CAPĂTULO 1
RIO DE JANEIRO
CAROLINA
Ătimo tudo que eu precisava era me atrasar mais ainda para pegar o LĂ©o na casa da dona Jurema, ela cuidava dele desde que ele tinha dois anos, foi quando eu consegui o emprego que tenho, Ă© o dos meus sonhos? NĂŁo, mas Ă© o que tenho e Ă© com ele que eu sustento meu filho e a pequena casa que eu aluguei na comunidade em que cresci. Moro na Rocinha desde que nasci, meu pai morreu quando eu ainda era nova por uma bala perdida, atĂ© trĂȘs anos atrĂĄs Ă©ramos eu minha mĂŁe e meu filho, mas um maldito cĂąncer a levou de mim tambĂ©m e quando dei por mim eu estava sozinha no mundo com uma criança pequena pra cuidar.
Quando eu engravidei do Léo eu tinha apenas quinze anos, eu havia me encantado com um traficante, ele era o homem mais lindo que eu havia visto na vida, ao menos naquela época eu achava, seus braços tatuados, a cara de marginal me encantava, ele não era de dar bola pras meninas aqui do morro, mas comigo foi diferente ele vivia desfilando comigo na garupa da moto, ele se achava e eu mais ainda, isso até o dia em que eu disse que estava gråvida, ele simplesmente evaporou, ninguém achava o Beto em canto nenhum daquele morro, tentei de tudo e nada.
Quando o Léo nasceu ele mandou umas coisas na minha casa e até registrou o menino, mas é só isso que meu filho tem dele o nome e a cara escarrada e cuspida do pai.
Pai não né, daquele escroto que me ajudou a fazer ele, mas mesmo assim eu não me arrependo do meu filho, ele é tudo que eu tenho, mas se eu pudesse voltar atrås teria ouvido a minha mãe e até as vizinhas fofoqueiras que diziam que eu estava me perdendo. E eu me perdi, me perdi no amor, como eu amei aquele i****a, e mesmo separados quando ele foi preso eu sofri, primeiro por que ainda gostava dele e segundo por que com a sua prisão eu passei a arcar com todas as despesas do Léo sozinha.
O Beto só viu o Léo, umas duas vezes isso quando ele era bem pequeno, depois nunca mais olhou pra cara do menino.
Nunca ficou com ele em uma crise de febre, tosse, gripe, manha, nada. Mas um dia eu sei que ele vai pagar por isso, ah se eu sei, tem um ditado que minha mĂŁe dizia e Ă© a mais pura verdade, tudo que fazemos aqui, colhemos aqui, nĂŁo precisa morrer nĂŁo, tanto de bom quanto de r**m.
Ah que falta minha mãe me fazia, sua voz calma, seu abraço acolhedor.
Desço do Înibus e caminho pela rua que då na viela que eu moro, bato na porta da dona Jurema e ela abre a porta aflita.
âAi Carol que bom que chegou, tentei te ligar mas seu celular sĂł dĂĄ caixa postalâela diz e eu pego o aparelho na bolsa que estĂĄ desligado.
âAcabou a bateria, o que aconteceu?âinquiro entrando na casa e vendo LĂ©o nos braços de Bruna a filha dela.
âA febre nĂŁo baixa Carol, jĂĄ dei remĂ©dio, banho nada funcionaâJurema diz.
âVou levar ele para o hospitalâdigo pegando ele dos braços de Bruna.
âEu vou com vocĂȘâBruna diz e sai comigo parando um dos carros que costumavam fazer o transporte dos moradores do morro.
Se aquele i****a não tivesse me prendido eu teria chegado mais cedo e teria levado o Léo para o hospital mais cedo também, se acontecer alguma coisa com o meu filho sou capaz de matar aquele delgado de merda.
Demos entrada no hospital geral, e logo estavam fazendo exames nele.
âFica calma Carol, vai ficar tudo bem, o LĂ©o Ă© um garoto forteâBruna diz me olhando.
âĂs vezes eu sĂł queria poder ser fraca, ser forte o tempo todo Ă© esgotante demais, as pessoas começam a pensar que vocĂȘ nĂŁo precisa de nada e que pode resolver tudo, quando na verdade vocĂȘ estĂĄ gritando silenciosamente por socorro, mas eu encontrei uma solução para issoâdigo.
âQual?âela inquire.
âRespirar fundo e continuar lutando, porque aquele garotinho lĂĄ dentro nĂŁo pediu pra nascer e nĂŁo pode pagar pela irresponsabilidade dos seus paisâdigo e ela me abraça.
âVocĂȘ Ă© uma mĂŁe maravilhosa e incrĂvel Carolâela diz.
âA mĂŁe de Leonardo Machado Mottaâo mĂ©dico diz.
âSou eu Doutorâdigo me aproximando.
âBem senhora, seu filho estĂĄ com um quadro de pneumonia grave, mas a notĂcia boa Ă© que podemos tratar com antibiĂłticos e os outros remĂ©dios, hoje ele ficarĂĄ em observação, mas o Leonardo precisa ser assistido de perto, decorrente a pneumonia ele pode precisar de vĂĄrias sessĂ”es de inalação durante o dia e medicamentos fornecidos na hora certaâo mĂ©dico diz.
âEntendo, posso vĂȘ-lo?âinquiro.
âSim, me acompanhe, a senhora poderĂĄ ficar com ele, mas infelizmente sĂł Ă© permitido um acompanhante por pacienteâo mĂ©dico diz olhando para Bruna.
âNĂŁo tem problema, eu jĂĄ estou indo, Carol fica com o meu carregador, toma e qualquer coisa me ligaâela diz e me abraça.
Caminho para o quarto e vejo meu menino deitado, passo a mĂŁo pelo seu cabelo e respiro fundo, o que eu faria agora? Como eu ia cuidar dele e trabalhar?