🔗 CAPÍTULO 1🔗

924 Words
CAPÍTULO 1 RIO DE JANEIRO CAROLINA Ótimo tudo que eu precisava era me atrasar mais ainda para pegar o LĂ©o na casa da dona Jurema, ela cuidava dele desde que ele tinha dois anos, foi quando eu consegui o emprego que tenho, Ă© o dos meus sonhos? NĂŁo, mas Ă© o que tenho e Ă© com ele que eu sustento meu filho e a pequena casa que eu aluguei na comunidade em que cresci. Moro na Rocinha desde que nasci, meu pai morreu quando eu ainda era nova por uma bala perdida, atĂ© trĂȘs anos atrĂĄs Ă©ramos eu minha mĂŁe e meu filho, mas um maldito cĂąncer a levou de mim tambĂ©m e quando dei por mim eu estava sozinha no mundo com uma criança pequena pra cuidar. Quando eu engravidei do LĂ©o eu tinha apenas quinze anos, eu havia me encantado com um traficante, ele era o homem mais lindo que eu havia visto na vida, ao menos naquela Ă©poca eu achava, seus braços tatuados, a cara de marginal me encantava, ele nĂŁo era de dar bola pras meninas aqui do morro, mas comigo foi diferente ele vivia desfilando comigo na garupa da moto, ele se achava e eu mais ainda, isso atĂ© o dia em que eu disse que estava grĂĄvida, ele simplesmente evaporou, ninguĂ©m achava o Beto em canto nenhum daquele morro, tentei de tudo e nada. Quando o LĂ©o nasceu ele mandou umas coisas na minha casa e atĂ© registrou o menino, mas Ă© sĂł isso que meu filho tem dele o nome e a cara escarrada e cuspida do pai. Pai nĂŁo nĂ©, daquele escroto que me ajudou a fazer ele, mas mesmo assim eu nĂŁo me arrependo do meu filho, ele Ă© tudo que eu tenho, mas se eu pudesse voltar atrĂĄs teria ouvido a minha mĂŁe e atĂ© as vizinhas fofoqueiras que diziam que eu estava me perdendo. E eu me perdi, me perdi no amor, como eu amei aquele i****a, e mesmo separados quando ele foi preso eu sofri, primeiro por que ainda gostava dele e segundo por que com a sua prisĂŁo eu passei a arcar com todas as despesas do LĂ©o sozinha. O Beto sĂł viu o LĂ©o, umas duas vezes isso quando ele era bem pequeno, depois nunca mais olhou pra cara do menino. Nunca ficou com ele em uma crise de febre, tosse, gripe, manha, nada. Mas um dia eu sei que ele vai pagar por isso, ah se eu sei, tem um ditado que minha mĂŁe dizia e Ă© a mais pura verdade, tudo que fazemos aqui, colhemos aqui, nĂŁo precisa morrer nĂŁo, tanto de bom quanto de r**m. Ah que falta minha mĂŁe me fazia, sua voz calma, seu abraço acolhedor. Desço do ĂŽnibus e caminho pela rua que dĂĄ na viela que eu moro, bato na porta da dona Jurema e ela abre a porta aflita. —Ai Carol que bom que chegou, tentei te ligar mas seu celular sĂł dĂĄ caixa postal—ela diz e eu pego o aparelho na bolsa que estĂĄ desligado. —Acabou a bateria, o que aconteceu?—inquiro entrando na casa e vendo LĂ©o nos braços de Bruna a filha dela. —A febre nĂŁo baixa Carol, jĂĄ dei remĂ©dio, banho nada funciona—Jurema diz. —Vou levar ele para o hospital—digo pegando ele dos braços de Bruna. —Eu vou com vocĂȘ—Bruna diz e sai comigo parando um dos carros que costumavam fazer o transporte dos moradores do morro. Se aquele i****a nĂŁo tivesse me prendido eu teria chegado mais cedo e teria levado o LĂ©o para o hospital mais cedo tambĂ©m, se acontecer alguma coisa com o meu filho sou capaz de matar aquele delgado de merda. Demos entrada no hospital geral, e logo estavam fazendo exames nele. —Fica calma Carol, vai ficar tudo bem, o LĂ©o Ă© um garoto forte—Bruna diz me olhando. —Ás vezes eu sĂł queria poder ser fraca, ser forte o tempo todo Ă© esgotante demais, as pessoas começam a pensar que vocĂȘ nĂŁo precisa de nada e que pode resolver tudo, quando na verdade vocĂȘ estĂĄ gritando silenciosamente por socorro, mas eu encontrei uma solução para isso—digo. —Qual?—ela inquire. —Respirar fundo e continuar lutando, porque aquele garotinho lĂĄ dentro nĂŁo pediu pra nascer e nĂŁo pode pagar pela irresponsabilidade dos seus pais—digo e ela me abraça. —VocĂȘ Ă© uma mĂŁe maravilhosa e incrĂ­vel Carol—ela diz. —A mĂŁe de Leonardo Machado Motta—o mĂ©dico diz. —Sou eu Doutor—digo me aproximando. —Bem senhora, seu filho estĂĄ com um quadro de pneumonia grave, mas a notĂ­cia boa Ă© que podemos tratar com antibiĂłticos e os outros remĂ©dios, hoje ele ficarĂĄ em observação, mas o Leonardo precisa ser assistido de perto, decorrente a pneumonia ele pode precisar de vĂĄrias sessĂ”es de inalação durante o dia e medicamentos fornecidos na hora certa—o mĂ©dico diz. —Entendo, posso vĂȘ-lo?—inquiro. —Sim, me acompanhe, a senhora poderĂĄ ficar com ele, mas infelizmente sĂł Ă© permitido um acompanhante por paciente—o mĂ©dico diz olhando para Bruna. —NĂŁo tem problema, eu jĂĄ estou indo, Carol fica com o meu carregador, toma e qualquer coisa me liga—ela diz e me abraça. Caminho para o quarto e vejo meu menino deitado, passo a mĂŁo pelo seu cabelo e respiro fundo, o que eu faria agora? Como eu ia cuidar dele e trabalhar?
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