou toda e quaker dúvida de que eu pudesse ter Fim de jogo pra você, Angel. Continua…
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